Exposição

Itaú Cultural abre 'Ocupação em 2021' com mostra dedicada a Chiquinha Gonzaga

Negritude da compositora ganha destaque na exposição, que segue em cartaz até maio

Chiquinha Gonzaga tem obra homenageada em ocupação - Acervi/ Instituto Moreira Salles

Mergulhando na vida e obra da compositora, pianista e primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil, o Itaú Cultural abre nesta quarta-feira (24) a "Ocupação Chiquinha Gonzaga". A exposição resgata a sua afrodescendência, quase eliminada pelas práticas do racismo estrutural.

A ação tem curadoria dos Núcleos de Comunicação e Música da instituição, co-curadoria da cantora Juçara Marçal e consultoria de Edinha Diniz, biógrafa da compositora. Esta mostra foi desenvolvida integralmente durante a pandemia do Covid-19 e segue todos os protocolos e recomendações das autoridades sanitárias, ficando em cartaz até 23 de maio - com reservas para visitação feitas por meio do site sympla.com.br/agendamentoic.

Entre outras raridades, estará exposto o broche de ouro com pauta musical das primeiras notas da valsa Walkyria composta por Chiquinha Gonzaga em 1884, para a opereta A corte na roça. O objeto, uma das peças originais mais simbólicas em exibição, hoje pertencente ao acervo do Museu da República, foi oferecido a ela em 1885 por críticos teatrais, em decorrência do sucesso da opereta, e virou adereço habitual da maestrina desde então

‍Mulher negra, filha de pai branco e mãe “parda liberta” – termo utilizado no Assentamento de Batismo da mãe, que é um dos documentos que estarão na Ocupação –, que sofreram dificuldades por formarem um casal de pessoas de camadas diferentes. Rapidamente formatou sua personalidade talentosa e transgressora.

Ela nasceu na transição da Monarquia para o Império e viu a implantação da República. Abolicionista, lutou ativamente pela libertação dos escravizados. Enfrentou o forte conservadorismo da época e tornou-se compositora e maestrina, em um mundo em que a carreira artística feminina era vista com maus olhos. A compositora casou-se oficialmente uma única vez, mas viveu três diferentes relacionamentos amorosos em um tempo conservador em que não existia o divórcio.

São cerca de 120 itens na mostra, que conduzem o visitante pela vida e produção de Chiquinha, entre suas partituras, como a de Ó Abre Alas, a primeira marcha de Carnaval do país, composta em 1899 por ela para o Cordão Rosa de Ouro. Outra referência é A Corte na roça, espetáculo pelo qual se tornou a primeira mulher a escrever partitura para teatro no Brasil.

Documentos da época, objetos, partituras, capas e fotos são artigos encontrados por toda a exposição. Além disso, cinco vídeos produzidos pelo Itaú Cultural com textos biográficos feitos pela escritora e dramaturga Maria Shu foram escritos especialmente para a mostra, apresentam Chiquinha contando trechos de sua vida, na pele de Dona Jacira, multiartista e mãe de Emicida; Jup do Bairro, cantora, compositora e apresentadora; Beth Beli, percussionista e fundadora do bloco carnavalesco Ilú Obá De Min, a atriz Indira Nascimento e a cantora Fabiana Cozza.

‍A vida e carreira de Chiquinha se entrelaçam por momentos fundamentais da história do Brasil, como a proibição do tráfico internacional de escravizados, em meados do século XIX, a Lei do Ventre Livre, em 1871, a Lei dos Sexagenários, 1885, a assinatura da Lei Áurea, em 1888, e a Proclamação da República, no ano seguinte. Para levar o público à atmosfera do período, a Ocupação conta com cinco gravuras da coleção Brasiliana Itaú, com panoramas do Rio de Janeiro e imagens como a da Praça do Comércio. Toda a exposição é circundada por uma linha do tempo que faz um paralelo do Brasil que nascia como República com alguns acontecimentos da vida da maestrina.

Esquenta Online

Aquecendo os tambores para a exposição, o Itaú Cultural preparou programação prévia para que o público conhecesse um pouco mais da produção de Chiquinha Gonzaga. No dia 11 de fevereiro, a pianista Maria Teresa Madeira se apresentou em edição especial do Palco Virtual, via Zoom.

No dia seguinte, se apresentou contrabaixista Ana Karina Sebastião, uma das artistas que participou da instalação do piano de chão, na mostra, com a música: Candomblé. Por fim, no dia 14, a atriz Indira Nascimento, interpretou Ensaio sobre ter voz.

Atividades do educativo e mecanismos de acessibilidade, além de um hotsite dedicado a Chiquinha Gonzaga e o tempo histórico brasileiro em que ela viveu, publicado em www.itaucultural.org.br, também fazem parte do evento.

Serviço
Ocupação Chiquinha Gozanga, no Itaú Cultural
De terça a sexta, das 12h às 18h.
Sábados, domingos e feriados 11h às 17h 
Reservas - com agenda da semana aberta às segundas-feiras - pelo sympla.com.br/agendamentoic