Com piora da Covid, Bolsonaro se reúne com CEO da Pfizer e governo anuncia 14 mi de doses até junho
Com o aumento do número de mortes pelo coronavírus no país, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se reuniu na manhã desta segunda-feira (8) com o CEO mundial da Pfizer, Albert Bourla. Após o encontro, o ministro Paulo Guedes (Economia) anunciou uma antecipação de 5 milhões de doses da farmacêutica para o primeiro semestre deste ano.
Pela última previsão divulgada pelo governo, o Brasil receberia 2 milhões de doses em maio e outros 7 em junho, totalizando 9 milhões até o fim do semestre e cerca de 100 mi até o fim do ano. Agora, segundo Guedes, 5 milhões das doses previstas para o segundo semestre seriam distribuídas entre maio e junho, o que elevaria para 14 milhões a quantidade de vacinas disponibilizadas no primeiro semestre.
"A grande guerra, como a economia e a saúde andam juntas, é antecipar a vacinação em massa. Conseguimos praticamente uma declaração de que o acordo está fechado", disse Guedes após a reunião.
Além disso, o governo espera que parte dos 61 milhões de doses previstos para o terceiro trimestre (outubro, novembro e dezembro) seja antecipada para o segundo trimestre (julho, agosto e setembro).
"A grande maioria das vacinas da Pfizer estava em outubro, novembro e dezembro. O presidente fará esforço para que seja antecipado do último trimestre para o terceiro trimestre", disse Airton Antônio Soligo, assessor especial do Ministério da Saúde, que representou a pasta na reunião, já que o general Eduardo Pazuello cumpre agenda no Rio de Janeiro.
O encontro, realizado por videoconferência, foi para discutir detalhes de acordo inicial fechado na semana passada pelo governo brasileiro para adquirir a compra de doses da vacina da empresa farmacêutica. A previsão é que o contrato seja assinado nesta semana.
A reunião, que não estava prevista na agenda do presidente, faz parte de estratégia esboçada pelo Palácio do Planalto para tentar reduzir o desgaste criado por Bolsonaro.
Desde o ano passado, o presidente tem minimizado a pandemia do coronavírus e já questionou a efetividade da vacina Coronavac, desenvolvida no Brasil pelo Instituto Butantan.
Conforme o jornal Folha de S.Paulo publicou no domingo (7), o governo brasileiro rejeitou no ano passado proposta da farmacêutica Pfizer que previa 70 milhões de doses de vacinas até dezembro deste ano. Do total, 3 milhões estavam previstos até fevereiro, o equivalente a cerca de 20% das doses já distribuídas no país até agora.
A reunião também teve como motivação, segundo aliados do presidente, tentar diminuir a repercussão negativa dessa rejeição.
Nesta segunda, Guedes disse que "os dois lados [governo e Pfizer] demoraram um pouco na negociação", mas que é preciso "olhar para frente" e "acabar com a narrativa de guerra, de destruição".
No domingo, o Brasil registrou 1.054 novas mortes pela Covid-19 e manteve, pelo nono dia seguido, recorde de média móvel de óbitos, com 1.497. O recorde anterior era de 1.455.
Dessa forma, o país completou 46 dias com média móvel acima de 1.000. O número de casos nas últimas 24 horas foi de 79.237.
Com isso, o total de mortes no país chegou a 265.500 e, o de casos, a 11.018.557 desde o início da pandemia.
Desde a semana passada, integrantes do bunker digital do Palácio do Planalto identificaram que diminuiu nas redes sociais a defesa à postura do presidente contrária a medidas de restrição para diminuir as mortes pela doença.
A reação nas redes sociais alarmou a equipe de Bolsonaro, que considerou indispensável apresentar à sociedade uma espécie de prestação de contas sobre o que o governo federal tem feito para reagir às críticas ao presidente.
Bolsonaro também tem sido pressionado por governadores, que articulam anunciar conjuntamente medidas restritivas para reduzir o avanço da pandemia no país.
O presidente critica estas medidas e, nesta segunda-feira, disse que não usará o que chamou de "meu Exército" para executar lockdowns ou outras medidas restritivas pelo país.
Diante da dificuldade em se livrar de rótulos de "genocida" e "negacionista", Bolsonaro tenta mudar seu discurso, agora defendendo a vacina. A estratégia foi inaugurada por Guedes.
"Acho que a vacinação em massa agora é a primeira prioridade do governo", afirmou.
No início da noite, em entrevista à CNN Brasil, Bolsonaro também rebateu críticas e defendeu vacinação. "As mortes, infelizmente, estão acontecendo. Agora, me chamar de genocida, como uma TV me chamou outro dia, isso é inadmissível, isso é um crime", disse.
Bolsonaro afirmou que "alguma coisa está sendo feita" e disse que, graças ao chamado tratamento precoce, que na verdade é ineficaz, "temos menos mortes que muitos países de primeiro mundo".
Sem dar uma data, Bolsonaro afirmou que vai sancionar projeto de lei aprovado pelo Congresso que cria ambiente jurídico para que o governo aceite as cláusulas e assine contrato com empresas com Pfizer e Janssen. "Vamos tocar o barco. A vacina é importante, sim, de forma voluntária. A gente espera que brevemente, daqui a alguns meses, a gente fique livre da pandemia", disse na entrevista.
Bolsonaro, que já fez inúmeras críticas públicas a Pfizer, inclusive afirmando que quem tomasse o imunizante poderia ter efeitos colaterais como "virar jacaré", mudou de tom e elogiou a farmacêutica na reunião virtual com o CEO da empresa.
"Quero apenas agradecer a gentileza deste encontro. Reconhecemos a Pfizer como uma grande empresa mundial, com grande espaço no Brasil também", disse Bolsonaro em vídeo divulgado por ele mesmo.
"E em havendo, repito, possibilidades, nós gostaríamos de fechar contratos com os senhores até pela agressividade que o vírus tem se apresentado no Brasil. Muito obrigado a todos, bom dia e que Deus nos abençoe", concluiu o presidente no trecho disponibilizado em vídeo.
Em nota, a Pfizer informou que, no encontro, o CEO da empresa "reiterou o compromisso da companhia com o Brasil".
"Albert Bourla reforçou que a Pfizer considera o país um dos parceiros mais valiosos e importantes globalmente, e que a Pfizer espera seguir avançando para o fornecimento de sua vacina contra a Covid-19 para apoiar o governo brasileiro na preservação da saúde da população brasileira", diz trecho do comunicado.
O texto não faz qualquer referência ao número de doses e encerra dizendo que "a Pfizer e a BioNTech estão firmemente comprometidas com o acesso equitativo às vacinas Covid-19 para pessoas em todo o mundo".