Não existe lobby, direcionamento ou conluio por vacina russa, diz líder do governo
A União Química é a empresa que fabricará a vacina russa no Brasil
O líder do governo Bolsonaro na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), disse nesta sexta-feira (05) que não há lobby ou "direcionamento político" para a compra da vacina russa Sputnik V. O deputado também negou um "suposto conluio com os representantes locais do imunizante".
Reportagem publicada na quinta (04) pela Folha de S.Paulo mostrou o intenso lobby político dos fabricantes da vacina no Brasil para tentar garantir, pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), a liberação do uso emergencial na pandemia. A ofensiva incomodou os diretores da agência e gerou reação por parte do diretor-presidente, Antonio Barra Torres.
"A Anvisa tem 22 anos. Nesses 22 anos, pouquíssimas vezes houve necessidade de tamanha movimentação política. E é necessário isso? Não é, porque no final quem define são os técnicos", afirmou Torres.
A União Química é a empresa que fabricará a vacina russa no Brasil. O responsável pelo lobby é o ex-deputado federal pelo PSD e ex-governador do DF Rogério Rosso, que exerce o cargo formal de diretor de Negócios Internacionais da União Química. Ele segue filiado ao PSD.
Rosso busca constantemente deputados e senadores -em especial do centrão, seu campo político- e tem interlocução direta no governo da Bahia, do PT, o primeiro a enxergar viabilidade na Sputnik V. O líder do governo é um dos principais interlocutores de Rosso no Congresso. O lobista da União Química também já esteve em pelo menos duas reuniões da Anvisa.
O líder do governo negou ter ele próprio praticado qualquer tipo de lobby em defesa da Sputnik. Em nota divulgada após a publicação da reportagem, o deputado afirmou "estar lutando, assim como outros deputados no Congresso, para a liberação das (até então) 11 vacinas já existentes no mundo e que poderão salvar vidas em meio à pandemia do novo coronavírus".
Uma prova disso, segundo Barros, é uma emenda de sua autoria a MP (medida provisória) para permitir autorização temporária de vacinas que já tenham passado pelo crivo da "Anvisa" da Índia.
O líder do governo também propôs um projeto de decreto legislativo para derrubar a exigência de realização da fase 3 de ensaios clínicos no Brasil, como condição para autorização emergencial de um imunizante. No mesmo dia, a Anvisa alterou as regras, flexibilizando essa exigência. Agora, são aceitos testes feitos em outros países, o que beneficia diretamente a Sputnik V.
"Houve antecipação da Anvisa ao decreto legislativo, confirmando a não necessidade emergencial de tal procedimento (fase 3 de testes em humanos) e assim permitindo ao Ministério da Saúde a compra das vacinas Sputnik e Covaxin para testes autorizados no Brasil", cita a nota do líder do governo.
Nesta sexta, após reunião com representantes da União Química, o Ministério da Saúde informou que poderá comprar 10 milhões de doses importadas da Rússia. A compra da vacina está condicionada a uma autorização de uso emergencial pela Anvisa e a preços "competitivos", segundo a pasta.
A atuação do líder do governo, com emenda que inclui um instituto indiano, reforça que não há lobby ou conluio para a vacina russa, conforme a nota divulgada.
"Rogério Rosso é diretor de relações institucionais da União Química, não é lobista. O ato da Anvisa (de flexibilizar as regras para uso emergencial) reforça um entendimento em comum de que, pelo bem da nação brasileira, é preciso sim simplificar processos para que a vacinação chegue ao maior número de brasileiros possível, no menor prazo possível", diz a nota.
A União Química, também em nota divulgada nesta sexta, afirma que Rosso "tem exercido com a máxima responsabilidade e transparência suas funções executivas".
Segundo a empresa, o ex-deputado foi contratado em março de 2019 para ser diretor de Negócios Internacionais. "Antes da vida pública, Rosso desenvolveu, como executivo, atividades comerciais, institucionais e na área internacional e de exportações de grandes multinacionais", diz a nota.
Antes da pandemia, o ex-parlamentar viajou a mais de dez países para buscar oportunidades à União Química, segundo a nota. "Em 2020, com o surgimento da pandemia, iniciou as tratativas com o governo russo para desenvolvimento e produção da vacina Sputnik no Brasil."