Gastronomia

Consumo de alimentos orgânicos avança no Brasil, diz pesquisa

Saiba identificar um vegetal livre de agrotóxico e quais benefícios ele oferece à saúde

Alimento orgânico ganha força - caixote da Organicamente - Foto: Ed Machado/Folha de Pernambuco

Com a pandemia declarada em março de 2020, a feira de orgânicos do bairro das Graças, na Zona Norte do Recife, ficou esvaziada. No entanto, o medo do novo coronavírus não se impôs ao cuidado alimentar útil para fortalecer a imunidade ao longo do tempo. Eis que, desde junho do ano passado, o movimento das sextas-feiras voltou a deixar os produtores eufóricos pela demanda, mesmo ainda diante do caos. Um interesse made in Pernambuco, que confirma um crescimento nacional do setor aproximado de 30% em relação a 2019.



O levantamento é da Organis - Associação de Promoção dos Orgânicos, responsável por reunir informações e fazer pesquisas de mercado. Segundo o diretor Cobi Cruz, mais um dado observado nos últimos meses chama atenção. “Em 2020, a região que mais cresceu em número de áreas de produção cadastradas no Ministério da Agricultura foi o Nordeste, com 36% de incremento”, apontou, destacando o investimento de políticas públicas. E são as feirinhas de rua as grandes escoadoras, no momento, desse tipo de mercadoria. “O grande varejo cresceu pouco mais de 5% no ano passado, porque as pessoas começaram a procurar outros canais”, defende.      


É orgânico mesmo?
A resposta não é tão simples assim. Que este é um produto livre de agrotóxico e outros químicos sintéticos, você já sabe. “Mas vai além do benefício individual de saúde, é algo coletivo, ambiental e social. Também não está expondo o agricultor aos produtos tóxicos, está mantendo as abelhas e ainda mantém o agricultor como um guardião ambiental”, detalha Cobi Cruz. 

Não à toa, a lei 10.831, de dezembro de 2003, que regula esse tipo de produção no Brasil abrange vários critérios, como descrito em um trecho: “Considera-se sistema orgânico de produção agropecuária todo aquele em que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais”. Por isso mesmo, não confunda com nomenclaturas como “integral”, “sem glúten” ou “sem colesterol”.

Há quase 20 anos, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento estabelece  procedimentos de avaliação por meio de auditoria. Segundo a Organis, produtos embalados recebem o selo ‘Orgânico do Brasil’ depois que pasam por certificação. Para vender numa feirinha, a orientação do Mapa para o produtor sem certificação é que ele apresente um documento chamado Declaração de Cadastro, que demonstra que ele está registrado junto ao Mapa e que faz parte de um grupo que se responsabiliza por ele. Burocracias de lado, a aparência pode chamar atenção. Livres de hormônios de crescimento e de agrotóxicos, o vegetal tende a ser menor que o convencional. 

Produção livre de agrotóxicos em Paulista (Foto: Ed Machado/Folha de Pernambuco)


Mais saudável?
Segundo a nutricionista Luciana Leocádio, a vantagem de não ingerir pesticidas agrícolas é grande. Por outro lado, estudos não mostram que os alimentos orgânicos não possuem vantagem nutricional sobre seus similares convencionais. “Ou seja, não contêm maiores quantidades de vitaminas e minerais. Algumas pesquisas mostraram que, em alguns casos, frutas e vegetais orgânicos contêm mais vitamina C e antioxidantes. No entanto, não é possível recomendá-los com base no teor de nutrientes. Ambos podem atender às necessidades nutricionais”, afirma.  

Em relação ao tempo de colheita, o estado de maturidade do vegetal é um dos fatores mais importantes na qualidade do produto final. Frutas e vegetais de cultivo convencional vêm de outros Estados e até países. Logo, por serem perecíveis, precisaram ter a vida útil prolongada até chegar ao consumidor. Esses alimentos são colhidos antes do tempo de maturidade ideal. “Já os orgânicos geralmente são provenientes de agricultores locais, oferecendo opções mais frescas, por serem colhidos próximos do seu tempo de maturidade. Algumas pesquisas também sugerem que essas culturas podem ter melhor sabor, devido às diferenças no tipo de solo, nutrientes do solo ou condições ambientais em que são plantadas”, destaca Luciana.

Segundo o último relatório realizado pelo Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) da Anvisa (2017/2018), das 4.616 amostras de 14 alimentos de origem vegetal representativos da dieta da população brasileira, foram detectadas em 23% das amostras resíduos de agrotóxicos acima do limite permitido pela legislação. “Não há consenso em relação aos danos que a exposição crônica, mesmo que a baixas concentrações, pode trazer de efeitos graves e irreversíveis para a saúde. A exposição crônica aos agrotóxicos tem sido relacionada com cânceres, efeitos teratogênicos, efeitos neurotóxicos, alergias respiratórias, dermatites, deficiência cognitiva e alterações comportamentais, entre outras”, resume a nutricionista.

 

Natural e mais acessível

Antes mesmo de o termo orgânico ganhar notoriedade, a empresária Elizabeth Cardeal já consumia alimentos com essa estrutura há mais de 15 anos. “Na minha casa, para onde eu olho agora, vejo açúcar, chocolate, maracujá, cenoura, batata-doce roxa, chuchu e outros”, lista ao resumir que pelo menos 75% do seu cardápio é composto pelo ingrediente livre de agrotóxico. “Essa é a minha salvação, por ser algo rico em nutriente e que me protege de doenças”, completa.
O entendimento de qualidade de vida, contato direto com agricultor e interesse na movimentação logística também motivou Elizabeth a criar a Orgânico 22, que, por seis anos, serviu receitas com base nesse tipo de insumo no Recife. Mesmo com a cafeteria fechada, ela mantém a rotina de contato direto com os agricultores. “Na feirinha, muitas vezes eles são questionados por vender chuchu a R$ 1. Mas isso não é caro. Veja o trabalho de aguar a planta, colher e fazer o percurso do campo até a cidade”, resume.

Feirinha das Graças (Foto: Elizabeth Cardeal/Cortesia)
 
 

Novos caminhos
Se para alguns esse é um item caro, para outros é custo-benefício. Público esse que movimenta o incremento de 30% de consumo colocado no início desta reportagem. Tanto que a pandemia fez os sócios Sandra Costa, Gabriel Marinho e Sthéphany Sanches comercializarem um hábito antigo de família. “Sempre cultivamos para o consumo em casa, gerando uma oferta muito grande, distribuída para vizinhos e amigos de trabalho”, lembra Sthéphany.

O cultivo próprio acontece em uma propriedade no município de Paulista, Região Metropolitana do Recife. Mas também há integração com a comunidade de agricultores de Goiana, Gravatá e Vitória de Santo Antão. Para facilitar a vida de qualquer pessoa, o pedido de delivery pode ser feito pelo WhatsApp ligado ao Instagram da Organicamente, até 15h da sexta-feira, para a entrega acontecer no sábado, no Recife, Olinda e Jaboatão. Em casa, o caixote retornável chega repleto de produtos frescos. 

Também vinculado à alimentação saudável, o projeto Horttas participa do modelo de Comunidade que Sustenta a Agricultura (CSA). Ou seja, ao invés de ir a um mercado ou centro de distribuição, um grupo de pessoas se mobiliza para manter a atividade do produtor rural. Em contrapartida, esse produtor fornece aos membros do grupo os seus orgânicos. “No final, acaba-se criando uma estrutura sócio colaborativa, onde os agricultores e consumidores se conhecem, já que o planejamento da lavoura é coletivo”, diz o coordenador de operações, Joaquim Souza Leão.

O Horttas teve início em 2020, também no período de pandemia, com um grupo de 15 famílias associadas. Hoje, são cerca de 60 e em plena expansão, crescendo principalmente através de indicações dos próprios associados. Por enquanto, o projeto tem uma única área de cultivo, a da Coudelaria Souza Leão, mas a expectativa é aumentar o modelo para agricultores da região metropolitana do Recife e da Zona da Mata.


Para comprar

Tulasi
Fone: 3072-8212
Organicamente
Fone: 98773.3166
Horttas
Fone: 98280.9712
Quitanda Orgânicos
Fone: 99845-2228
Organno Saudáveis e Orgânicos 
Fone: 3033-0142
Akitanda Orgânica
Fone: 99757-6098
Comadre Fulorzinha
Fone: 99963-0970


Feiras livres


Das Graças
Sextas-feiras
23h às 9h30
Beira Rio (Madalena)
Sextas-feiras
5h às 10h
Feira dos Aflitos 
(jardim da Refazenda)
Quintas-feiras  
A partir das 17h