Crise leva custo de captação dos bancos acima da Selic pela primeira vez, diz BC
Segundo Banco central, a manutenção de recursos em caixa aumentou custo e os prazos encurtaram
A crise econômica gerada pela pandemia de Covid-19 fez com que o custo de captação dos bancos ficasse acima da taxa básica de juros (Selic) pela primeira vez. A avaliação foi publicada na ata da reunião do Comef (Comitê de Estabilidade Financeira) do Banco Central, divulgada nesta terça-feira (9).
O custo de captação é a taxa que as instituições pagam para tomar crédito no mercado, que normalmente é igual à Selic, que está a 2% ao ano, menor nível da história.
Segundo o BC, a manutenção de liquidez (recursos em caixa) aumentou esse custo e os prazos encurtaram.
"Em decorrência de vários fatores estruturais e conjunturais, o perfil de captação do SFN [sistema financeiro nacional] tem se alterado. A taxa média de captação tem se elevado, estando, pela primeira vez desde que este acompanhamento é realizado, acima da taxa básica de juros", diz o texto.
Quando há incertezas no cenário econômico, a tendência é de encurtamento das dívidas, já que o tomador não tem confiança para assumir compromissos de longo prazo.
"Ao mesmo tempo, os prazos das captações foram encurtados em decorrência da crise, o que exige volumes maiores de liquidez disponíveis nas instituições", explica o comitê.
O BC avaliou, no entanto, que os bancos têm capacidade de adaptação.
No documento, a autoridade monetária afirmou ainda que a inadimplência pode ficar acima do estimado, embora esse não seja o cenário esperado.
"Embora não seja o cenário esperado, as perdas de crédito podem ser superiores aos níveis estimados. A retirada das medidas emergenciais e a incerteza quanto ao prolongamento da pandemia e seus desdobramentos sobre a renda e o emprego têm potencial para afetar a qualidade do crédito", ressalta.
"O Comef avalia que o sistema financeiro mantém reservas robustas para fazer frente a essas incertezas graças ao aumento das provisões realizado pelas instituições, à melhora na capitalização e à restrição à distribuição de resultados em 2020", completa.
Provisão é o valor que os bancos têm de manter em caixa para assegurar a operação. Quanto maior é o risco de calote, maior é esse montante.
Por causa da pandemia, o CMN (Conselho Monetário Nacional) proibiu, em abril, a distribuição de lucros dos bancos aos acionistas e aos dirigentes acima do mínimo legal estabelecido em contrato social ou estatuto, que normalmente é de 25%.
Em dezembro, a medida foi flexibilizada, permitindo a distribuição de até 30% do lucro líquido dos bancos.
O BC ponderou que vários estados e municípios ainda mantêm, em algum grau, medidas emergenciais e que a saúde financeira das empresas depende da velocidade da recuperação econômica.
"Em algumas jurisdições relevantes, já se observa elevação do número de pedidos de falência para acima dos níveis pré-pandemia", destaca.
A cada três meses o Comef se reúne para decidir o percentual de ACCP (Adicional Contracíclico de Capital Principal), hoje zerado. Se o comitê entender que o mercado de crédito está se expandindo acima dos níveis saudáveis para a economia, distorcendo preços, ele pode aumentar esse percentual para frear o movimento.
Segundo o documento, o percentual deve ficar em zero até o fim deste ano.
"Considerando que um aumento do ACCP entra em vigor após um ano da deliberação do Comef, ele não produziria efeitos antes do final de 2022. A decisão considerou as condições atuais e as expectativas quanto ao comportamento do mercado de crédito e dos preços dos ativos", diz.