Intervalo maior entre doses da vacina de Oxford contra Covid-19 oferece mais proteção, diz estudo
Na análise, foram incluídos dados de mais de 17 mil participantes dos estudos realizados com a vacina no Reino Unido, Brasil e África do Sul
Duas doses da vacina da Universidade de Oxford com a farmacêutica AstraZeneca aplicadas com um intervalo de três meses são mais eficazes do que duas aplicações em um espaço de seis semanas, mostra um estudo publicado nesta sexta-feira (19) na revista científica The Lancet, uma das mais respeitadas internacionalmente na área da medicina.
A vacina, chamada Covishield, já é aplicada no Brasil com um intervalo de três meses entre as duas doses.
De acordo com o artigo, a proteção contra casos sintomáticos da Covid-19 foi de 81% após pelo menos 14 dias da aplicação da segunda dose dada com intervalo de três meses. No regime de vacinação com espaço de seis semanas, a eficácia foi de cerca de 55%.
A dose única demonstrou ainda eficácia de 76% contra infecções sintomáticas do coronavírus Sars-Cov-2 nos três meses após a primeira dose, sugerindo que a ampliação do intervalo não traz prejuízo para a proteção contra a doença.
Na análise, foram incluídos dados de mais de 17 mil participantes dos estudos realizados com a vacina no Reino Unido, Brasil e África do Sul.
No Reino Unido, a vacina é usada em um regime de aplicação de duas doses com um intervalo de 4 a 12 semanas entre elas. Assim, afirmam os cientistas, os resultados do estudo fornecem suporte para a atual política de estender o intervalo entre as doses da vacina no Reino Unido e está consistente com o aconselhamento da OMS (Organização Mundial da Saúde).
Para os pesquisadores, um programa de vacinação que tenha um intervalo entre as doses de três meses, como o demonstrado pelo estudo, tem vantagens sobre as vacinações com um intervalo mais curto. Além de garantir uma proteção mais elevada, é possível imunizar um número maior de pessoas em um período de tempo mais curto mesmo com quantidades limitadas da vacina. A dose de reforço, oferecida mais tarde, serviria para ampliar a proteção.
"O suprimento de vacinas é limitado, pelo menos no curto prazo, e as autoridades devem decidir como fazer a melhor entrega das doses para alcançar o melhor benefício de saúde pública. Onde houver suprimento limitado de imunizante, políticas de inicialmente vacinar uma maior quantidade de pessoas com apenas uma dose pode ser melhor para proteger a população mais rapidamente do que vacinar metade das pessoas com duas doses", afirmou em comunicado Andrew Pollard, professor da Universidade de Oxford e um dos líderes da pesquisa.
"No longo prazo, a segunda dose deve assegurar uma imunidade duradoura, e assim encorajamos a todos que tomaram a primeira que recebam as duas doses", disse o pesquisador.
Em comunicado, os autores do estudo informam que outras vacinas, como a da gripe, ebola e malária, também dão maior proteção e resposta imune mais forte com um intervalo mais longo entre as doses.
A Covishield deve ser fabricada na Fiocruz nos próximos meses. O Ministério da Saúde tem um acordo com as desenvolvedoras que permite a fabricação brasileira de 210,4 milhões de doses do imunizante até o fim de 2021.