Pandemia

Covid-19: incertezas na economia permanecem em 2021

Recuperação da economia brasileira depende da vacinação em massa e agenda de reformas

Auxílio emergencial contribuiu para que setores não tivessem um desempenho tão ruim - Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

É comum que economistas e especialistas façam projeções para o desempenho econômico. Algumas vezes acertadas e outras equivocadas. Mas o resultado de 2020 não esteve em nenhuma previsão feita. A pandemia da Covid-19, que completa um ano desde o primeiro caso no Brasil, fez com que todas as expectativas de um ano positivo não se concretizassem e ainda causam impactos nas projeções de 2021. Para este ano, o cenário é de incertezas na economia brasileira, muito por conta da falta de perspectivas do plano de vacinação no País, considerados por especialistas como o principal fator para uma retomada econômica. 

O início de 2020 foi marcado por uma expectativa positiva para que o Brasil recuperasse a atividade econômica. Um dos principais motivos para a euforia do ano passado foi por conta da agenda de reformas, já que a da previdência havia sido aprovada recentemente e existia a esperança de aprovação da reforma tributária. Mas, ao fim do segundo mês do ano, todo o cenário mudou. 

Segundo o economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Pernambuco (Fecomércio-PE), Rafael Ramos, antes da pandemia a expectativa era de que o Produto Interno Bruto (PIB) apresentasse um crescimento próximo dos 3%.

“Quando iniciou 2020 se tinha uma euforia com projeções de crescimento do PIB, variando entre 2,5 e 3%. O Brasil vinha de uma reforma da previdência e tinha uma expectativa dessa agenda de reformas, com um ambiente de negócios positivo. A pandemia fez as projeções serem reavaliadas, com um cenário apocalíptico e expectativa de queda de dois dígitos do PIB, impulsionado também por um cenário de trabalho desolador, já que o desemprego aumentou”, disse Ramos. 

Na avaliação do economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fábio Bentes, o crescimento econômico de 2019 foi pequeno, e que o PIB de 2020 deve fechar na casa dos -4%. “A economia vinha de um 2019 modesto, de baixo crescimento, o PIB em 2019 cresceu apenas 1,4%, um baixo crescimento e considerando tudo que ocorreu ano passado, o cenário ficou pior. Embora não tenha dado oficial do PIB, é unânime uma queda de 4% na economia no ano passado”, contou. 

Em Pernambuco, o cenário era positivo, apesar da produção industrial que encerrou o ano de 2019 em queda de 2,5%, porém o bom desempenho se deu pelo resultado positivo do PIB do Estado que encerrou o ano com um crescimento de 1,9%, acima do desempenho do Brasil, que cresceu 1,1%. “Tivemos um PIB positivo, mesmo com uma taxa de desocupação em 14%, um cenário não tão favorável, mas foi um ano positivo em 2019. No início de 2020 observamos uma recuperação, que provavelmente iria se reverter em emprego e em um Produto Interno Bruto melhor”, contou o economista da Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe), Cezar Andrade. 

Para 2021, a expectativa dos especialistas é de que o ano deva ser de recuperação, a depender da campanha nacional de vacinação contra a Covid-19 e a agenda de reformas estruturais, como conta Cezar Andrade. “É um ano de incertezas, o principal fator é a vacinação, enquanto não tiver para todo mundo, teremos incertezas se a economia vai fechar positiva ou não porque a economia muda e os casos estão aumentando. Se não houver reforma tributária vai cair a confiança, ele não investe e consequentemente não gera emprego. É um ano de impasse, depende de outros fatores”, explicou o economista da Fiepe. 

O economista-chefe da CNC, Fábio Bentes, avalia que o cenário atual é mais preocupante, já que a inflação dos alimentos está alta. “Quando detalhamos a inflação, os alimentos, que consomem um quarto do orçamento, um item importante, teve alta de 14% nos 12 meses, ano passado era de 6%, o índice é maior. Alimento não se dribla, é difícil contornar alta dos preços. As expectativas são de recuperação parcial, a expectativa é de um aumento de 3,5% do PIB, já tínhamos uma recuperação, só que não se esperava uma segunda onda”, destacou Bentes. 

O economista da Fecomércio-PE aponta que o cenário também é de incertezas, e que intervenções em empresas estatais podem prejudicar uma retomada econômica mesmo durante a pandemia. “O quadro fiscal está difícil, deteriorado, tem outras preocupações de comprometer teto de gastos, dando sinalização ruim para o mercado externo, o país não tem uma boa gestão fiscal e afasta investimentos. É um momento complicado e para piorar teve a intervenção na Petrobras. Tem que ajustar essas questões, os programas que podem ser colocados em prática para que assim possa se recuperar de maneira rápida, mas alinhado sempre a vacinação”, ressaltou Rafael Ramos.