O novo significado e os desafios do lar
Tudo ficou diferente. A casa deixou de ser só um lugar para descansar e dormir. Agora, é trabalho e escola também. E para acomodar as novas atividades com a necessidade de garantir também o lazer, o jeito foi reformar o imóvel, procurar um maior ou alugar
E, de repente, tudo mudou. As crianças passaram a estudar em casa, os adultos começaram a trabalhar no lar, pessoas decidiram abrir seu próprio empreendimento, o lazer precisou de ideias novas para acontecer dentro das residências. Desde o início de 2020, a casa se tornou um ambiente agregador e ao mesmo tempo desafiador.
Diante da importância e da necessidade de manter o isolamento social para reduzir o contágio da Covid-19, por orientação das autoridades sanitárias, as rotinas foram refeitas e o lar ganhou um novo significado. Todos nós precisamos pensar novas formas, divertidas e criativas, para a residência ser prazerosa.
Com essa transformação essencial dos lares, o setor imobiliário ganhou destaque. Há quem decidiu fazer uma reforma em casa para adaptar os cômodos e ambiente de trabalho, de criar e ficar mais próximo à família; há quem preferiu alugar ou comprar um imóvel de segunda residência, como as casas na praia e no campo, com o objetivo de afastar-se da movimentação de grandes centros urbanos; há quem decidiu se mudar comprando um novo apartamento maior, mais aconchegante ou que tivesse uma divisão melhor dos quartos e sala, e também há quem simplesmente decidiu pintar uma parede para mudar a energia do ambiente.
A empreendedora Cristina Barbosa percebeu a necessidade de se isolar com a família em uma casa de praia do Litoral Sul de Pernambuco durante algumas temporadas do ano. “Pela importância de isolar meus pais, que são idosos, eu decidi pesquisar uma casa afastada de centros urbanos. No local, eu e minha irmã também conseguimos improvisar um espaço para o home office. Levamos notebook e pedimos a instalação de Wi-Fi na casa para que fosse possível trabalhar lá. A casa era bem ampla, espaçosa, e o preço ficou justo porque eram muitos dias, então houve desconto”, contou a empreendedora.
“Além disso, moro em apartamento e a pandemia restringiu, mesmo que por motivos necessários, o acesso às atividades ao ar livre, incluindo as praias. Sentia muita falta disso também”, acrescentou Cristina.
As possibilidades foram e são imensas. E não param por aí: cada família identificou seu ponto de mudança e tornou real. Segundo dados divulgados pela Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), as vendas de imóveis avançaram 20,5% nos 12 meses encerrados em outubro de 2020. Para se ter uma ideia da força que o setor imobiliário vem demonstrando, em outubro, houve um salto de 67,9% nas vendas de unidades, na comparação com o mesmo mês de 2019. Essa foi a maior variação percentual desde 2014. Os lançamentos de novos empreendimentos tiveram um salto de 85,5% no mesmo período.
“Nos últimos 10 anos, no final de 2009/2010, foi apresentado o Programa Minha Casa Minha Vida [MCMV], que trouxe taxas subsidiadas e criou-se um novo mercado. As taxas para baixa renda ficaram entre 6% e 8%. Na época, as taxas que não eram desses programas giravam em torno de 11% e 12%. Hoje, as taxas baixas, antes só da classe social, passaram a ser para todo o mercado”, explicou o presidente da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário de Pernambuco (Ademi-PE), Avelar Loureiro.
“Com a crise econômica de 2015 e a partir da criação do Teto de Gastos, o governo federal passou a não perder o controle das contas públicas. O investidor viu que a aplicação é confiável e, com isso, a taxa de juros a longo prazo foi caindo. Antes, o mercado que comprava imóvel era só o que podia pagar o financiamento entre três e quatro anos”, complementou.
O ano de 2019 foi de recuperação forte para o setor imobiliário. Foi então que chegou 2020 e o mundo parou com a pandemia. Mas esse mercado se mostrou resiliente, com dados que comprovam as vendas de imóveis. Para construtoras que atuam no mercado, o ano de 2020 conseguiu encerrar melhor do que se estava prevendo quando começou a pandemia. Depois da parada da construção civil, no início de 2020, entre março e abril, iniciou uma alta na procura dos imóveis, com a forte procura por casas de segunda moradia.
Lançamentos voltaram a acontecer e há construtoras que precisaram até abrir “fila de espera” para os clientes que gostariam de adquirir uma unidade. E, 2021, o que se espera deste ano que se inicia?