Coronavírus

Em quais vacinas apostar diante das variantes da Covid-19?

Os estudos iniciais indicam uma eficácia menor das principais vacinas contra o coronavírus disponíveis atualmente

Vacina de Oxford/AstraZeneca - Fayez Nureldine/AFP

Há vários meses, começaram a aparecer novas cepas do vírus SARS-CoV-2, causador da covid-19, diferentes das versões contra as quais foram desenvolvidas as primeiras vacinas.

Uma delas, a chamada variante britânica, está desde a semana passada na maioria das novas contaminações na França. É certo que esta cepa parece, em sua forma atual, representar um problema mais no aumento da contagiosidade do que na resistência às vacinas.

Mas diante de outras variantes, especialmente a chamada sul-africana, os estudos iniciais indicam uma eficácia menor das principais vacinas contra o coronavírus disponíveis atualmente.

Então, em que tipo de vacina podemos confiar mais diante dessa situação mutável? Para os pesquisadores consultados pela AFP, o desafio consiste primeiro em adaptar rapidamente os imunizantes já desenvolvidos.

Agora "há formatos que podem se adaptar mais rápida e facilmente", destaca Sylvie Van der Werf, virologista do Instituto Pasteur da França. "Claramente, tratam-se das de RNA mensageiro".

Esta é a tecnologia usada nas vacinas da Pfizer/BioNTech e da Moderna, que injetam diretamente sequências do RNA - que levam as células a produzirem proteínas presentes no coronavírus para acostumam o sistema imunológico a ele.

Estas sequências podem ser sintetizadas muito rapidamente em laboratório.

Ao contrário, as vacinas da AstraZeneca e da Johnson & Johnson utilizam a técnica do "vetor viral". Também integram material genético nas células, mas pegam carona em um vírus pré-existente diferente do coronavírus. Portanto, demoram mais para ser desenvolvidas.

Em pouco mais de um mês, a Moderna lançou testes clínicos de uma nova vacina, enquanto a AstraZeneca advertiu que estes trabalhos levariam seis meses, um prazo curto em comparação com a norma.

- Vacinas inativadas -

Mas "não é certo que haja uma diferença tão grande entre as de RNA mensageiro e as de vetores virais, uma vez que se leve em conta a produção em larga escala", explica à AFP Julian Yang, virologista da Universidade britânica de Leicester.

De fato, as vacinas de RNA mensageiro precisam ser mantidas a temperaturas muito baixas, o que complica as etapas que se seguem à síntese do princípio ativo.

Em qualquer caso, estas duas categorias inovadoras são muito mais rápidas de desenvolver do que as vacinas convencionais, chamadas "inativadas". No entanto, o governo britânico depositam grandes esperanças nestas vacinas para responder ao aparecimento de novas cepas.

Ainda não estão aprovadas na Europa contra a covid-19, mas espera-se que uma delas, desenvolvida pela Valneva, seja distribuída no Reino Unido no outono no hemisfério norte.

Enquanto as vacinas de RNA mensageiro e de vetor viral se concentram em uma pequena parte do vírus - a chamada proteína S (ou "Spike") -, as vacinas inativadas usam todo o coronavírus para produzir a resposta imunológica.

Isto "faz com que seja muito mais provável que reflita as mutações", explicou o secretário de Estado Nadhim Zahawi aos deputados britânicos no começo de fevereiro, avaliando que a vacina poderia ser, portanto, "incrivelmente eficaz". 

Mas é possível confiar em uma vacina que não precise ser readaptada com frequência? A ideia não convence os pesquisadores entrevistados pela AFP, que a consideram muito hipotética.

"Por enquanto não foi demonstrado", comenta Etienne Decroly, especialista em vírus emergentes do Centro Nacional para a Pesquisa Científica na França, que confia em uma vacina "universal" que não exija nenhuma adaptação.