Coronavírus

A idade, outro fator de discórdia na Europa sobre a vacina da AstraZeneca

A Agência Europeia de Medicamentos defendeu que vacina seja administrada em adultos de todas as idades. Alemanha, no entanto, desaconselhou para maiores de 65 anos

Araceli Hidalgo, 96 anos, primeira vacinada contra Covid na Espanha - Borja Puig de la Bellacasa/La Moncloa/AFP

bjeto de polêmica comercial com a UE, a vacina da covid-19 da AstraZeneca também gera um debate científico, que levou alguns países a desaconselhar sua aplicação em idosos, contrariando as recomendações europeias. 

A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) defendeu na sexta-feira que essa vacina seja administrada em adultos de todas as idades. No entanto, na quinta-feira, a Alemanha foi o primeiro país a desaconselhar seu pedido aos maiores de 65 anos. Segundo as autoridades sanitárias, "não há dados suficientes" sobre sua eficácia entre essas pessoas. 

O Comitê Nacional de Vacinação da Áustria assumiu o mesmo posicionamento no domingo.

A agência italiana de medicamentos recomendou, por sua vez, no sábado, aplicar a vacina preferencialmente em "pessoas entre 18 e 55 anos".

Para as "pessoas mais velhas e/ou mais frágeis", aconselhou "o uso preferencial de vacinas de RNA mensageiro", da Pfizer/BioNTech e Moderna. 

A Alta Autoridade de Saúde da França se pronunciará na terça-feira sobre o assunto. 

Na Espanha, o Ministério da Saúde afirmou, questionado pela AFP, que o assunto estava sendo "estudado".

- Ausência de testes -
Essas recomendações não significam que a vacina AstraZeneca seja ineficaz em idosos, mas que não pode ser avaliada com os dados atualmente disponíveis. 

"Não devemos confundir ausência de testes com teste de ausência" de eficácia, resume o especialista inglês em vacinas, Dr. Peter English, citado pela organização britânica Science Media Centre. 

As ressalvas devem-se à forma como os ensaios clínicos da vacina foram conduzidos. 

A EMA deu sua autorização após avaliar os testes realizados de maio a junho no Reino Unido e no Brasil, entre 11 mil voluntários. A maioria tinha entre 18 e 55 anos e menos de 1.500 tinham mais de 55 anos, dos quais apenas 450 tinham mais de 70.

Embora a eficácia geral desta vacina seja avaliada em cerca de 60%, ainda "não há resultados suficientes entre os participantes com mais de 55 anos de idade para ter um número entre esta faixa etária", admitiu a EMA. 

"No entanto, acreditamos que haja proteção, devido à resposta imune observada neste grupo e com base na experiência com outras vacinas", argumentou.

Portanto, a Agência julgou que essa vacina "pode ser usada em idosos", como já acontece no Reino Unido. 

No dia 4 de janeiro, este país foi o primeiro do mundo a autorizar esta vacina de vetor viral, resultado de uma colaboração entre a farmacêutica anglo-sueca AstraZeneca e a Universidade de Oxford, uma das mais prestigiadas do país.

- Estudos em andamento -
"Teremos mais informações graças aos estudos em andamento, que incluem uma proporção maior de participantes mais velhos", segundo a EMA. 

Enquanto isso, afirma que "os dados dos testes clínicos atualmente disponíveis não permitem estimar a eficácia da vacina entre pessoas com mais de 55 anos de idade". 

Este debate científico ocorre em um contexto de tensão com a AstraZeneca, já que a farmacêutica foi alvo de comentários de líderes europeus devido ao atraso nas entregas. 

Os testes das vacinas Pfizer/BioNTech e Moderna, as outras duas licenciadas na Europa, tiveram um número mais representativo de pessoas com mais de 75 anos. Mas, acima dessa idade, a proporção também é baixa.