Candidato da situação, Roberto Freire prega austeridade e faz ressalvas à reforma do estatuto
Candidato da chapa “Tradição de Vitórias, Crescimento e União” aposta na continuidade para "mudar de patamar"
Representante da situação nas eleições do Santa Cruz, que acontecem nesta quarta-feira (10), o engenheiro Roberto Freire tem sido um nome recorrente nas gestões do clube há mais de duas décadas. Entre os cargos mais recentes ocupados por Freire no clube estão os de diretor do Núcleo de Gestão do clube e membro da Comissão Patrimonial.
Candidato à presidência do clube pela chapa “Tradição de Vitórias, Crescimento e União”, Freire vê um eventual mandato como uma continuidade que, segundo ele, pode ser benéfica ao Santa Cruz. Para Freire, que participou ativamente na gestão Constantino Júnior, o modelo ideal para o clube consiste numa “estrutura mista”, mesclando características de gestões empresariais e, ao mesmo tempo, mantendo a estrutura de associação esportiva.
A reforma do estatuto, reivindicação que tem ganhado força entre os torcedores, é vista como uma “obrigação”. Freire, entretanto, aponta ressalvas, cita, negativamente, os exemplos de Bahia e Fortaleza, que “brigam contra o rebaixamento” na primeira divisão do Campeonato Brasileiro e se posiciona contra o voto para todas as categorias de sócios.
Em relação às finanças do clube, Roberto Freire prega austeridade e afirma que “precisa ser conservador” para equilibrar as contas.
A entrevista com Roberto Freire é a última de uma série de entrevistas que a Folha de Pernambuco publica com os três candidatos. Os postulantes ao cargo máximo do executivo do Santa expuseram suas intenções e propostas que devem guiar a nova gestão no triênio 2021-2023. Na última sexta-feira (5), publicamos uma entrevista com Joaquim Bezerra, da chapa "Pró-Santa"; na segunda (8), foi a vez de Josenildo Dody, da chapa “A Voz da Arquibancada”. O critério para a definição das datas foi a ordem alfabética.
Folha de Pernambuco - Quais os motivos que o levaram a se candidatar à presidência do Santa Cruz?
Roberto Freire - Em 2018, quando Constantino Júnior assumiu a presidência, fui convidado a elaborar um plano de gestão para o Santa que trouxesse uma estrutura mista, com características de gestão empresarial, mas mantendo a origem de associação esportiva.
Iniciamos um processo de conhecer o que a gente estava mexendo, porque o Santa Cruz tinha uma estrutura muito precária. Nossa primeira atitude foi implantar um sistema de controle e gestão do clube, a partir daí, começamos a fazer todos os processos de estruturação gerencial do clube. Estudamos a dívida, estruturamos os departamentos jurídico e de marketing. Mas há muitas coisas que ainda não foram feitas e, por isso, é preciso continuidade.
A curto prazo, quais são os objetivos imediatos da gestão no que diz respeito ao futebol?
Já temos uma plataforma de gestão montada. Ela é divida em três pilares: a administração do passivo; investimentos no patrimônio, com a adequação do estádio e a conclusão do CT; e a criação de uma infraestrutura de informação para os atletas da base. Desses três pontos, já andamos muito, principalmente com relação à estrutura para oferecer uma melhores condições à base. Com relação ao patrimônio, a gente vinha enfrentando uma crise financeira tremenda e, quando conseguimos equilibrar, veio a pandemia e voltamos à estaca zero. Tínhamos associações com parceiros, que iriam fazer os investimentos, mas isso ficou para outro momento.
Hoje precisamos colocar mais dois pilares nessa plataforma. O principal é resolver o conflito geracional que há no Santa; há um entendimento de que “quem é mais antigo é velho e não serve mais, o que é bom é novo”. Isso é uma coisa absurda. Se você se posicionar do lado de que quem é mais conservador em relação ao clube, você é taxado de “dinossauro”, de “velho”; se você se posicionar do lado da geração mais nova, você é considerado “inexperiente”, “despreparado”. Isso é muito complicado, temos que encontrar uma forma de resolver isso.
O outro pilar é a despersonificação da gestão. O Santa só pode ser construído com várias mãos, qualificadas, trabalhando. Um outro desafio é construir uma equipe de trabalho que tenha disponibilidade e conhecimento sobre o que está fazendo.
Como você espera entregar o Santa Cruz no final de uma eventual gestão?
Hoje vivemos uma incerteza muito grande no mercado; todos os setores da economia estão sofrendo, são raros os que estão prosperando, então temos que ser conservadores. Espero entregar o Santa com uma dívida bem menor e com uma estrutura de gestão profissional. Se a gente fizer isso, levando em consideração o momento econômico, vamos entregar o clube preparado para mudar de patamar.
Em relação à saúde financeira do Santa: quais as estratégias que sua chapa tem para diminuir o passivo e aliviar as contas do clube?
O primeiro passo é não aumentar a dívida, que a gente já conseguiu reduzir. Hoje o maior passivo do clube é o trabalhista, precisamos escolher os casos mais graves e começar a tratar eles mais de perto. Para diminuir, não há outra estratégia que não seja a negociação. O segundo maior passivo é o tributário, que oferece vários mecanismos para que ele se torne uma dívida de longo prazo.
Para equilibrar as contas precisamos aumentar o faturamento, ter austeridade nas despesas e criar um sistema de negociação com os credores.
Como sua chapa pretende construir o elenco e a comissão técnica tendo em vista que a primeira competição da temporada (o pernambucano, talvez a Copa do NE) já deve começar no final de fevereiro? Haverá negociação com os atletas que atuaram em 2020? E com o técnico Marcelo Martelotte?
Do elenco do ano passado, 18 atletas vão ficar. Temos mais 12 que sobem da base em condições de jogo. Então já temos um time pronto, por isso faremos apenas contratações pontuais para fortalecer a equipe.
Na nossa gestão o futebol será conduzido por Osmundo Bezerra [candidato à vice-presidência] e por Rogério Guedes [ex-diretor das categorias de base]. Entreguei a eles um orçamento que precisa ser cumprido. Claro que prefiro que Marcelo [Martelotte] fique, mas ele precisa se encaixar nesse orçamento, que é menor que o de 2020.
Como você avalia a situação atual das divisões de base do Santa Cruz? Quais são os planos traçados pela sua chapa para as categorias de base?
Durante a última gestão foi criado o que chamamos de Núcleo de Inteligência do Futebol. Compramos vários softwares e equipamentos que medem o desempenho dos atletas.
Hoje, precisamos dar à base a estrutura que os profissionais têm. Nesses próximos anos certamente vamos oferecer uma concentração própria, assim como refeitórios, academia e um local para treinamentos. Para isso, precisamos atrair parcerias. Temos um fundo de investimentos nas categorias de base e precisamos ampliar a quantidade de participantes.
Atualmente, o Santa Cruz é o único clube do trio de ferro que não possui uma equipe de futebol feminino. Você considera isso um problema? Se sim, existem planos para resolver essa questão?
É uma obrigatoriedade. Até 2019 nós tínhamos uma parceria com o Vitória e estávamos disputando a Série A do Campeonato Brasileiro. Para atender essa demanda, não há outra alternativa que não seja buscar parcerias. É preciso entender que ainda não temos uma estrutura adequada no futebol profissional e para a base. Como vamos criar uma estrutura independente para o futebol feminino?
Uma das promessas não cumpridas da gestão Constantino Júnior foi a reforma da fachada do Arruda. Como vocês pretendem atuar para melhorar a manutenção do patrimônio do clube, especialmente do Arruda?
A Comissão Patrimonial do Santa está com todos os projetos de readequação do estádio prontos e em tramitação nos órgãos de registro legal. Todo mundo fala dessa questão da fachada como se fosse resolver de uma hora para outra, como se fosse um bolo que o cara chega em casa, pega a farinha, a manteiga, o leite e fala: “vou preparar agora”. Não é assim.
Temos um projeto de segurança para o Arruda, do Corpo de Bombeiros, que está elaborado desde 2016 e ainda não foi aprovado. Temos também o sistema de monitoramento do estádio, que é obrigatório, e ainda não foi implantado por completo. O projeto de acessibilidade, também obrigatório, está em análise na Prefeitura desde 2016. É um trabalho de longuíssimo prazo, mas todos esses itens estão em andamento. Precisamos conseguir a aprovação dos órgãos competentes.
Qual o posicionamento da chapa em relação à reforma do estatuto?
Aderimos ao programa de licenciamento da CBF e, para atingirmos todos os requisitos, a reforma do estatuto é obrigatória. Não tem essa de ser só a vontade da torcida, somos obrigados a fazer essas modificações para atingir o Fair Play Financeiro.
No entanto, as pessoas estão atribuindo a mudança de estatuto como uma virada de página no clube. Como se a partir do momento em que a reforma acontecer o Santa vai passar a ter dinheiro, vai jogar a Libertadores. Não é isso. Agora, isso não vai contribuir em nada com uma mudança imediata na gestão do clube. O que vai fazer o Santa mudar é ter pessoas que estão na gestão do clube que saibam fazer. O Bahia e o Fortaleza, por exemplo, fizeram as reformas, têm orçamentos grandes e estão brigando contra o rebaixamento. A reforma do estatuto vai auxiliar a melhorar a governança, mas não vai resolver.
O estatuto precisa ser mudado. Não é a minha vontade, mas quem manda no Santa é a torcida.
Uma das reivindicações mais recorrentes entre os torcedores é a demanda pelo direito à votação por parte de todas as categorias de sócios. Como você avalia essa questão?
Quando a pessoa vai se associar, ela vê os planos de sócios e as especificações de cada um. É uma escolha que a pessoa faz; se quer ter o benefício de participar da vida política do clube e quiser votar, tem que estar numa categoria diferente.