Covid-19

Pernambuco confirma nova variante do coronavírus em dois pacientes do Amazonas

Amostras são enviadas pelo Lacen para a Fiocruz PE - Divulgação/Fundação Oswaldo Cruz

Dois pacientes do Amazonas que vieram para Pernambuco dar continuidade ao tratamento contra a Covid-19 tiveram confirmação laboratorial para a variante P1 do novo coronavírus.

O sequenciamento genético foi feito no Instituto Aggeu Magalhães (IAM/Fiocruz PE) e o resultado foi informado à Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) na tarde desta quinta-feira (11). 

Ambos os pacientes que tiveram infecção confirmada pela variante P1 eram do sexo masculino, tinham por volta de 50 anos e acabaram não sobrevivendo. 

Um deles faleceu no Hospital das Clínicas (HC), em janeiro. O outro também foi internado inicialmente no HC mas, após agravamento do caso, foi transferido para o Hospital de Referência à Covid-19 (antigo Alfa), onde veio a falecer neste mês. 

Em meados de janeiro, a Fiocruz PE recebeu da SES-PE 44 amostras biológicas de pacientes que tinham confirmação para o novo coronavírus. Desse total, quatro eram de pacientes do Amazonas (dois com a nova variante e dois não). 

Outras 36, todas negativas, foram escolhidas de forma aleatória e contemplam pernambucanos de todas as 12 Gerências Regionais de Saúde (Geres), inclusive do arquipélago de Fernando de Noronha. Em outras quatro, também de pernambucanos, não foi possível realizar o trabalho por falta de condições das amostras.  

A SES-PE ainda não confirmou se as amostras biológicas dos outros 22 pacientes que também foram transferidos do Amazonas para Pernambuco passarão pelo protocolo de sequenciamento. 

A descoberta da infecção pela variante P1 foi feita no laboratório de nível de biossegurança nível 3 da Fiocruz PE e na central de sequenciamento.

O processo para preparo das amostras, extração do RNA e posterior sequenciamento e análise dos dados leva, em média, duas semanas. 

"Nós conseguimos identificar duas variantes P1, que são aqueles que estão sendo relatadas em Manaus e que se considera uma variante de preocupação. Mas, nas amostras aqui do Estado, não encontramos", ratificou a vice-diretora de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Serviços de Referência da Fiocruz PE, Constância Ayres. 

Apesar de o achado atual envolver pacientes do Amazonas, Constância Ayres reforça a possibilidade de já haver circulação da variante P1 em território pernambucano.

Nos últimos dias, outros Estados nordestinos, como Paraíba e Bahia, confirmaram a identificação dessa nova linhagem em pacientes também transferidos do Amazonas.  

"Pode acontecer dessa variante ser introduzida aqui em Pernambuco. Não significa que vamos ter um aumento de casos. Pode ser que sim, mas ainda não está comprovado laboratorialmente que essa variante tem uma transmissibilidade maior. Há indícios que sim, mas laboratorialmente isso ainda não foi comprovado. A população deve manter os mesmos cuidados: o uso de máscara, a etiqueta respiratória, o distanciamento social e o isolamento em caso de pessoas positivas", disse.

Para o médico infectologista Bruno Ishigami, o fato de a variante P1 ter sido identificada nesses pacientes não chega a ser uma surpresa. "É mais risco para o Estado, mas é um risco que estava na conta. O Norte do País está sofrendo muito e é meio inevitável que esses pacientes se espalhem, até que por uma questão humanitária, para terem atendimento", disse ele, que comentou também sobre a maior transmissibilidade. 

"Tem alguns estudos que começam a sustentar a tese de maior transmissibilidade mesmo. Faltam mais estudos, mas os que temos até hoje são bons estudos e já apontam nesse sentido. Ainda não saiu nada no sentido de ser mais agressiva. A grande questão é que ela, por ser mais transmissível, alcança mais gente e, inevitavelmente, vai ter mais mortes porque superlota o sistema de saúde. Mas tem estudos em andamento (sobre letalidade)”, explicou o infectologista. 

O secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, acredita que a variante P1 já circule em outras localidades, mesmo que não haja comprovação laboratorial ainda, e que isso torna ainda mais importante o cuidado com os protocolos de prevenção à Covid-19. 

"Além das ações coordenadas entre as secretarias estaduais e o Ministério da Saúde para encaminhamento dos pacientes do Amazonas para as mais diversas regiões brasileiras, também sabemos de pessoas que foram buscar assistência em outros locais de forma espontânea. Essa circulação, de forma indiscriminada, leva a crer que já temos o novo vírus em diversas localidades. Esse é mais um alerta para que todos continuemos tomando todas as precauções de higiene e mantendo o distanciamento para evitar adoecimentos, independente de qual seja a variante da infecção. As medidas de prevenção são as mesmas e devem ser intensificadas pela população", afirmou. 

A SES-PE informou que está sendo realizado um trabalho de monitoramento com os pacientes oriundos do Amazonas. "Os hospitais que receberam esses pacientes fizeram o isolamento deles durante todo o tratamento. A SES-PE, junto ao município do Recife, monitorou, também, os profissionais e trabalhadores da saúde que estavam juntos a esses pacientes e também não foi detectada nenhuma contaminação posterior", destacou a secretária executiva de Vigilância em Saúde da SES-PE, Patrícia Ismael, lembrando que o traslado dos corpos dos pacientes que não resistiram foram realizados dentro das medidas de segurança.

Segundo a pasta, os pacientes levados ao Hospital de Referência à Covid-19 ficaram em isolamento e foram atendidos por uma equipe médica destinada apenas para o tratamento deles. E esses profisisonais também passam por monitoramento. 

Rastreio 
A SES-PE, por meio do Laboratório Central de Saúde Pública de Pernambuco (Lacen-PE), informou que continuará encaminhando para a Fiocruz PE amostras biológicas de pacientes positivos para a Covid-19 com o intuito de monitorar a circulação do novo coronavírus no Estado.

Essa parceria de sequenciamento genético já acontece desde o ano passado e, agora, se faz ainda mais importante, no intuito de investigar a presença da variante P1. 

O trabalho é feito de forma periódica e por amostragem, com coletas de diversas regiões e municípios do Estado. "Estaremos monitorando se haverá um aumento ou não dessa variante aqui no Estado", frisou Constância Ayres.