Pandemia do novo coronavírus completa um ano
Depois de meses, os países se organizaram para enfrentar a doença, mas a resposta continua desigual
Há exatamente um ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a covid-19 como pandemia, preocupada com os "níveis alarmantes de propagação". Depois de meses de caos e esforços, os países se organizaram para enfrentar a doença, mas a resposta continua desigual de acordo com as regiões.
Até o momento, o vírus matou pelo menos 2.613.983 pessoas em todo planeta, e mais de 117,6 milhões de casos foram registrados, segundo um balanço da AFP.
País mais afetado com mais de meio milhão de mortos, os Estados Unidos aceleram a vacinação. Na quarta-feira, foi aprovado um plano de estímulo econômico de US$ 1,9 trilhão, uma "vitória histórica" para o presidente Joe Biden e uma lufada de ar que insufla otimismo.
Quase US$ 15 bilhões serão dedicados à vacinação, US$ 50 bilhões, a testes e rastreamento de contatos, e outros US$ 10 bilhões, à produção de vacinas.
Mais de 93 milhões de doses de vacina já foram aplicadas no país, que fez pedidos suficientes para receber até o fim de maio a quantidade necessária para vacinar todos os americanos.
Apesar da notícia, Biden pediu a negociação de um contrato de 100 milhões de doses adicionais com a Johnson & Johnson.
O número diário de mortos caiu para 1.600 em média durante a semana passada, contra 2.000 nas semanas anteriores.
- "2021 será muito duro" -
A situação é muito mais complicada no Brasil, que parece em uma crise cada vez mais profunda. Na quarta-feira, o país bateu mais uma vez o recorde de mortes em 24 horas (2.286).
"Estamos no pior momento da pandemia no Brasil, o índice de transmissão com as variantes torna a epidemia ainda mais grave. O ano de 2021 será ainda mais difícil", disse à AFP a pneumologista Margareth Dalcolmo, da Fiocruz.
"Estamos preocupados com a situação no Brasil. Este é um forte lembrete da ameaça de um novo ressurgimento, uma vez que as áreas gravemente atingidas pelo vírus continuam a ser muito vulneráveis a infecções", declarou a diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Carissa Etienne.
A vacinação começou de maneira tardia no país, que já registrou 270.656 mortes provocadas pela covid-19. O presidente Jair Bolsonaro minimiza a pandemia e é contrário a fechar estabelecimentos comerciais para, segundo ele, preservar empregos.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou duramente o atual governo.
"Não sigam nenhuma decisão imbecil do presidente da República ou do Ministério da Saúde. Tomem vacina", disse Lula na quarta-feira, anunciando que ele próprio esperava ser vacinado na próxima semana.
Brasil e México concentram dois terços das mortes na América Latina e Caribe, região que tem balanço conjunto de 703.922 vítimas fatais e 22.260.740 casos, segundo os números atualizados da AFP.
- Crianças com fome, isoladas -
Em um ano, a pandemia também provocou o retrocesso de todos os indicadores que medem o desenvolvimento de crianças e adolescentes no mundo, adverte o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
"Aumentou o número de crianças com fome, isoladas, abusadas, ansiosas, que vivem na pobreza e são forçadas a se casar", afirmou a diretora-executiva do Unicef, Henrietta Fore.
"O acesso à educação, socialização e serviços essenciais, incluindo saúde, nutrição e proteção diminuiu. Os sinais de que as crianças carregarão as cicatrizes da pandemia nos próximos anos são inconfundíveis", completou.
Entre seis e sete milhões a mais de crianças podem ter sofrido desnutrição em 2020, um aumento de 14% que pode ser traduzido em mais de 10.000 mortes adicionais por mês, principalmente na África Subsaariana e no sul da Ásia.
Além disso, o coronavírus também provocou a suspensão das campanhas de vacinação contra outras doenças, como o sarampo, em 26 países, o que aumenta as ameaças à saúde dos não imunizados.
Fore pediu que as crianças estejam no "centro dos esforços de recuperação", com "prioridade" para a reabertura das escolas e a proteção social das famílias, inclusive com transferência de renda, para evitar "uma geração perdida".
- Expectativa de vida -
Na Europa, persistem vários pontos preocupantes, como a região de Tirol na Áustria, Nice e Moselle na França, Bolzano na Itália, e áreas da Baviera e Saxônia na Alemanha.
A França vai transferir os pacientes de algumas regiões para aliviar os hospitais que estão lotados, sobretudo na região de Paris.
A Polônia também está preocupada com um novo recorde de contágios que as autoridades atribuem ao "relaxamento crescente" da população e à propagação da variante inglesa.
Na Itália, a expectativa de vida caiu quase um ano, para 82,3 anos, devido à pandemia, de acordo com as estatísticas oficiais.
Um estudo publicado na quarta-feira calcula que a variante britânica é 64% mais mortal.
Para cada 1.000 casos detectados, a variante britânica provoca 4,1 mortes, contra 2,5 do coronavírus original, concluíram os autores do estudo publicado na revista médica BMJ.