Pandemia

Brasil precisa acelerar vacinação para permitir retomada econômica, diz OCDE

Velocidade das campanhas de vacinação é crucial para reduzir outros riscos que afetam a economia - Karen González/OPAS

A ressurgência da pandemia no Brasil e a lentidão na vacinação contra Covid-19 elevam os riscos para a recuperação econômica brasileira, afirmou nesta terça (9) a OCDE (grupo de 38 dos principais países do mundo).
 
Segundo a economista-chefe da organização, Laurence Boone, a velocidade das campanhas de vacinação é crucial para reduzir outros riscos que afetam a economia, como o aumento da desigualdade, desemprego duradouro, desequilíbrio fiscal e instabilidade do mercado financeiro.
 
"Os governantes no mundo todo precisam garantir que vencem a corrida contra a Covid-19", afirmou Boone, que apresentou a previsão econômica mais recente da entidade. A OCDE elevou sua estimativa de crescimento da economia mundial neste ano, de 4,2%, na análise feita em novembro, para 5,6% nos cálculos divulgados nesta terça. Para 2022, a previsão é de crescimento global de 4%.
 
A instituição alertou porém que as perspectivas são bastante desiguais. Os EUA, que bateram recorde de vacinação neste final de semana e acabaram de aprovar um pacote de estímulo fiscal de US$ 1,9 trilhão (cerca de R$ 11 tri, pelo câmbio atual), devem ser um dos principais motores do crescimento: a organização calcula que a economia americana deve adicionar um ponto percentual ao crescimento global.
 
Boone afirmou que pacotes de ajuda são importantes, mas podem ser desperdiçados se não houver proteção contra o contágio do coronavírus: "O que importa é a combinação entre saúde e estímulos fiscais".
 
Se programas de vacinação não forem rápidos o suficiente para cortar as taxas de infecção e impedir a transmissão de variantes mais contagiosas, a confiança dos consumidores e das empresas será afetada, tolhendo a recuperação econômica, disse ela.
 
Para a economia brasileira, a OCDE prevê crescimento de 3,7% neste ano e 2,7% em 2022. Em ambos os casos, houve elevação em relação a estimativas anteriores, mas os números ficam bem abaixo dos previstos para a média do G20: 6,2% e 4,1%, respectivamente.
 
A economista-chefe também alertou que a pandemia tende a elevar a desigualdade entre países e entre setores, agravar a desigualdade econômica e social e prejudicar principalmente os grupos mais vulneráveis, com risco de danos duradouros ao emprego e à qualidade de vida de boa parte da população.


A OCDE recomenda que programas governamentais de apoio para preservar empregos e sustentar a atividade de empresas sejam mantidos enquanto as economias tiverem que impor restrições contra o contágio.
 
"Deve ser dada especial atenção ao apoio aos jovens e aos menos qualificados, para evitar uma repetição dos danos a longo prazo causados às perspetivas de emprego destes grupos vulneráveis após a crise financeira de 2008", afirma o relatório.
 
Boone afirmou ainda que as perspectivas de uma recuperação global mais rápida levaram a expectativas do mercado financeiro de alta da inflação. De acordo com as previsões da OCDE, as pressões de preços devem ser moderadas nas economias avançadas, mas, "nas economias de mercado emergentes, a inflação pode aumentar ainda mais".
 
Ela afirmou que os níveis da dívida pública aumentaram acentuadamente em quase todos os países, mas a maioria das economias da OCDE continuam a se beneficiar de taxas de juros muito baixas, que protegem a sustentabilidade fiscal. Uma instabilidade política ou econômica prolongada, porém, pode elevar os juros em alguns países, disse Boone, agravando problemas fiscais.