Origem do coronavírus

Cinco perguntas não respondidas após visita da OMS a Wuhan

Equipe supõe que o coronavírus provavelmente migrou de morcegos para uma espécie indeterminada antes de infectar humanos

Especialistas da OMS em Wuhan - Hector Retamal/AFP

Depois de quatro semanas de missão em Wuhan, no centro da China, os especialistas da Organização Mundial de Saúde (OMS) não foram capazes de revelar a origem da pandemia de Covid-19 e várias questões permanecem sem resposta. 

A equipe da OMS supõe que o coronavírus provavelmente migrou de morcegos para uma espécie indeterminada antes de infectar humanos. 

Os especialistas também consideram "muito improvável" que a Covid-19 venha de um laboratório de alta segurança em Wuhan, desqualificando muitas teorias levantadas a esse respeito. 

Uma pressão global pairou sobre os cientistas desde o início desta investigação na China, o que significou trabalhar "como um louco em um contexto de maior carga política", segundo Peter Daszak, um deles. 

Depois de quase um mês na missão, aqui estão cinco perguntas sem resposta sobre a origem da Covid-19:

Origem animal?
Os especialistas analisaram dezenas de milhares de amostras retiradas de animais selvagens, domésticos e de fazenda em toda a China, mas nenhum encontrou o coronavírus. 

Mas, a virologista holandesa Marion Koopmans explicou que espécies muito sensíveis ao coronavírus - como rato de bambu, texugo, coelho - eram vendidas no mercado de Huanan, em Wuhan, local de um dos primeiros surtos, portanto um ponto de partida para a cadeia de contágio. 

Daszak, um zoólogo britânico, acrescentou que os novos vírus descobertos em morcegos na Tailândia e no Camboja "mudam o foco para o Sudeste Asiático". “Acho que um dia o encontraremos”, considerou, mas “pode levar algum tempo”, alertou. 

Acesso a dados? 
Houve preocupação com as dificuldades dos cientistas em acessar os dados chineses depois que Pequim foi acusada de subestimar a gravidade da epidemia quando ela começou em Wuhan, no final de 2019. 

Thea Kolsen Fischer, epidemiologista dinamarquesa da OMS, disse que a equipe não recebeu dados brutos, mas apenas processou os dados após terem sido examinados por cientistas chineses. 

Os especialistas da OMS garantiram que tiveram acesso a todos os locais e pessoas necessárias.

Tese dos congelados?
Pequim repetiu a tese de que o coronavírus poderia ter chegado à China por meio de alimentos congelados. 

O diretor de situações de emergência da OMS, Mike Ryan, estima que "não há evidências de que os alimentos ou a cadeia alimentar estejam ligados à transmissão" da Covid-19. 

Mas na China, sua equipe teria dado algum crédito a esta tese. Para o chefe da parte chinesa da missão, Liang Wannian, o coronavírus pode viajar longas distâncias na superfície de produtos frios, e a análise de amostras colhidas no mercado de Huanan, onde se vendem animais silvestres e frutos do mar congelados, mostrou uma "contaminação generalizada" por covid-19. 

No entanto, o líder da equipe da OMS, Peter Ben Embarek, alertou que ainda não se sabe se o coronavírus pode ser transmitido aos humanos por congelados. 

Da China ou de outro lugar?
Pequim solicitou persistentemente à OMS que investigasse uma possível origem americana da epidemia. Funcionários do Ministério das Relações Exteriores da China apresentaram teorias sobre o vazamento do coronavírus de um laboratório militar dos Estados Unidos. 

Pressionada para escapar das críticas internacionais, a China publicou estudos sugerindo que a Covid-19 apareceu na Itália e em outros países no final de 2019. 

Mas Koopmans julgou que esses estudos "não fornecem nenhuma evidência de uma circulação anterior" do vírus fora da China antes de dezembro de 2019, acrescentando que os especialistas "deveriam procurar evidências reais de uma circulação anterior".

E agora? 
Para a Koopmans, as fazendas que fornecem animais silvestres para o mercado de Wuhan precisam ser mais investigadas. 

Além de coletar novas amostras de animais selvagens na China e em outros lugares, Embarek sugeriu reexaminar aquelas já disponíveis com "novas abordagens" para exames de sangue e pesquisar casos em Wuhan antes de dezembro de 2019. 

A China espera que as próximas investigações sejam realizadas em outro país.