Pedro Bial diz que entrevistas remotas enriqueceram o Conversa e devem continuar
Apresentador estreia temporada de talk show com Woody Allen
O programa Conversa com Bial (Globo) estreia nova temporada nesta segunda-feira (8) ainda em formato remoto, como já aconteceu no ano passado.
Mas, ao contrário do que muitos podem imagina, o apresentador Pedro Bial, 62, avalia essa "nova versão" como positiva, conseguindo inclusive ampliar as opções de convidados e, segundo ele, deve ser mantida mesmo após seu retorno aos Estúdios Globo.
Como exemplo das possibilidades trazidas pelo formato remoto, o programa terá em seu primeiro episódio da temporada o cineasta, roteirista e escritor norte-americano Woody Allen, 85. Mas a ideia é que os convidados internacionais devem se mesclar aos mais próximos do público brasileiro. Fazem parte da lista de entrevistados dessa temporada nomes como Susana Vieira, 78, e Gal Costa, 75.
"Como espectador, eu gostaria que o público não perdesse nada. Primeiro porque pegamos um jeito nesse modo remoto de fazer televisão, que de limitação se tornou um recurso de ampliação do contato. E também conseguimos tornar o programa mais popular, no melhor sentido, mais acessível a um número maior de pessoas", comenta Bial em entrevista à reportagem.
Essa "ampliação do contato" trazida pelo modelo virtual que o programa adotou na pandemia, Bial pôde se aproximar de nomes como o do ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama, do ator americano Willem Dafoe e a modelo e cantora italiana Carla Bruni. Com isso, o apresentador afirma que não há motivos para ter pressa para voltar ao formato original, com entrevistas presenciais.
"Eu não tenho uma expectativa e não estou querendo colocar uma data [para a volta aos estúdios]. Vamos esperar. Mas, eu acho que, de qualquer maneira, quando voltarmos, não tem porquê abandonarmos os recursos do não presencial, que se mostraram tão enriquecedores", afirma ele, que reuniu seus melhores encontros remotos na quarentena no livro "Conversa com Bial em Casa: Os 70 anos da TV Brasileira em Tempos de Internet e de Isolamento Social", lançado pela editora Cobogó.
Segundo o apresentador, suas opiniões e críticas continuarão a fazer parte do programa. Em dezembro de 2020, na abertura de uma edição que abordava a educação na pandemia, Bial chamou o presidente Jair Bolsonaro de "desgovernante", "sem noção" e "acéfalo".
"Em um programa de entrevistas conduzido com caráter pessoal, que todo talk show tem, as opiniões do apresentador aparecem. Mas essa abertura não foi muito diferente de outras opiniões externadas. E eu não quero tomar lados. O programa da gente não quer tomar lados na guerra cultural em andamento", completa o jornalista que também revela que os "haters", aqueles odiadores da internet, não o afetam mais.
CONFIRA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA
Como foi ter o programa ser transformado livro?
Pedro Bial - Eu fiquei muito feliz. É, principalmente, um documento deste ano de 2020, das relações entre televisão e internet e de uma reflexão sobre os 70 anos de TV brasileira. Acho que por tudo isso, pela excepcionalidade do ano, pela qualidade e intensidade emocional e intelectual das entrevistas, justificou-se o livro. E eu espero que se torne um documento de referência.
Há algum tipo de assunto que você prefira debater?
PB - Olha, eu sou um jornalista e, como tal, generalista. Existem alguns temas que eu, sem dúvida, domino mais, que são mais a minha área e que eu estudo mais. Mas, não necessariamente, quando são entrevistas relativas às áreas em que eu sou mais familiarizado, isso quer dizer que a entrevista vai ficar melhor. Às vezes, um bocado de desconhecimento sobre o assunto ajuda na elaboração de perguntas que todos gostariam de fazer.
Poderia dar exemplos?
PB - O desconhecimento é muito mais regra do que o conhecimento. Então, eu gosto de assuntos que me desafiam e que aguçam ainda mais algo que eu já tenho naturalmente, que é a curiosidade.
As entrevistas seguirão de forma remota. Mas espera que possa voltar a fazer pessoalmente?
PB - Sim, as entrevistas vão seguir de forma remota. Eu não tenho uma expectativa e não estou querendo colocar uma data [para a volta aos estúdios], até para não criar uma expectativa de quando a gente vai voltar a fazer o programa presencialmente. Vamos esperar. Mas, eu acho que, de qualquer maneira, quando voltarmos, não tem porquê abandonarmos os recursos do não presencial, que se mostraram tão enriquecedores no ano passado.
O que acha dessa nova forma de conversar?
PB - Acho que houve uma combinação entre a carência, a saudade do contato e a solidão trazida pelo isolamento, com a intimidade surpreendente que é consequência das relações remotizadas, as videoconferências que fazem a nossa rotina hoje. Quer dizer, apesar de longe fisicamente, nós nos aproximamos. Ficamos mais íntimos através da tela do computador.
As conversas têm o mesmo peso na sua opinião?
PB - A vida é a arte do encontro e os nossos encontros, pelo menos como se davam antigamente, estão impossibilitados. Então, os encontros virtuais, da televisão e as conversas passaram a ter o seu enorme valor reconhecido.
Quais as entrevistas imperdíveis da nova temporada?
PB - Eu acho que como espectador, eu gostaria que o público não perdesse nada. Primeiro porque pegamos um jeito nesse modo remoto de fazer televisão, que de limitação se tornou um recurso de ampliação do contato, de uma coisa mais próxima, curiosamente. E também conseguimos tornar o programa mais popular, no melhor sentido, mais acessível a um número maior de pessoas.
A primeira entrevista já será com o cineasta Woody Allen...
PB - Eu acho que vale conferir aquelas atrações mais populares e aquelas que, à primeira vista, não são tão populares, mas que se tornampela maneira como o programa as conduz.
Na estreia, em maio de 2017, você ficou assustado por substituir o Jô Soares?
PB - Eu nunca pretendi substituir o Jô, que é impossível. Eu sinto falta dele até hoje. E, assim como eu, tenho certeza que muita gente tem saudade.
Como o Conversa com Bial evoluiu?
PB - Eu acho que a evolução do Conversa é como eu falei quando a gente estreou: um programa não nasce pronto. E a evolução foi surpreendente, nunca se dá do jeito que a gente imagina que iria se dar. Acho que o programa está ampliando o seu público e eu gosto muito de perceber que está ampliando para camadas mais populares.
Ser em TV aberta ajuda nisso?
PB - É um produto de televisão aberta e, com o ano de 2020, a TV aberta reafirmou a sua importância, inclusive para nos salvar dos buracos e problemas que nos trouxeram as linguagens das redes sociais.
Você gostaria que o programa fosse mais cedo?
PB - Eu gosto quando vai ao ar um pouquinho mais cedo, mas acho também que o programa tem uma presença muito grande na internet e no Globoplay. E, por incrível que pareça, tem um monte de boêmio no Brasil que continua assistindo mesmo no horário tardio. E a repercussão das entrevistas comprova isso.
Você chamou o presidente Jair Bolsonaro de "desgovernante" e "acéfalo". Repercutiu muito?
PB - Em um programa de entrevistas conduzido com caráter pessoal, que todo talk show tem, as opiniões do apresentador aparecem. Mas essa abertura não foi muito diferente de outras opiniões externadas. E eu não quero tomar lados. O programa da gente não quer tomar lados na guerra cultural em andamento. Mesmo que a política esteja se valendo da linguagem e das armas da guerra cultural.
Como avalia o Conversa com Bial em meio à política?
PB - Nós somos uma torre que procura observar todos os lados dessas guerras culturais e políticas e procura iluminar áreas que não estão iluminadas. Mas não estamos em nenhum lado. Estamos em uma torre acima de onde temos uma boa perspectiva de observação e oferecemos essa observação aos espectadores.
A atração é parcial ou imparcial?
PB - A questão é que a imparcialidade é vista como parcialidade por aqueles que estão presos às suas parcialidades. Quer dizer, em linguagem mais clara, quem é parcial acha até o imparcial, parcial.
Você sofre com ódio nas redes sociais? Como isso te afeta?
PB - Eu não posso levar isso a sério e não levo. Em 99,9% dos casos são argumentos muitos inconsistentes, movidos pela paixão política, o pior tipo de paixão, e uma visão distorcida das coisas. Eu não me sinto ofendido por críticas quando vêm de uma determinada origem. Assim como não me comovem elogios, dependendo de onde eles partem.