'Futuro do Partido Republicano é multirracial e da classe trabalhadora', diz aliado de Trump
Senador Republicano, Marco Rubio, tenta recalibrar os rumos e a identidade política da sigla, com planos de concorrer à Casa Branca em 2024
Marco Rubio reflete a encruzilhada do Partido Republicano. Após a derrota de Donald Trump, o senador pela Flórida –e um dos principais aliados do ex-presidente americano– tenta recalibrar os rumos e a identidade política da sigla, com planos de concorrer à Casa Branca em 2024.
Em entrevista exclusiva à reportagem, Rubio não abandona o discurso de apoio a Trump, que teve 74 milhões de votos no ano passado e segue como candidato favorito contra os democratas, mas faz um prognóstico mais amplo sobre como deve ser o futuro da legenda.
Mesmo com grande parte de sua base se radicalizando à direita, o senador diz que o partido precisa ser multirracial, multiétnico e reconquistar a classe trabalhadora se quiser voltar à Presidência dos EUA.
"O futuro do Partido Republicano é multiétnico, multirracial, um partido da classe trabalhadora. É o partido que trabalha para manter o sonho americano como uma realidade para todos, não importa qual seja sua história, seu passado, sua origem."
Nesta sexta-feira (12), Rubio endossou publicamente os trabalhadores nas instalações da Amazon no estado de Alabama, em apoio ao esforço para sindicalizar os funcionários da empresa de comércio eletrônico.
Ele afirma que os dias em que conservadores eram "dados como certos ao lado da comunidade empresarial acabaram" e que uma de suas primeiras memórias políticas é de participar de piquetes com seu pai.
Em votações nas últimas semanas, porém, Rubio e os republicanos foram contrários à proposta de aumento do salário mínimo que estava em debate no Congresso e tentaram barrar a aprovação do pacote de alívio econômico de US$ 1,9 trilhão, assinado pelo presidente Joe Biden para ajudar americanos em meio à pandemia.
Assim como Trump, Rubio classifica a agenda de Biden como "de extrema esquerda" e diz que seguirá em oposição vigorosa ao democrata.
"Continuamos a procurar áreas para nos unirmos enquanto defendemos aqueles americanos que estão cansados da cultura do cancelamento e das políticas de identidade", diz o senador. "Vou continuar a condenar e me levantar contra qualquer decisão tomada pelo governo Biden que prejudique os interesses de segurança nacional de nossa nação e de nosso futuro."
Em 2016, Rubio disputou a indicação republicana à Casa Branca, mas perdeu o posto para Trump. Aos 49 anos, o senador hoje sonha novamente com a nomeação, apesar de ainda não admitir isso em público e evitar responder se seu partido precisa de uma nova liderança.
Nos últimos quatro anos, Rubio foi aliado de primeira ordem do governo Trump, principalmente em relação às políticas na América Latina.
Há pouco mais de um ano, o senador se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro em Miami, por cerca de meia hora, quando diz ter debatido a crise na Venezuela e expressado suas preocupações com a possibilidade de a empresa de tecnologia Huawei fazer negócios no Brasil.
Rubio afirma que a relação entre EUA e Brasil "se fortaleceu muito" com Trump à frente da Casa Branca e que Biden deveria "capitalizar sobre o tremendo avanço" feito pelo republicano, mantendo o país como aliado comercial e de segurança.
"Sob Biden, espero que a política dos EUA em relação ao hemisfério ocidental continue sendo uma prioridade. O governo Biden deve capitalizar sobre o tremendo avanço do presidente Trump. Brasil e EUA devem permanecer firmes parceiros de segurança e também aliados comerciais."
Biden já sinalizou que não pretende tratar o Brasil com hostilidade de saída, pelo contrário, apesar da pressão de parlamentares democratas e ativistas que pedem que os EUA não ampliem acordos comerciais com o país, ou até apliquem medidas punitivas contra o governo Bolsonaro, por sua postura negligente com questões sobre meio ambiente e direitos humanos.
Rubio diz ainda que a parceria comercial é o caminho para que os países sigam juntos no combate ao que classifica como "despótico regime de narcotraficantes" de Nicolás Maduro, na Venezuela, e na implementação de medidas contra a China, impedindo, por exemplo, que a Huawei participe do leilão de 5G no Brasil.
Ele admite que a China fincou os pés no hemisfério ocidental e que hoje é uma ameaça –mesmo termo usado por auxiliares de Biden para descrever a potência asiática.
"EUA e Brasil devem permanecer vigilantes e trabalhar juntos para continuar a enfrentar a ameaça sem precedentes representada pela posição segura que a China, infelizmente, desenvolveu em nossa região. [...] Aceitar as promessas de Pequim de ajudar com infraestrutura tecnológica significa entregar as chaves para o funcionamento interno de sua segurança nacional por um futuro indefinido. Essas táticas difundidas buscam apenas deixar as nações em dívida com o Partido Comunista Chinês por décadas."
A postura anti-Pequim é uma das poucas que unem democratas e republicanos nos EUA e, em seus primeiros 50 dias de governo, Biden já mostrou que vai manter e até intensificar algumas das políticas mais duras do governo Trump contra a China.
Rubio segue opinando sobre esse e outros assuntos diariamente em suas redes sociais. Diz que está focado em sua campanha à reeleição ao Senado –onde atua desde 2011–, mas, até lá, assim como a maior parte dos líderes republicanos, tenta modular o discurso, num cálculo minucioso para medir até onde vão a influência e a força de Trump sobre a base do partido.