PERNAMBUCO

Com Covid-19 em alta no Estado, usuários do transporte público questionam qualidade do serviço

Fiscalização do uso de máscaras, superlotação e quantidade de ônibus em circulação são os pontos apontados; Grande Recife afirma estar agindo para atender população

Com a aceleração dos casos de Covid-19 em Pernambuco, usuários do transporte público questionam o serviço - Rafael Furtado/Folha de Pernambuco

A aceleração do número de casos de Covid-19 que Pernambuco tem enfrentado nas últimas semanas motivou uma série de ações restritivas por parte do governo a fim de tentar frear mais uma onda de transmissão do coronavírus, que continua crescendo com taxas de ocupação nas UTIs acima de 90%. Se, por um lado, as normas para limitar o horário de funcionamento e a capacidade de pessoas no comércio estão mais rígidas, por outro, passageiros cobram medidas contra a superlotação nos ônibus e nos vagões de metrô, onde são vistas aglomerações sem o devido distanciamento social. 

A Folha de Pernambuco esteve ontem no terminal do Cais de Santa Rita, no Centro do Recife, e conversou com passageiros sobre o assunto. Entre eles, estava a cuidadora de idosos Anairda Santana, 28, que tem receio em andar de ônibus, já que trabalha diretamente com pessoas do grupo de risco. Ela conta que é comum usuários tirarem a máscara logo que entram nos veículos na saída dos terminais. “No comércio, a gente chega, compra e sai. Mas, no ônibus, está todo mundo ali junto. Se alguém tosse ou espirra, fica ali mesmo”, observa. “Depois que (o ônibus) sai da integração e vai de parada a parada, sobem mais cinco, mais dez usuários. Não adianta fiscalizar só na integração”.

Já a cabeleireira Maria de Lourdes Silva, 57, defende que a frota seja ampliada. “A gente entra nos ônibus, tem gente sem máscara e não pode falar nada, que tem briga”, relata. O ambulante Adelmo Silva, 35, diz que concorda com as medidas restritivas, mas que deveria haver um apoio mais efetivo à população para se manter financeiramente na pandemia e precisar sair de casa o mínimo possível. “O governo não está dando mais auxílio, a real assistência que o ser humano merece”, argumenta.

Por meio de nota, o Grande Recife Consórcio explicou que a fiscalização do uso de máscaras dentro dos terminais é feita de forma educativa, abordando os usuários, e, inclusive, entregando máscara a quem não tem. “Cerca de 38 mil máscaras já foram distribuídas nos terminais integrados. Dentro dos ônibus, o motorista tem o poder de solicitar o uso do acessório aos passageiros, conforme Portaria 074/2020 do órgão gestor. Às empresas operadoras, cabe instruir motoristas, cobradores e fiscais sobre a importância do uso do item de proteção para inibir a propagação do novo coronavírus”, diz o documento.

Para o professor Ricardo Salvador, 47 anos, é uma contradição que haja limite de pessoas nos estabelecimentos comerciais e o transporte de massa continue funcionando sem controle. “Distanciamento não existe, porque vão passageiros sentados e em pé. Então, é uma medida sem sentido. Por que não existem esses cuidados no ônibus e no metrô?”, questiona.

A respeito da lotação nos ônibus, o Consórcio informou que a frota de veículos das linhas mais movimentadas recebeu reforço. “Desde janeiro, 150 veículos voltaram a circular e têm ajudado a evitar lotação, principalmente nos horários de pico. Algumas linhas, inclusive, já circulam com 100% da frota”, cita a nota. 

Além disso, o Grande Recife argumentou que a implantação do horário social com tarifa reduzida, das 9h às 11h e das 13h30 às 15h30, estimula o uso do transporte público no horário fora pico, já para poder proporcionar o escalonamento do uso do sistema, ajudando a reduzir a demanda de passageiros nos horários mais movimentados, que são os das 5h às 8h e das 16h às 19h. 

A reportagem da Folha de Pernambuco procurou também a Companhia Brasileira de Trens Urbanos para saber se há algum plano de ação que evite as aglomerações nos vagões e nas plataformas, mas até o fechamento desta edição não conseguiu retorno.