Pandemia

Merkel admite erro, pede desculpas e revoga confinamento que seria imposto na Páscoa

Merkel afirmou que o anúncio foi um erro pessoal e pediu desculpas à população por ter provocado incertezas

Angela Merkel - MICHELE TANTUSSI / POOL / AFP

A premiê da Alemanha, Angela Merkel, voltou atrás nesta quarta (24) do confinamento total durante o feriado de Páscoa, que havia anunciado um dia antes.

Merkel afirmou que o anúncio foi um erro pessoal e pediu desculpas à população por ter provocado incertezas.
Com o número de novos casos em alta há quatro semanas consecutivas, a premiê havia dito que todas as lojas ficariam fechadas de 1º a 5 de abril, com exceção de mercados no sábado -o que poderia ter levado a uma corrida aos supermercados, que ficariam superlotados.

As medidas foram questionadas por epidemiologistas e políticos de sua própria coalizão governante, levando Merkel a recuar.

Associações empresariais também afirmaram que seria impensável paralisar fábricas inteiras por cinco dias seguidos, e políticos conservadores criticaram a decisão de impor às igrejas que cerimônias de Páscoa fossem feitas apenas online -a data, que representa a ressurreição de Jesus, é considerada por muitos cristãos como a mais importante do ano.

Segundo a mídia alemã, Merkel se reuniu por teleconferência com os governadores dos 16 estados na manhã desta quarta e admitiu o erro. "Se possível, devemos corrigir a tempo. Acredito que ainda é possível", afirmou, segundo jornalistas.

 



A decisão de adiar o relaxamento de restrições em regiões que estejam com mais de 100 novos casos semanais por 100 mil habitantes foi mantida.

Merkel tem manifestado preocupação com o crescimento de novos casos, puxado pela variante B.117, mais contagiosa e mais letal. "Temos basicamente uma nova pandemia agora", disse ela na terça.

O número de novos testes positivos saltou 20% na décima semana deste ano, depois de oscilar entre altas de 2% a 5% nas três semanas anteriores.

A premiê quer ao mesmo tempo segurar a transmissão e acelerar a campanha de vacinação no país. "A ciência nos mostra claramente: quanto mais baixos os números de novas infecções, mais rápido a vacinação terá efeito. Quanto mais altas as novas infecções, mais tempo leva para as vacinações terem um impacto", disse.

Maior economia da Europa e fabricante de vacinas, a Alemanha administrou até agora pouco menos de 13 doses por 100 habitantes, bem abaixo dos 45/100 do Reino Unido e atrás de vários países menores da União Europeia.

Os governos nacionais da UE têm atribuído à falta de vacinas a lentidão de suas campanhas, mas muitos deles ainda não usaram suas doses disponíveis -é o caso da Alemanha, que até agora aplicou 73% dos cerca de 14 milhões de doses disponíveis.

Além de falhas na organização, o país fez parte de um grupo de europeus que limitou o uso do imunizante da AstraZeneca mais de uma vez, gerando insegurança sobre o produto e resistências à vacinação.

No final de janeiro, as autoridades de saúde alemãs não permitiram a administração da vacina em idosos, por considerar que faltavam dados sobre sua eficácia nessa faixa etária, apesar da recomendação positiva da agência regulatória europeia.

A ressalva foi suspensa no começo de março, mas 15 dias depois o país interrompeu de novo o uso do imunizante para avaliar os riscos de efeitos colaterais adversos. O resultado foi um tombo na confiança dos alemães, mostrou pesquisa feita pelo instituto YouGov no final da semana passada.

A parcela de alemães que consideram a vacina da AstraZeneca não segura subiu 15 pontos em um mês, para 55%, enquanto a dos que a consideram segura caiu para 32%, 11 pontos abaixo do registrado em fevereiro. Dos 3,4 milhões de doses deste imunizante disponíveis na Alemanha, só metade já foi usada.

Apesar da alta nos contágios, o país ainda tem conseguido manter o número de novas mortes sob controle. Ele vem caindo sucessivamente desde o começo deste ano, fechando a décima semana em menos de 1.500, após bater em 6.112 na primeira semana de janeiro.

A Alemanha conta com a maior infraestrutura hospitalar da Europa, o que ajuda a reduzir as mortes, mas o contágio acelerado com uma variante que produz doenças mais graves, como a B.117, já está colocando pressão sobre as UTIs, afirmou a premiê.

As infecções por coronavírus têm aumentado em vários países da Europa, principalmente pelo cansaço das populações com os confinamentos prolongados e pelo aumento da circulação e dos contatos.