Comportamento dos pequenos sob atenção durante a pandemia
A nova rotina desencadeia problemas de desenvolvimento em crianças, que precisam de orientação para superar fase
A pandemia mexeu com a vida de muita gente em diversos aspectos, e as crianças não ficaram de fora disso. Com muitas ainda sem aulas presenciais e impossibilitadas de conviverem com os colegas em uma sala de aula, além de não conseguirem sair para brincar, a nova rotina não só impôs uma forma diferente de passar o tempo, como também impulsionou e intensificou alguns problemas de desenvolvimento.
(PODCAST) Canal Saúde - O impacto da pandemia na saúde mental das crianças
Um estudo realizado na China com 320 crianças e adolescentes apontou preocupação, problemas de sono, desconforto e agitação como alguns dos efeitos comportamentais mais evidentes. Mesmo que ainda não existam dados sobre o Brasil, o psiquiatra Oscar Gomes Neto confirma que a pandemia desencadeou alguns problemas sociocomportamentais. "No ano passado, o número de crianças ansiosas, com dificuldade na socialização e dependentes das telas cresceu. A pandemia, a mudança na rotina, principalmente a ausência do convívio com outras pessoas da mesma idade, desencadeou um uso abusivo das telas”, explica Neto.
Com 28 anos, a manicure Bianca Carneiro, que tem três filhos, ficou diante de novos desafios na educação dos filhos. “São três crianças, duas meninas, uma de 8 e outra de 5 anos, e um menino de 3 anos. Ficaram sem escola, e eu contei muito com a ajuda da televisão e do celular para dar conta de trabalhar e cuidar deles. Mas por terem idades próximas, de certa forma, eles ainda podiam brincar juntos, que é algo que eles sentiram falta na escola”, afirmou.
No entanto, Bianca contou que a filha mais velha, por ter mais idade, à medida que o tempo passava, passou a questioná-la sobre o que acontecia. "Por que estamos sem aula se as férias acabaram há pouco tempo?", "Por que temos que usar máscara?", "Por que temos que lavar as mãos e passar álcool em gel?" e "Por que a gente não pode ir para a casa de vovó?" foram algumas das perguntas que a manicure mais ouviu.
“Eu tentei explicar para ela o que estava acontecendo com o mundo. E confesso que fiquei com receio de não fazer a coisa certa. Porque às vezes se tratavam de dúvidas que eu também tinha, então eu primeiro tentava entender e depois tentava explicar de uma forma que ficasse simples para ela”, contou Bianca.
O psiquiatra Oscar Gomes Neto esclarece que o ideal é mesmo contar a verdade para os pequenos, sempre respeitando a capacidade de entendimento. “É fundamental ser sincero com as crianças e tentar explicar o que está acontecendo, e isso vale não só para a pandemia, porque já começa a desenvolver a conscientização delas", esclarece. "A faixa etária deve ser respeitada, para isso vale ser lúdico e didático, sem precisar ser fantasioso. O importante é sempre conversar quando surgir alguma dúvida", complementou o profissional.
Um outro ponto importante destacado por Gomes é sobre o luto. Se a família perdeu alguém, seja por conta da Covid ou por outro motivo, isso precisa ser explicado para a criança. "A criança precisa se expressar diante desse sentimento, que pode ser novo para ela", expõe. O psiquiatra cita ainda que as famílias também podem explorar a religiosidade, dependendo da crença, usando palavras do universo conhecido pela criança para que ela compreenda.