BNDES vende últimas ações e deixa de ser sócio da Vale
Agora, o banco mantém em sua carteira apenas debêntures participativas da mineadora
O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) se desfez de suas últimas ações da Vale e deixa de ser sócio da mineradora. Com a venda de toda a sua posição na empresa, o banco arrecadou R$ 24 bilhões.
A alienação integral da participação na Vale foi confirmada em comunicado enviado pelo banco à CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Desde novembro, foram vendidas, em diferentes operações, 188,5 milhões de ações da mineradora, o equivalente a 3,57% do capital da companhia.
Antes, em agosto e em novembro, foram feitas duas grandes operações de vendas de lotes, um de 135 milhões e outro de 40 milhões de ações. Elas renderam ao banco R$ 8,1 bilhões e R$ 2,5 bilhões, respectivamente.
A primeira dessas operações foi a maior de "block trade" (quando a venda de grande volume de papéis, em bloco, é feita por um intermediário que procura interessados) da história do Brasil e da América Latina.
As vendas fazem parte de um esforço do BNDES para reduzir o tamanho de sua carteira de ações e, em consequência, os efeitos da volatilidade do mercado financeiro em seu balanço. Com os recursos arrecadados, o banco diz também ter maior possibilidade de oferecer financiamento a pequenas e médias empresas.
As operações têm contribuído para o aumento do lucro do BNDES mesmo em meio à pandemia. Entre janeiro e setembro de 2020, o lucro acumulado foi de R$ 13,7 bilhões. Além de Vale, foram vendidas ações de outras empresas, como Suzano, Fíbria, Grupo Rede e Petrobras, na maior oferta pública na Bolsa brasileira desde 2010, que movimentou R$ 23 bilhões.
No comunicado desta terça, o BNDES não informa o quanto arrecadou com as operações realizadas nos últimos meses, que foram feitas no varejo, sem a oferta de grandes blocos. A reportagem apurou que todo o ganho com a venda de papéis da Vale somou R$ 24 bilhões.
No texto, o banco afirma que "a BNDESPAR [seu braço de participações acionárias] finalizou, na presente data, o processo de alienação da integralidade de sua participação acionária na Vale, de modo que não possui mais ações de emissão da companhia".
Até 2020, a Vale era a segunda maior empresa na carteira de ações do BNDES, atrás apenas da Petrobras, cujo valor de mercado sofreu nos últimos dias com o temor de novas intervenções nos preços dos combustíveis após anúncio da nomeação do general Joaquim Silva e Luna para a presidência da estatal.
Agora, o banco mantém em sua carteira apenas debêntures participativas da Vale, títulos emitidos na época da privatização para garantir recursos para o financiamento de novas minas e que hoje rendem participações sobre a produção desses ativos.
Em outubro, quando anunciou o interesse em se desfazer desses papéis, a expectativa do banco era que as debêntures rendam cerca de R$ 6 bilhões aos cofres públicos, dos quais R$ 4 bilhões irão para a União, dona de dois terços dos 214,3 milhões de títulos envolvidos na oferta.