Literatura

'Coleção Quarentena' expõe sentimentos e desafios em três livros feitos na pandemia

Patricia Tenório escreveu três livros, entre ficção, poesia e diários, sobre sentimentos e questões durante a pandemia

A escritora Patricia Tenório - Foto: Rafael Furtado/Folha de Pernambuco

“Um vírus imobilizou o mundo inteiro, mas não imobilizou a minha mão”. Muito simbólico que esse trecho inicie o livro “Poemas de Cárcere”, da escritora e professora em escrita criativa Patricia Tenório, onde ela se complementa em um arco de três produções literárias na “Coleção Quarentena”. Enquanto o mundo era paralisado pela dor e perda de vítimas para a Covid-19, Patricia foi tecendo seus sentimentos e angústias diárias durante a pandemia em escritos, que se transformaram em três livros de diferentes formatos: “Poemas de Cárcere”, “Exílio ou Diário Depois do fim do mundo” e “Setembro”.

Os escritos começaram a partir de diários. Eram escritos para aliviar a dor e mantê-la de forma mais sã possível em um momento que o mundo sequer tinha respostas para cura ou imunização da doença.  “Com o passar dos dias (e meses), percebi que haviam trechos que poderiam servir para alguém, aliviando a solidão, e cumprindo o papel do texto literário: tocar e talvez transformar, de alguma forma, quem nos lê. Assim nasceu o ‘Exílio ou Diário depois do fim do mundo’”, conta sobre o primeiro livro, que conta com os diários literários.

Na mesma proporção em que os diários iam surgindo, poemas foram construídos em conjunto. O resultado foi o segundo livro, “Poemas de Cárcere”, que contém trechos das produções que ela realizou durante os primeiros meses de pandemia. “Em paralelo, estava conseguindo escrever poemas relacionados com a pandemia, gênero que brotava mais à vontade - temos os “Poemas de cárcere” (sim, tem a ver com o “Memórias de cárcere”, de Graciliano, guardados os imensos abismos e proporções)”, enfatiza.

“Poemas de Cárcere” tem poesia ágil, sentimento explosivo e tanto ansioso em seus trechos. “Os poemas foram escritos no átimo do sentimento, quase fotografias instantâneas de um instante, porque não dispúnhamos de muito tempo para pensar, no turbilhão de tarefas domésticas, e humores de filhos, e trabalhos virtuais, e os próprios desejos e sonhos adiados para administrar”, pontua Patricia Tenório.

Ficção

Não satisfeita com seus sentimentos diários postos em escritos, Patricia se colocou um desafio: escrever ficção até o primeiro dia de setembro de 2020. O resultado foi “Setembro”, uma ficção tão verdadeira que se confunde com as realidades. Uma novela que confronta e relata a realidade da maioria das mulheres brasileiras, que se viram diante de um retrocesso de rotinas acumuladas durante a pandemia ou qualquer outro tempo recente.

“Ficamos cara a cara com um dos maiores fantasmas desde que começamos a conquistar um espaço no mercado de trabalho, na vida sexual, nos relacionamentos amorosos: o de perder tudo o que conquistamos ao retornarmos ao papel de donas de casa.”, relata a escritora pernambucana.

Os três livros estão disponíveis para download no site de Patricia Tenório (http://www.patriciatenorio.com.br). Eles contém depoimentos na contracapa pelas escritoras e poetisas Bernadete Bruto, Elba Lins e Raldianny Pereira, que foram as primeiras leitoras da trilogia. São comentários delicados, sensíveis e de acordo com o que foi escrito por Patrícia. A coleção tem publicação pela editora Raio de Sol e terá edição física na Livraria Cultura.  

Eles serviram como um respiro para Tenório, que diz ter se apropriado de sua escrita durante a pandemia. “A trilogia ajudou (e muito) a me apropriar da minha escrita, a não ter vergonha de como me expresso nem de meus sentimentos nem de quem eu sou. E isso, como digo em vários trechos do “Exílio ou Diário depois do fim do mundo”, é muito”.