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Junta continua repressão em Mianmar; Suu Kyi é indiciada mais uma vez

A ex-chefe do governo civil está "com boa saúde", garantiu o vice-ministro da Informação

Protestos em Mianmar - Foto: Ye Aung Thu/AFP

Os apelos à desobediência civil contra a junta em Mianmar continuam nesta terça-feira (16), apesar da escalada da repressão dos militares, que ignoram as condenações internacionais e indiciaram mais uma vez Aung San Suu Kyi.

A ex-dirigente, de 75 anos, já processada por importação ilegal de walkie-talkies, enfrenta uma nova acusação por violar a Lei de Gestão de Desastres Naturais, informou à AFP seu advogado Khin Maung Zaw, explicando que uma nova audiência será realizada em 1 de março.

"Não há nada de justo na junta. É teatro. É apenas teatro. E, claro, ninguém acredita neles", reagiu à AFP o relator especial da ONU, Tom Andrews.

A ex-chefe do governo civil está "com boa saúde", garantiu o vice-ministro da Informação, Zaw Min Tun, em entrevista coletiva.

Aung San Suu Kyi e o ex-presidente Win Myint estão "em um lugar mais seguro para sua segurança (...) Não é como se tivessem sido presos. Eles ficam em casa", acrescentou.

Desde o golpe de Estado de 1º de fevereiro que encerrou uma frágil transição democrática de dez anos, os militares não param a repressão, com a proibição de concentrações, mobilização de veículos blindados, prisões noturnas e fortalecimento do arsenal legislativo. 

"As manifestações foram violentas (...) sanções serão impostas", advertiu Zaw Min Tun. 

Apesar disso, a mobilização continua. Manifestantes bloquearam um trecho da ferrovia em Mawlamyine, ao sul de Yangon, interrompendo o serviço entre a cidade portuária e a capital econômica, segundo imagens divulgadas pela mídia local.

"Devolvam nossos líderes!", diziam os cartazes, enquanto os manifestantes pediam aos ferroviários que parassem de trabalhar.

Muitos trabalhadores de todo o país, incluindo advogados, professores, controladores aéreos ou ferroviários, responderam a este apelo e entraram em greve contra o golpe de Estado.

Em Yangon, os monges que lideraram a "revolução do açafrão", violentamente reprimida pelo Exército em 2007, marcharam em direção à embaixada dos Estados Unidos.

Não muito longe dali, alguns jovens tocavam violino diante de um grupo de dançarinos vestidos de preto, enquanto outros cantavam.

"Com a carne e o sangue da nossa juventude, vamos tentar acabar com a ditadura militar. Esse é o sentido da nossa música", explicou Pan, de 25 anos.

Mas depois da implantação de veículos blindados em algumas cidades do país no domingo, as multidões nas ruas são menos numerosas.

- 400 detidos -

A junta continua realizando prisões. Cerca de 400 pessoas - políticos, médicos, ativistas, estudantes, grevistas - foram presas nas últimas duas semanas, segundo uma ONG que ajuda presos políticos.

Além disso, pela quarta vez desde o golpe, as conexões de internet foram quase totalmente cortadas durante a madrugada, antes de serem restauradas oito horas depois. 

"Eles cortaram a internet para fazer o trabalho sujo", disse Win Tun, morador de Yangon. "Não dormimos a noite toda para ver o que acontecia".

Isso vai contra os "princípios democráticos fundamentais", reagiu a enviada da ONU para Mianmar, Christine Schraner Burgener, em uma conversa por telefone com Soe Win, vice-comandante do Exército birmanês. Os cortes também prejudicam "setores-chave, como bancos", acrescentou. 

Até agora, as manifestações têm sido pacíficas, mas vários incidentes foram registrados na segunda-feira.

A polícia deteve várias dezenas de manifestantes, incluindo cerca de 20 estudantes, em Naipidau, antes de libertar alguns deles.

Em Mandalay (centro), a segunda maior cidade do país, um confronto entre manifestantes e forças de segurança resultou em pelo menos seis feridos. A polícia disparou balas de borracha e atirou pedras na multidão, que respondeu com tijolos.

Alguns jornalistas presentes relataram que a polícia os espancou. 

As Forças Armadas, que têm dois apoios na ONU (Rússia e China), se fazem de surdas às múltiplas condenações internacionais e às sanções anunciadas por Washington.

Os generais golpistas, que questionam as eleições legislativas de novembro vencidas pela Liga Nacional para a Democracia (NLD), o partido de Aung San Suu Kyi, autorizaram buscas sem mandado e detenções por um curto período sem a necessidade de aprovação de um juiz. 

Uma lei de segurança cibernética muito repressiva também está sendo aplicada. 

O chefe da junta, Min Aung Hlaing, um pária internacional pelas atrocidades cometidas contra os muçulmanos rohingyas em 2017, considera o que está acontecendo em Mianmar como "um assunto interno".