“Suíte Master Quarto de Empregada”: exposição fotográfica ganha vida em site
Fotos destrincham relações entre patrões e empregadas domésticas; Live com apresentação acontece nesta terça (9), às 19h
Um recorte que pode passar despercebido sobre a classe média brasileira. Assim se pode definir a exposição fotográfica virtual “Suíte Master Quarto de Empregada” do jornalista, fotógrafo e professor da Universidade Federal de Pernambuco, José Afonso Silva Júnior. O trabalho é uma provocação sobre as relações – não apenas profissionais, legais, trabalhistas, mas também pessoais – entre patrões e empregados (domésticos).
Nos últimos três anos, José Afonso fotografou, como o título da mostra sugere, esses ambientes em casas e apartamentos da Região Metropolitana do Recife (indo da classe média baixa até a mais abastarda) e documentou não apenas imagens, mas diálogos, acordos (inclusive os velados) e situações diversas. Todo o conteúdo está disponível para o público no site da exposição e o autor conversa com o público numa “live”, na terça-feira (9/3), a partir das 19h, no Youtube e no Facebook. A mostra tem curadoria do também fotógrafo, professor e pesquisador Eduardo Queiroga.
O “quarto de empregada” se transformou em quarto de serviço, reversível ou simplesmente depósito. A transformação cosmética, no entanto, não evitou a continuidade das relações precárias. José Afonso constatou, por exemplo, que os depósitos (locais que não precisam obedecer às normas arquitetônicas estabelecidas para quartos: ventilação, iluminação, etc.) passaram a ser usados também como dormitórios.
O fotógrafo diz que para ter acesso completo a casa das pessoas se comprometeu em manter o anonimato dos envolvidos. Jornalista por formação, José Afonso não estava ali, no entanto, para captar apenas imagens, queria também e até na mesma medida, histórias, contextos e diálogos. A estratégia deu certo. Além de um amplo material fotográfico sobre o tema, também colheu frases intrigantes. Das públicas, como a do ministro da Economia, Paulo Guedes que declarou na época em que o dólar era mais baixo, “havia empregada doméstica indo pra Disneylândia, uma festa danada”; a privadas, “Depois da novela, ela está liberada e pode ir dormir”.
Ele reconhece que o tema acaba remetendo, ainda que involuntariamente à obra do sociólogo Gilberto Freyre, o clássico Casa Grande & Senzala. Mas pondera que, em que pese, e muito, o entendimento no tempo atual e a disposição dos espaços como um prolongamento de relações coloniais e escravocratas, ele procurou ter a devida cautela no conjunto das imagens no sentido de não repetir o tom gilbertiano.
Serviço
“Suíte Master Quarto de Empregada
https://suitemasterquartoempregada.com/