Economia

Banqueiros e economistas pedem medidas efetivas de combate à pandemia em carta aberta

As famílias Setubal e Moreira Salles estão entre as famílias mais ricas do país e são donas de grandes companhias

Banco Itaú - Reprodução

Grandes banqueiros e economistas do país assinaram e divulgaram, neste domingo, uma carta aberta em que pedem medidas mais eficazes para o combate à pandemia de coronavírus.

Entre as mais de 500 assinaturas estão nomes ligados ao mercado financeiro como José Olympio Pereira (presidente do Credit Suisse), Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles (co-presidentes do conselho de administração do Itaú Unibanco), Solange Srour (economista-chefe do Credit Suisse) e Octavio de Barros (antigo economista-chefe do Bradesco).

As famílias Setubal e Moreira Salles estão entre as famílias mais ricas do país e são donas de grandes companhias. Os Setubal têm participação acionária na Itaúsa, por exemplo, enquanto os Moreira Salles também controlam empresas como a CBMM (Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração), a Revista Piauí e o Instituto Moreira Salles.


Também assinam ex-presidentes do Banco Central, como Armínio Fraga, Affonso Celso Pastore, Gustavo Loyola e Ilan Goldfajn e ex-minitros da Fazenda, como Pedro Malan, Marcílio Marques Moreira e Ruben Ricupero.

Outros grandes nomes, como Ana Carla Abrão, Bernard Appy, Carlo Góes, Demósthenes Madureira de Pinho Neto, Elena Landau, Flávio Ataliba, Márcio Holland, Marisa Moreira Salles, Octaviano Canuto, Paulo Hartung, Samuel Pessôa, Vinícius Carrasco, entre outros, também aparecem.

Na carta, economistas e banqueiros afirmam que a situação econômica e social trazida pelo agravamento da pandemia é desoladora e pode insurgir uma nova contração da atividade no primeiro trimestre deste ano.

"Essa recessão [...] não será superada enquanto a pandemia não for controlada por uma atuação competente do governo federal. Este subutiliza e utiliza mal os recursos de que dispõe, inclusive por ignorar ou negligenciar a evidência científica no desenho das ações para lidar com a pandemia", dizem os economistas.

Além do ritmo lento e da insuficiência das vacinas no país diante do risco de surgimento de novas cepas do vírus, a carta também traz ponderações sobre a necessidade de limitação da mobilidade e sobre o custo que a pandemia já teve para o Brasil.

O cálculo mostra que a consequente redução da atividade custou uma perda tributária de R$ 58 bilhões só no âmbito federal, enquanto o atraso da vacinação irá custar R$ 131,4 bilhões aos cofres públicos em 2021 em termos de produto ou renda não gerada e supondo uma recuperação retardatária em dois trimestres.

"Estamos no limiar de uma fase explosiva da pandemia e é fundamental que a partir de agora as políticas públicas sejam alicerçadas em dados, informações confiáveis e evidência científica. Não há mais tempo para perder em debates estéreis e notícias falsas. Precisamos nos guiar pelas experiências bem-sucedidas, por ações de baixo custo e alto impacto, por iniciativas que possam reverter de fato a situação sem precedentes que o país vive", afirmaram em carta.

Entre as quatro medidas citadas na carta como indispensáveis para o combate à pandemia, estão a aceleração do ritmo de vacinação, o incentivo do uso de máscaras -tanto com distribuição gratuita quanto com orientação educativa-, a implementação de medidas de distanciamento social e a criação de um mecanismo de coordenação do combate à pandemia em âmbito nacional orientado por uma comissão de cientistas e especialistas.

A ideia de criar a carta surgiu em um grupo de WhatsApp no qual se reúnem mais de 200 economistas, criado em 2015. Diante do agravamento da pandemia, os participantes do grupo começaram a pensar em uma manifestação mais formal sobre quais os problemas a serem enfrentados. Para redigir a carta foram escolhidos cinco relatores.

"A pandemia é um tema de primeira ordem na discussão nacional, e a ideia [da carta] é ser uma contribuição propositiva, com a nossa visão sobre o tema. Existem questões complexas que precisam ser melhor atendidas. Nem tudo o que está no documento é do acordo de todos os economistas do grupo, mas um número representativo assinou e a carta, agora, ganhou assinatura de economistas de outras esferas", afirmou Flávio Ataliba, economista e secretário-executivo de planejamento e orçamento do Seplag (Secretaria do Planejamento e Gestão) do Ceará.

Para Elena Landau, o movimento retrata a intolerância à qual chegou o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) e a necessidade de encaminhamento de políticas públicas voltadas para o combate à pandemia.

"O comentário que eu mais ouvi das pessoas hoje foi que a sociedade está se movendo. E isso precisa acontecer rápido. Não é possível que você não possa avançar com proteção social. [Essa carta] vem para enfatizar coisas que a ciência e os médicos de todo o mundo já falam há algum tempo. Não há discurso entre salvar vidas e salvar a economia. E a carta vem de economistas, exatamente para ficar claro que não existe esse dilema", disse a economista.

Segundo o economista Marco Bonomo, a expectativa é a de encaminhar a carta para os três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) ainda neste domingo (21).