Manifestantes pró-democracia lutam 'até o fim' em Myanmar
O número de vítimas pode ser superior, já que centenas de pessoas desapareceram nas últimas semanas
Manifestantes pró-democracia protestavam neste sábado (20) em Mianmar sob a bandeira do "pavão real combatente", prontos para resistir "até o fim" à repressão sangrenta da Junta militar, que tem sido criticada pelos países ocidentais, mas também por vizinhos asiáticos.
Cerca de 240 civis morreram desde 1º de fevereiro, o dia do golpe militar que derrubou o governo civil liderado de fato por Aung San Suu Kyi.
O número de vítimas pode ser superior, já que centenas de pessoas desapareceram nas últimas semanas.
Apesar de tudo, a mobilização continua.
"O movimento pró-democracia impede a Junta de exercer o poder político e administrativo", destacou a Associação de Assistência a Presos Políticos (AAPP).
Médicos, professores, funcionários de bancos ou de ferrovias estão em greve, paralisando parte da frágil economia do país.
E, neste sábado, novas manifestações foram organizadas, como em Mandalay (centro).
Os manifestantes, reunidos atrás de barricadas de sacos de areia, exibiram uma bandeira preta, assinada: "O pavão real combatente", um símbolo usado durante a revolta popular de 1988 e mais tarde pelo partido de Aung San Suu Kyi, a Liga Nacional para a Democracia (LND).
"Quem disse que devemos desistir por causa das armas [da Junta]? Nascemos para a vitória", tuitou Ei Thinzar Maung, um dos líderes do protesto.
"Vamos lutar até o fim", escreveu outro manifestante. "Essa ditadura vai cair".
No entanto, há menos manifestantes nas ruas e muitos birmaneses permanecem em casa por medo de retaliação.
- Lei marcial -
Dois dos cinco milhões de habitantes de Yangon, a capital econômica, estão sob lei marcial e a situação é muito tensa.
Alguns bairros mergulharam no caos, com manifestantes disparando projéteis e coquetéis molotov contra o Exército e a Polícia, que ataca com munição letal.
"Os tiroteios aumentam a cada dia", lamentou a AAPP. Militares e policiais "saqueiam e destroem diariamente propriedades públicas e privadas".
Muitos residentes de Yangon fugiram da cidade, a maior de Mianmar, para retornar às suas regiões de origem a bordo de veículos, bicicletas ou mototáxis.
Enquanto isso, Mianmar se fecha cada vez mais. As conexões com a Internet sofrem importantes perturbações e apenas a mídia estatal cobre a crise.
Mais de 2.200 pessoas foram detidas nas últimas seis semanas, principalmente grevistas, membros do partido de Aung San Suu Kyi e jornalistas.
Na capital Naypyidaw, um jornalista birmanês que trabalhava para o serviço local da BBC, Aung Thura, foi sequestrado por homens não identificados na sexta-feira.
Mais de 30 jornalistas foram presos desde o golpe de Estado de 1º de fevereiro, incluindo um fotógrafo da agência de notícias americana Associated Press.
"O assassinato de manifestantes pacíficos e prisões arbitrárias, incluindo de jornalistas, são totalmente inaceitáveis", tuitou neste sábado o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, que pediu uma "resposta internacional firme e unificada".
- Sanções da UE -
Por enquanto, a Junta ignora as várias condenações e sanções internacionais aplicadas pelas potências ocidentais, lideradas pelos Estados Unidos e pela União Europeia.
A UE planeja sancionar na segunda-feira onze funcionários birmaneses implicados na repressão, segundo fontes diplomáticas.
Os países da Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático), que costumam ter por regra não interferir nos assuntos de um Estado-membro, também levantaram a voz.
O presidente indonésio, Joko Widodo, pedirá ao Sultanato de Brunei, que preside a Asean este ano, que organize uma reunião de emergência para "acabar com o uso da violência" em Mianmar.
A Malásia e a Asean não podem se dar ao luxo de ver "nossa nação irmã desestabilizada nas mãos de algumas pessoas que buscam defender seus próprios interesses", disse o primeiro-ministro malaio, Muhyiddin Yassin.