Em reunião, Bolsonaro e presidente de cada poder criam comitê para combate da pandemia
Um pacto entre os poderes da República foi firmado, nesta quarta-feira (24), em um encontro entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com os presidentes do Legislativo, Judiciário e Tribunal de Contas, com a presença de governadores. No encontro, foi criado um comitê com os representantes de cada poder, para traçar uma estratégia articulada na crise sanitária.
O encontro foi realizado no dia seguinte do Brasil ultrapassar a marca de 3 mil mortos pela Covid-19 em um único dia pela primeira vez - tal quantidade de mortos só havia sido superada pelos Estados Unidos, no auge da pandemia, ainda sob governo de Donald Trump. Além disso, nesta quarta-feira (24), o país deve chegar a 300 mil mortos pela doença.
Adotando o mesmo tom que usou no seu pronunciamento na noite desta terça (23), que contrasta com o discurso adotado desde o início da pandemia, quando desaconselhou o uso de máscara e o distanciamento e desacreditou a vacina, Bolsonaro pregou a união entre os poderes. "Uma reunião bastante proveitosa. Mais do que a harmonia, imperou a solidariedade e a intenção de minimizarmos os efeitos da pandemia. A vida em primeiro lugar", declarou.
Segundo o presidente, o comitê servirá para unificar o combate à pandemia da Covid-19. Ele citou, ainda, que houve unanimidades na reunião, a exemplo da necessidade de vacinação em massa. Depois, voltou a insistir na "possibilidade de tratamento precoce, que respeita o direito e o dever do médico de tratar os infectados". A gravidade das variantes do vírus foi destacada por Bolsonaro. "Uma nova cepa, um novo vírus pareceu e nós obviamente nos preocupamos para dar um tratamento adequado a essas pessoas", disse, conclamando a união entre os poderes como o caminho para o País enfrentar a pandemia.
O segundo a se pronunciar foi o novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que elogiou o que foi encaminhado no encontro. "Participamos de uma reunião de alto nível. A conclusão é o fortalecimento do Sistema Único de Saúde e a articulação dos três níveis da União", afirmou. Segundo Queiroga, essa organização conjunta vai prover com agilidade uma campanha de vacinação mais eficiente.
Entre as medidas que serão tomadas, o ministro destacou a "criação de protocolo assistenciais capazes de mudar a história da doença" e voltou a enaltecer o SUS. "O sistema de saúde do Brasil dará a resposta que a população brasileira quer, para que cumpramos nosso dever como poder público e consigamos o apoio e o respeito da sociedade civil", afirmou.
Senado
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) estava afinado com os discursos dos que o antecederam, pedindo harmonia no enfrentamento da doença. "O momento impõe o dever cívico, patriótico e de responsabilidade a união. Essa união significa um pacto nacional liderado por quem a sociedade espera que lidere, que é o senhor presidente da República, Jair Bolsonaro, já com a compreensão de que medidas precisam ser tomadas. E, sob a liderança política, haver a liderança técnica contundente e urgente através do dr. Marcelo Queiroga", frisou.
"Os poderes são independentes, mas devem ser harmônicos. Estejamos todos imbuídos desse propósito colaborativo", disse. Pacheco explicou que durante o encontro recebeu a tarefa de ser o mediador junto aos governadores, ouvindo a demanda de todos.
Câmara dos Deputados
No mesmo tom que seu colega de parlamento, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP) adotou um discurso de conciliação, pedindo a despolitização do combate ao coronavírus.
"A união de todos para que nós consigamos comunicar melhor, despolitizar a pandemia, desarmar os espíritos e tratarmos o problema como de todos nós, um problema nacional", ponderou. "Falarmos uma linguagem só, um acompanhamento diário e responsável de informação para que nossa população tenha toda a assistência, com acompanhamento, para que possamos ter rumos e termos um único discurso, uma única orientação nacional conduzida pelo Ministério da Saúde", pontuou.
Segundo ele, ainda hoje se reunirá com os líderes partidários para votar na pauta do dia temas relacionados à pandemia, como a ampliação de leitos, solução dos problemas de oxigênio e insumos, entre outros.
Supremo Tribunal Federal (STF)
De acordo com o ministro Luiz Fux, presidente do STF, por sua natureza, o poder judiciário não pode participar diretamente desse comitê. Contudo, "com os problemas da pandemia que exigem soluções rápidas, vamos traçar estratégias para evitar a judicialização", explicou.
Tribunal de Contas da União (TCU)
O presidente do TCU, José Múcio Monteiro Filho, disse ter saído otimista da reunião pois houve convergência. "Aquilo que foi proposto pelo presidente do Senado foi acolhido pelo presidente da República, que indicou que estará a fente do comando dessa comissão", afirmou. "É um ponto em que há convergência de todos para salvar vidas".
José Mucio ainda destacou o papel que terá a diplomacia brasileira para negociar e cobrar sensibilidade dos países que estão com estoque de vacina, bem como sensibilizar os laboratórios para que o país receba mais doses.