Música

Juliano Holanda lança álbum produzido na quarentena

Em oito canções autorais, o artista canta sentimentos controversos provocados pelo atual momento histórico

Juliano Holanda lança novo álbum com voz e contra-baixo - Mery Lemos

“Gente criativa parada tende a criar”. Em determinado momento de nossa conversa, o multiartista pernambucano Juliano Holanda resumiu, quase que sem querer, o que o levou a produzir o novo trabalho "Por onde as casas andam em silêncio", que chega a todas as plataformas digitais hoje. Na obra, o músico expõe seu olhar aguçado sob o contexto atual de pandemia e confinamento. 

O último lançamento de Juliano, o single "Eu, Cata-Vento" saiu em março de 2020 e inicialmente abriria caminhos para o disco "Sobre a Futilidade das Coisas", mas o período histórico o fez recalcular a rota. “A ideia do outro disco era de lançar uma música por mês, mas assim que lancei a primeira veio aquele clima de quarentena mais pesado e, confesso que fiquei sem energia pra continuar, então comecei a achar que ele podia esperar um pouco mais”, explica. 

Simultaneamente, o processo de criação e composição do músico se amplificou com um estúdio montado em casa. Muitas dessas canções refletem seu estado de espírito no ano passado. “A linha narrativa do álbum justifica o fato dele ser lançado na quarentena, o repertório dialoga com esse universo”, disse. São oito canções autorais que ganharam incentivo da Lei Aldir Blanc. Ouça aqui: https://cutt.ly/plrryMV

Nos arranjos, a voz de Holanda dialoga apenas com um instrumento, o contrabaixo, em alusão ao início de sua trajetória musical entre os anos 1990 e 2000. “Eu comecei tocando violão, depois passei pra guitarra e ali pelos anos 90 eu acabei me apaixonando pelo baixo”, conta. 

“Foi uma decisão que tem a ver com o processo reflexivo que move o álbum. O disco nasce quase que como uma homenagem ao instrumento, a um tipo de sonoridade que me acompanhou durante tantos anos”, continua Holanda. 

A opção foi definida a partir de uma sugestão de Mery Lemos, companheira e produtora de Juliano, que também assina a direção musical do disco em parceria com o próprio.

Capa de "Por as Casas Andam em Silêncio"

O sucessor dos elogiados “A Arte de Ser Invisível” (2013) e “Pra Saber Ser Nuvem de Cimento Quando o Céu For de Concreto” (2013) nasce com a mesma essência inventiva e inquieta do compositor. “Eu acho que só é legal fazer um disco quando você tem o que dizer e tudo o que faço tem essa questão da intencionalidade”, resumiu. “Se é pra pegar algum instrumento pra tocar, é pra dizer alguma coisa com aquilo, se não for pra fazer uma música que seja significativa pra você, é melhor não fazer”, completou, sobre seu processo de produção. Se existe um norte em seu trabalho está no cuidado com a palavra em comunhão com arranjos elaborados.

A pandemia também serviu como uma bem-vinda parada para o músico e acabou aflorando seu lado compositor, promovendo encontros com novos e antigos parceiros. “Eu vinha em um processo muito frenético de produção, então confesso que, quando parou, foi benéfico pra mim, eu precisava de uma pausa e tentei transformar esse momento em um spa criativo”, detalhou. “Gravei algumas coisas pra alguns discos, como o novo de Otto, produzi um disco com canções minhas em parceria com Zélia Duncan”, afirmou. Com os parceiros usuais, como Pc Silva, Martins Marcello Rangel e Almério, a produção também aumentou.

Figura elementar e quase onipresente na nova cena musical pernambucana, Juliano se mantém como um compositor profícuo, registrando as memórias do presente em canções. “O disco faz parte de um processo de transformar esse período tão difícil em algo propositivo, não ficar tão contido em si mesmo’, concluiu.

SERVIÇO
"Por onde as casas andam em silêncio" está em todas as plataformas digitais