Pandemia

Merkel fala em 'nova pandemia' e baixa confinamento total na Páscoa

Na alemanha, o número de novos testes positivos saltou 20% na décima semana deste ano

Angela Merkel - MICHELE TANTUSSI / POOL / AFP

Com o número de novos casos em alta há quatro semanas consecutivas, o governo da Alemanha decretou confinamento total no país durante o feriado de Páscoa, de 1º a 5 de abril.

As pessoas deverão ficar em casa a não ser em emergências e só será possível receber alguém de uma outra família, com no máximo cinco pessoas.


Todas as lojas ficarão fechadas, com exceção de mercados ou mercearias, que poderão funcionar apenas no sábado, dia 3. Igrejas também não poderão fazer cerimônias presenciais.

Ao anunciar as medidas nesta terça (23), a premiê alemã, Angela Merkel, disse que há um crescimento "exponencial" de novos casos, puxado pela variante B.117, mais contagiosa e mais letal. "Temos basicamente uma nova pandemia agora", disse ela.


O número de novos testes positivos saltou 20% na décima semana deste ano, depois de oscilar entre altas de 2% a 5% nas três semanas anteriores.

O crescimento fez os governos federal e estaduais reverterem o relaxamento das restrições impostas em dezembro. As escolas haviam sido reabertas no começo do mês e novas aberturas estavam programadas para esta semana, mas os governadores dos 16 estados e a premiê concordaram em adiá-las.

 


Enquanto segura a transmissão, Merkel pretende acelerar a campanha de vacinação no país. "A ciência nos mostra claramente: quanto mais baixos os números de novas infecções, mais rápido a vacinação terá efeito. Quanto mais altas as novas infecções, mais tempo leva para as vacinações terem um impacto", disse.

Maior economia da Europa e fabricante de vacinas, a Alemanha administrou até agora pouco menos de 13 doses por 100 habitantes, bem abaixo dos 45/100 do Reino Unido e atrás de vários países menores da União Europeia.

Os governos nacionais da UE têm atribuído à falta de vacinas a lentidão de suas campanhas, mas muitos deles ainda não usaram suas doses disponíveis -é o caso da Alemanha, que até agora aplicou 73% dos cerca de 14 milhões de doses disponíveis.

Além de falhas na organização, o país fez parte de um grupo de europeus que limitou o uso do imunizante da AstraZeneca mais de uma vez, gerando insegurança sobre o produto e resistências à vacinação.

No final de janeiro, as autoridades de saúde alemãs não permitiram a administração da vacina em idosos, por considerar que faltavam dados sobre sua eficácia nessa faixa etária, apesar da recomendação positiva da agência regulatória europeia.

A ressalva foi suspensa no começo de março, mas 15 dias depois o país interrompeu de novo o uso do imunizante para avaliar os riscos de defeitos colaterais adversos. O resultado foi um tombo na confiança dos alemães, mostrou pesquisa feita pelo instituto YouGov no final da semana passada.

A parcela de alemães que consideram a vacina da AstraZeneca não segura subiu 15 pontos em um mês, para 55%, enquanto a dos que a consideram segura caiu para 32%, 11 pontos abaixo do registrado em fevereiro. Dos 3,4 milhões de doses deste imunizante disponíveis na Alemanha, só metade já foi usada.

Apesar da alta nos contágios, o país ainda tem conseguido manter o número de novas mortes sob controle. Ele vem caindo sucessivamente desde o começo deste ano, fechando a décima semana em menos de 1.500, após bater em 6.112 na primeira semana de janeiro.

A Alemanha conta com a maior infraestrutura hospitalar da Europa, o que ajuda a reduzir as mortes, mas o contágio acelerado com uma variante que produz doenças mais graves, como a B.117, já está colocando pressão sobre as UTIs, afirmou a premiê.

As infecções por coronavírus têm aumentado em vários países da Europa, principalmente pelo cansaço das populações com os confinamentos prolongados e pelo aumento da circulação e dos contatos.