Missão da OMS na China não dará resultados rápidos, segundo especialista
A visita é politicamente sensível para o regime chinês, que tenta se esquivar de qualquer responsabilidade pela origem da pandemia
A investigação da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a origem da Covid-19 levará tempo e seus resultados não serão conhecidos rapidamente, declarou à AFP o Dr. Hung Nguyen-Viet, um dos especialistas internacionais presentes em Wuhan, berço da pandemia que assola o mundo.
Hung Nguyen-Viet é um dos doze especialistas que chegaram à China no mês passado para investigar a origem do vírus em Wuhan, no centro do país, a primeira cidade em que uma quarentena foi decretada, em janeiro de 2020.
A visita é politicamente sensível para o regime chinês, que tenta se esquivar de qualquer responsabilidade pela origem da pandemia que já causou mais de 2,2 milhões de mortes no planeta.
Os especialistas iniciaram a investigação na semana passada, após cumprirem uma quarentena de 14 dias, mais de um ano após os primeiros casos, o que torna pouco provável que encontrem muitos vestígios das primeiras transmissões virais.
"É claro que o ideal é fazer o estudo no momento ou imediatamente depois", admitiu Hung Nguyen-Viet em entrevista por videoconferência à AFP.
A investigação visa entender como o coronavírus foi transmitido do animal para o ser humano.
Esta é uma "questão difícil e de uma investigação difícil", ressaltou o especialista, co-diretor do programa de saúde humana e animal do Instituto Internacional de Pesquisa Pecuária de Nairóbi.
Missão breve
"É improvável que depois de uma missão tão curta tenhamos um entendimento muito preciso ou respostas definitivas", alertou o médico formado na França.
A missão deve terminar antes do feriado do Ano Novo Chinês, que este ano começa em 11 de fevereiro.
"Acho que temos de ser pacientes. Estamos em um processo e precisamos de tempo e esforço para entender" o que aconteceu.
Desde que chegou a Wuhan, a equipe da OMS visitou os hospitais que trataram os primeiros pacientes com Covid-19 e o mercado Huanan, onde animais selvagens eram comercializados vivos e onde os primeiros mortos conhecidos da epidemia costumavam fazer compras.
"Fomos informados do contexto e dos diferentes casos detectados no mercado", explicou o Dr. Nguyen-Viet. "Isso me ajudou a reconstruir os acontecimentos e entender melhor o contexto desse mercado", acrescentou.
Cavernas excluídas
A equipe visitou nesta quarta-feira o Instituto de Virologia de Wuhan, acusado pelo ex-presidente americano Donald Trump de ter deixado o vírus escapar de seus laboratórios, acidentalmente ou não.
Nguyen-Viet afirmou que no instituto foi organizado "um encontro interessante" com a virologista Shi Zhengli, apelidada pela imprensa de "Batwoman" por sua pesquisa sobre os coronavírus procedentes de morcegos.
Em contrapartida, os pesquisadores não poderão visitar as cavernas na província de Yunan, no sudoeste, onde um coronavírus muito semelhante ao da Covid-19 foi descoberto em 2013, de acordo com um estudo de Shi.
Os cientistas levantam a hipótese de que o vírus foi capaz de passar do morcego para o ser humano através de um mamífero intermediário.
Durante a missão, os pesquisadores tiveram o direito de visitar uma exposição sobre a luta heroica dos habitantes de Wuhan contra o vírus que glorifica o Partido Comunista Chinês.
Nguyen-Viet, que trabalhou para o Instituto Suíço de Saúde Pública e Tropical, está ciente da pressão política e da mídia em torno da missão.
"Mas somos um grupo de cientistas e trabalhamos com um tema científico", disse. "Concentramo-nos no nosso trabalho", concluiu.