Nova variante do Sars-CoV-2 identificada no sul da Califórnia causa preocupação
Assim como outros mutantes do vírus que já surgiram no Reino Unido, na África do Sul e no Brasil, na cidade de Manaus, as variantes têm maior potencial de transmissão
Uma nova variante do coronavírus, identificada nos Estados Unidos, pode ser possivelmente mais contagiosa e vem causando preocupação aos pesquisadores locais. Identificada a partir de sequenciamentos genéticos feitos após uma alta de casos no sul do estado da Califórnia, a partir de outubro de 2020, a variante chamada CAL.20C possui um total de cinco mutações, das quais três estariam diretamente ligadas à proteína S do Spike, usada pelo vírus para se ligar e entrar nas células humanas.
A descoberta da nova variante foi publicada na última quinta-feira (11) na revista especializada Jama (Journal of the American Medical Association).
Assim como outros mutantes do vírus que já surgiram no Reino Unido, na África do Sul e no Brasil, na cidade de Manaus, as variantes do Sars-CoV-2 que causam preocupação (VOCs, na sigla em inglês) têm maior potencial de transmissão e podem estar associadas a uma evasão do sistema imune, no caso das variantes sul-africana e manauara, e a uma maior letalidade, no caso da britânica.
A nova variante foi descoberta a partir do sequenciamento genético de milhares de amostras de testes do tipo RT-PCR do Centro Médico Cedars-Sinai, em Los Angeles, Califórnia.
Do total de amostras, 185 foram selecionadas para uma análise do vírus, que gerou uma árvore evolutiva com dois grupos principais: um do clado 20B, do qual fazem parte as variantes identificadas no Reino Unido e a linhagem P.1, de Manaus, e um clado 20C, correspondente à linhagem que deu origem à variante californiana.
Ainda segundo a análise, a variante CAL.20C foi primeiro observada em julho a partir de uma única amostra proveniente do condado de Los Angeles, mas essa mesma cepa só ressurgiria no sudeste do estado em outubro. A partir daí, a incidência da nova variante aumentou consideravelmente, chegando a 44% dos casos reportados no sudeste do estado e 35% dos casos em toda a Califórnia até o dia 22 de janeiro, quando foi feita a última análise.
Até o momento, os cientistas ainda não sabem se a variante californiana é mais transmissível, mas uma das mutações encontradas na proteína S, a L452R, ocorreu em uma região do domínio de ligação com o receptor, usada pelo vírus para se ligar à célula e conhecida por ter uma certa resistência a alguns tipos anticorpos monoclonais.
Para saber se essa mutação implicará em maior letalidade, severidade da doença ou até mesmo em maior taxa de contágio, os pesquisadores precisam de mais dados dos infectados com a nova cepa ainda não disponíveis, como evolução clínica da Covid-19 e quantidade de vírus que uma pessoa infectada pode eliminar. Contudo, os cientistas reforçam que a descoberta dessa nova variante é de extrema importância para a vigilância epidemiológica do vírus e para possíveis ações no combate à disseminação e propagação da mesma.
Além das mutações que favorecem o contágio, a situação de descontrole da pandemia e a ação tardia das autoridades em conter a disseminação do vírus são responsáveis por levar à maior circulação desta e de outras variantes que surgirem não só localmente, mas também por diversos países no mundo. Até o momento, a variante californiana é dominante apenas naquele estado, mas já foi identificada em um sequenciamento feito na Oceania no começo do mês.