Ianah Maia assina exposição virtual sobre afetividades em tempos de pandemia

Artista plástica pernambucana explora por meio de poesias e imagens, autorretratos e sentimentos reais voltados às mulheres negras

No dia convencionado aos namorados em 2020, Ianah Maia se convidou para jantar, dançou e dormiu consigo mesma, e se fez juras de amor eterno. Em outro momento, esbanjou ironia alternando entre os embaraços dos cotidianos virtuais e o essencial de “olhar nos olhos, conhecer cheiros” e matar vontades em um mundo real.

O mote de tudo isso? A afetividade, como ideia central de um projeto em cartaz na exposição “Me Apaixonei pelo Filtro que eu Projetei em Você” que traz uma série de autorretratos e vivências de sentimentos trazidos à tona e simbolizados em formato de poesias e imagens no seu Instagram (@ianah_). 

“Desde 2008 investigo mais profundamente afetos na arte, sob a perspectiva da mulher negra, que passa por caminhos de solidão e preterimento. Não é diferente do que acontece comigo, e quando falo dos meus afetos também estou falando para outras mulheres”, conta a artista plástica pernambucana que, por meio da Lei Aldir Blanc, efetivou na prática a ideia de questionar a própria existência em tempos de pandemia e distanciamento social.
 

“Essa exposição em específico trata a respeito do que vivi durante a quarentena, inclusive os afetos comigo mesma e não só com outras pessoas. Andei questionando muito esse lugar, dessa hierarquia que a gente coloca dos afetos e me coloquei também como um objeto de amor”, complementa Ianah, cuja inspiração feminista vem das leituras que faz da autora americana Bell Hooks, conhecida por lidar com o afeto como forma de empoderamento.

A compilação de sentimentos presente na exposição de Ianah Maia - que artisticamente circula há algum tempo com trabalhos que mesclam pinturas, arte urbana, animações e autorretratos fotográficos - segue até este mês de fevereiro, com postagens poéticas semanais que exalta sensações negras vividas em um “novo normal”, que ela espere que seja breve.

“Que a gente consiga o contato olho no olho de maneira mais fluida, sem que precisemos calcular os nossos encontros. Embora a internet tenha aberto novas possibilidades, fazendo parte de nossa convivência”, pontua Ianah, que se utilizou de uma variedade de possibilidades para empreender a exposição. 

 

“Todas as formas que foram possíveis de ser vividas diante do contexto de isolamento social, entre elas mensagens no WhatsApp, salas de conferência e os poucos contatos físicos, perfazem o projeto, que dialoga entre o campo real e virtual, ressaltando o lugar de desumanidade em que o povo preto é colocado e até a negação do direito de viver essas afetividades. Falar sobre afetos é uma forma de cura”, 

Embora produzido efetivamente durante a pandemia, há algum tempo Ianah Maia capta emoções em trabalhos que trazem afeições como pontos de partida para o seu fazer artístico. O período, inclusive, transformou seus momentos ociosos em criação.

“Minha diversão era pintar e desenhar, criar de alguma maneira. Comecei a escrever muito também, com poesias como novidade dentro do meu trabalho e foi algo que já desenvolvia e soltei mais na pandemia”, conta ela que também está envolvida com movimentos como o Leilão em Chamas e o coletivo nacional Trovoa, entre outros "levantes artísticos".

 “Tudo isso me estimulou muito a produzir em 2020. “O período me fez largar mais a tatuagem e dar uma guinada na pintura. E neste ano espero executar um projeto do Funcultura que envolve arte em murais por várias cidades de Pernambuco,  mas depende de toda a situação sanitária que estamos vivendo. Quero também dar continuidade ao ‘Me Apaixonei pelo Filtro que Projetei em Você’, talvez em formato de livro... Projetos futuros, porque 2021 segue ainda como um ano difícil de se planejar”.

Serviço
Exposição virtual “Me Apaixonei pelo Filtro que eu Projetei em Você”, por Ianah Maia
Disponível no Instagram @ianah_
Gratuito