Um salto de fé: Keila Costa concilia rotina de gestora com sonho de disputar quinta Olimpíada
Atleta pernambucana pode se tornar a primeira brasileira do atletismo a atingir a marca esportiva, em meio à missão de comandar a pasta de Esportes da Prefeitura de Abreu e Lima
Um salto de fé pode ser motivado por um sonho, sem a garantia do que estará do outro lado. Sair do chão, mesmo que por poucos segundos, para pousar em outro, menos duro e o mais longe possível do ponto inicial. Um salto de fé também é se arriscar em outro lugar. Desconhecido, mas a ser desbravado por meio da crença de que é possível atingir o inesperado. Especialista no salto em distância e salto triplo, a pernambucana Keila Costa sonha em ser a primeira atleta da modalidade no Brasil a disputar cinco Olimpíadas. Tudo isso dividindo o tempo entre os treinamentos no Parque e Centro Esportivo Santos Dumont, em Boa Viagem, Zona Sul do Recife, com o de secretária municipal de Esportes, na cidade de Abreu e Lima, na Região Metropolitana do Recife. Obter o feito histórico no esporte, conciliando com a vida de gestora, é o desafio de Keila. O mais novo salto de fé.
Keila e atletismo se conheceram ainda na infância. "Comecei na escola, nas aulas de educação física, com 10 anos. Depois, com 14, entrei em um projeto social, mas não imaginava ser uma atleta olímpica. Quando comecei a participar de competições de nível Norte/Nordeste, ganhando medalha, percebi que poderia viver disso”, contou.
Ao longo das quase três décadas no esporte, Keila atingiu marcas importantes. Foi bronze no salto em distância no Mundial de Doha (2010) e prata no salto triplo nos Jogos Pan-Americanos de Toronto-2015 e no Rio-2007, além de ter ficado no segundo lugar mais alto do pódio no salto em distância no Pan realizado no Brasil. Em Jogos Olímpicos, já são quatro participações: Atenas-2004, Pequim-2008, Londres-2012 e Rio-2016. A quinta Olimpíada, feito inédito para um atleta do País na modalidade, é o principal objetivo em 2021.
Medalhista de ouro no Norte/Nordeste de Atletismo e prata no GP Brasil e no Troféu Brasil, a saltadora precisa atingir os índices estabelecidos para garantir vaga nos Jogos ( 6m82 para o salto em distância e 14m30 para o salto triplo). “Salto em distância é mais difícil. Minha melhor marca até hoje foi 6,88m. No salto triplo eu tenho mais chances. Parei um tempo por conta de lesões e cheguei até a mudar a perna de salto para continuar competindo. Na pandemia, como tirei os impactos, naturalmente eu fiquei boa, diminuindo as dores. Com as marcas que fiz no Troféu Brasil, tenho mais chance no salto triplo”, explicou.
“Quero mostrar que é possível, com dedicação, disputar cinco Olimpíadas. Estou me esforçando para ir, mesmo sabendo que hoje é mais difícil conseguir a vaga. Tem menina com 27 anos achando que não dá mais. Eu tenho 38 e quero mostrar que tem como. Dói (treinar)? Sim, até o cabelo, mas você pode abrir mão de outras coisas para conquistar o objetivo”, completou.
A rotina de treinos para os Jogos de Tóquio precisou ser alterada no começo do ano. Agora, ao pesquisar o nome “Keila Costa” na internet, além de resultados sobre as conquistas no atletismo, também estarão informações sobre a Secretaria de Esportes de Abreu e Lima. A atleta assumiu a pasta sonhando em deixar um legado aos mais jovens.
"Sempre treinei pela manhã e tarde, mas agora tenho que conciliar com a secretaria. Fico pela manhã aqui na cidade e treino tarde/noite no Santos Dumont. Eu aceitei o cargo com o objetivo de mostrar para as meninas que é possível enfrentar o que enfrentei e sonhar com algo mais. Pretendo colocar trabalhos em prática para que os jovens atletas tenham oportunidades que não tive quando mais nova. Quero que as crianças vejam o esporte como um caminho para mudar de vida”, frisou.
Além dos objetivos esportivos e administrativos, Keila também projeta outro, mas no lado pessoal. “A maioria das mulheres sonha em ser mãe. Nunca foi minha prioridade porque eu estava tão focada em ser atleta que isso acabou passando despercebido. Conheço meninas que tinham vontade, mas existia o medo de como seria o retorno ao esporte. Mas também sei de atletas que voltaram ainda mais fortes. Mesmo assim, eu sei que é difícil porque nem todos podem ter alguém ajudando a cuidar da criança enquanto estão treinando. E se você não retorna bem, pode perder apoio do clube. Mas agora eu sinto essa vontade. Já sou uma tia 'babona' com os filhos das minhas irmãs", brincou, projetando um terceiro “salto de fé” na vida.