EUA

Câmara de NY abre caminho para impeachment de governador por acusação de assédio

59 democratas na Câmara estadual chegaram a assinar uma declaração exigindo que Cuomo renunciasse

Governador de NY, Andrew Cuomo, acusado de assédio sexual - Seth Wenig/POOL/ AFP

A Câmara de Nova York abriu, nesta quinta-feira (11), uma investigação sobre o governador do estado Andrew Cuomo, após quatro de suas ex-funcionárias o acusarem de assediá-las sexualmente.
 
Com a decisão, que prepara o terreno para o primeiro esforço de impeachment em mais de um século em Nova York, o Comitê Judiciário ganha ampla jurisdição para investigar não só as alegações de assédio sexual, mas também acusações de que sua administração encobriu a extensão total das mortes em asilos durante a pandemia.
 
O governador vive um dos momentos mais turbulentos de seus três mandatos até agora. A luz verde para a investigação, que veio após uma reunião de mais de três horas entre os legisladores, mostra também que Cuomo não tem grande apoio de seu Partido Democrata.
 
Cuomo nega as acusações e prometeu colaborar com a investigação. Ele chegou a fazer um mea-culpa, afirmando que era um costume seu beijar e abraçar pessoas ao cumprimentá-las, pedindo desculpas por qualquer comportamento que tenha feito "as pessoas se sentirem desconfortáveis".
 
O anúncio da decisão da Câmara foi feito no mesmo dia em que 59 democratas na Câmara estadual - cerca de 40% das cadeiras dos membros do partido - assinaram uma declaração exigindo que Cuomo renunciasse imediatamente após as acusações de assédio.
 
"Os relatos de acusações sobre o governador são graves", disse o presidente da Casa, Carl Heastie, um democrata, em comunicado, acrescentando que a investigação incluirá entrevistas com testemunhas, intimação de documentos e avaliação de provas.
 
Heastie sinalizou que não avançaria com o impeachment sem a maioria de sua própria sigla democrata, uma prática comum para quase todas as legislações na Câmara.
 
Contra o governador, pesam denúncias de investidas indesejadas e comentários inoportunos. A ex-funcionária Charlotte Bennett, 25, que era uma assistente-executiva e conselheira política na área de saúde até deixar o cargo em novembro, o acusou de assediá-la sexualmente no ano passado.
 
Segundo disse ao New York Times, Cuomo lhe perguntou sobre sua vida sexual e se ela já tinha feito sexo com homens mais velhos. Bennett disse que ela relatou o ocorrido ao chefe de gabinete e foi transferida para outra função - o jornal americano corroborou o relato dela com entrevistas de amigas e parentes a quem ela contou sobre os incidentes na época e fez uma revisão de mensagens de texto e emails.
 
As acusações de Bennett surgiram dias depois que outra ex-assessora do governo, Lindsey Boylan, complementou denúncias anteriores de assédio sexual que havia feito contra o governador.
 
Boylan, que trabalhou na agência de desenvolvimento econômico do estado de 2015 a 2018, publicou na quarta-feira (24) um artigo em que detalhou vários anos de interações desconfortáveis com o democrata.


Boylan afirmou que seu chefe na época lhe disse que Cuomo tinha "tesão" por ela e que o governador "se esforçou para me tocar no traseiro, nos braços e nas pernas". Em outubro de 2017, durante um voo na volta de um evento no oeste de Nova York, disse Boylan, Cuomo falou que eles deviam "jogar strip poker".


Um dia depois que o NYT revelou as denúncias de Bennett, o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, pediu investigações independentes das denúncias de assédio sexual e mortes de idosos por coronavírus.
 
Já o Wall Street Journal publicou no sábado (6) que uma ex-funcionária disse que Cuomo às vezes a cumprimentava com um abraço e beijos nas duas bochechas, a chamava de "querida", beijava sua mão e perguntava se ela tinha namorado.
 
No mesmo dia, o Washington Post divulgou que mais uma ex-assessora relatou que o governador a abraçou em um quarto de hotel após um evento de trabalho.