Olimpíadas

Seiko Hashimoto, medalhista olímpica e defensora da igualdade de gênero

Ex-ciclista e patinadora já participou de 7 Jogos Olímpicos

Charly TRIBALLEAU / AFP

Seiko Hashimoto, nomeada nesta quinta-feira (18) presidente do comitê organizador dos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020, após a renúncia de seu antecessor por declarações sexistas, é uma medalhista olímpica de patinação de velocidade e uma das poucas mulheres a ocupar um cargo de destaque na política japonesa.

Aos 56 anos, ela era desde setembro de 2019 uma das duas únicas mulheres no Executivo nipônico, como ministra pela Igualdade de Gênero e da Emancipação das Mulheres, assim como ministra dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Hashimoto apresentou nesta quinta-feira sua demissão dos cargos no gabinete.

A nova presidente do comitê organizador de Tóquio-2020 tem uma longa carreira como política, pois ocupa uma cadeira na Câmara Alta do Parlamento japonês desde 1995, e como atleta.

Nas décadas de 1980-1990, Seiko Hashimoto disputou quatro Jogos Olímpicos de Inverno como patinadora de velocidade, com uma medalha de bronze conquistada em Albertville-1992, e três Jogos Olímpicos de Verão como ciclista de pista.

No comando de Tóquio-2020, ela sucede Yoshiro Mori, ex-primeiro-ministro de 83 anos, pressionado a renunciar na semana passada após o escândalo provocado por seus comentários sexistas. Ele declarou que as mulheres falavam muito nas reuniões, o que considerava "irritante".

Em um Japão muito mal classificado no ranking de igualdade de gênero, Hashimoto disse que gostaria de ter uma "conversa franca" com Mori, ao recordar que o princípio da igualdade homens-mulheres está no coração do olimpismo.

Polêmica em Sochi

Hashimoto, no entanto, já esteve no centro de uma polêmica em 2014, com a publicação de fotos em que aparecia beijando um patinador japonês 20 anos mais novo que ela em Sochi, onde comandou a delegação japonesa nos Jogos de Inverno.

O patinador, Daisuke Takahashi, disse lamentar o episódio, mas que não se sentiu "assediado". Hashimoto pediu desculpar por qualquer "mal-entendido".

Nascida na ilha de Hokkaido cinco dias antes da cerimônia de abertura dos Jogos de Tóquio-1964, Seiko Hashimoto confessou que foi educada ouvindo de seu pai: "Você nasceu para ir aos Jogos Olímpicos", antes mesmo que soubesse o que eram os Jogos Olímpicos.

Dividindo o tempo entre o esporte e a política, o que rendeu críticas após sua seleção para os Jogos de Atlanta-1996, ela começou a ganhar espaço no Partido Liberal Democrata (PLD), formação conservadora, que está no poder praticamente sem interrupção desde 1955.

"Aconteça o que acontecer"

Hashimoto se casou com um guarda do Parlamento em 1998, o que provocou vários comentários nos círculos políticos, e tem seis filhos, incluindo três enteados.

Ela deu à luz sua primeira filha poucos meses antes das Olimpíadas de Sydney-2000 e escolheu o nome "Seika", escrito em japonês com os mesmos caracteres de "chama olímpica", para "transmitir o sonho olímpico que meu pai me passou".

Outro de seus filhos se chama Girisha, a pronúncia japonesa de Grécia, berço dos Jogos, e Torino, em referência aos Jogos de Inverno de Turim-2006.

No mundo patriarcal da política japonesa, casar e ter um filho durante o mandato não era apenas não convencional, mas "positivamente insondável", disse ela. 

"Até então, o parto não era uma razão oficialmente reconhecida para faltar a uma sessão" (do Parlamento), recordou em uma entrevista, na qual também citou pedidos de renúncia por parte de colegas que não acreditavam que ela conseguiria cumprir suas obrigações.

Ela ainda provoca espanto no país por equilibrar sua vida de família e o mandato parlamentar. Foi uma das fundadoras de um grupo militante pela criação de uma creche para os filhos dos deputados, dos funcionários e dos visitantes do Parlamento, o que aconteceu em 2010.

A apenas cinco meses dos Jogos de Tóquio-2020, adiados no ano passado devido ao coronavírus, a missão que a aguarda é gigantesca, pois a opinião pública japonesa é majoritariamente contrária ao evento por temer o agravamento da crise de saúde.

Apesar das muitas incertezas, Hashimoto considera "inconcebível" a possibilidade de cancelamento ou novo adiamento dos Jogos, mesma opinião dos organizadores japoneses e do Comitê Olímpico Internacional (COI).

"Devemos organizar os Jogos, aconteça o que acontecer", declarou em setembro, ao destacar que os atletas do mundo inteiro treinam duro, apesar das dificuldades.