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Exposição resgata trabalhos do pintor Manoel Bandeira

Mostra entra em cartaz nesta segunda (8) no Shopping Center Recife

Evento exibe croquis produzidos pelo artista - Foto: Fundaj/Divulgação

Não é surpresa que se confunda o pintor Manoel Bandeira (1900—1964) com o poeta, seu famoso homônimo, cuja única diferença entre os nomes está na letra ‘u’ que marca o Manuel do escritor. Natural de Escada, na Mata Sul de Pernambuco, o artista visual fez história nas primeiras décadas do século XX.

É ele a estrela da exposição “Carnaval: Nassau, frevo, cana e caju”, que estreia  nesta segunda-feira (8) no Piso 1 do Shopping Center Recife. Promovida pela Fundação Joaquim Nabuco, a mostra segue em cartaz até o próximo dia 17.

“Bandeira assumiu uma característica inédita no seu trabalho, a partir de volumes de pintura mais chapados, onde podemos perceber linhas mais retas compondo com planos coloridos, livres dos grandes detalhamentos dos seus desenhos a bico de pena, traduzindo elementos ligados a uma identidade pernambucana em sínteses gráficas que nos remetem a uma linguagem ainda mais moderna.”, explica Rodrigo Cantarelli, um dos curadores da exposição.

Ele teve seu talento reconhecido por nomes como Gilberto Freyre, que o convidou para ilustrar o Livro do Nordeste, em 1925, e a primeira edição do clássico Sobrados e Mocambos, em 1936. Anos mais tarde, em 1957, foi o responsável pelas ilustrações de Lobisomem da Porteira Velha, do folclorista Jayme Griz.

Bandeira foi um dos pioneiros no designer de moda no Estado. Também ganhou destaque como desenhista na indústria gráfica. Ainda assim, o pintor é pouco lembrado em âmbito nacional pela crítica especializada, o que Cantarelli credita ao fator territorialidade. “Esse pouco reconhecimento, talvez, se dê muito em função de um mal que acomete muitos artistas que não se transferiram para o eixo Rio-São Paulo e fizeram carreira em outras capitais do País. Ele também foi um grande seguidor das ideias regionalistas defendidas por Freyre, por isso registrou manifestações da chamada cultura popular, num momento de valorização desses elementos”, disse. 

A pesquisadora Rita de Cássia, que também assina a curadoria, aponta o amor do artista pela sua terra Natal. À época, inclusive, os Carnavais, em que Bandeira costumava desenhar fantasias, já tomavam conta da região. “Normas, regulamentos e repressão policial pareciam não mais bastar para controlar a multidão que se esbaldava no frevo”, comenta.

Manoel se destacou, também, na documentação de edificações históricas de inúmeros municípios pernambucanos. Produziu, ainda, uma série em que desenhou personalidades como Joaquim Nabuco, Frei Caneca e Henrique Dias. Segundo artigo da pesquisadora Semira Adler Vainsencher, da Fundaj, certa vez perguntaram ao pintor o porquê de não mudar para o Sudeste do País, a fim de “triunfar na arte e ter uma vida melhor”. Ele teria respondido: “porque não posso levar meu Recife e sem ele não posso viver”.

Na exposição em cartaz no Recife, são exibidos desenhos de fantasias de Carnaval produzidas pelo artista, em 1938, para o Anuário do Carnaval Pernambucano. Apresentam-se, assim, a geometrização das formas a partir de combinação retas e curvas, linhas e preenchimentos. De acordo com a curadoria, há ares de xilogravura, mas também de Art Déco e outras vertentes modernas. A mostra integra a programação do Carnaval de Todos os Tons, evento multiplataforma da Fundação Joaquim Nabuco.