Pernambuco

Profissionais da saúde pedem consciência à população sobre protocolos de combate à Covid-19

Em situação crítica, o Estado tem 98% de ocupação nas UTIs públicas e 91% nas privadas

Movimentação do comércio no Centro do Recife - Rafael Furtado/Folha de Pernambuco

O uso massivo da máscara, aliado ao distanciamento social e à higiene frequente das mãos, é capaz de reduzir as taxas de infecção pelo novo coronavírus e deixar a pandemia da Covid-19 em patamares de controle. São inúmeros os estudos científicos que apontam tais medidas como essenciais para que seja possível uma retomada das atividades cotidianas. 

Mas o comportamento da população pernambucana não tem ajudado. Um ano após a chegada da Covid-19 no Estado, a máscara continua no bolso, na bolsa, no queixo, pendurada em uma só orelha, menos utilizada da forma correta, cobrindo o nariz e a boca. 

“Não uso a máscara porque me sufoca” é uma das frases mais ditas por quem resiste em colocar o acessório na rotina, junto com o “Sempre me esqueço". Soa até agressivo com quem já sentiu o sufoco de ter contraído a Covid-19 e com quem jamais esquecerá a dor de perder alguém para essa doença. 

E quanto às aglomerações nas praias e a ida a festas por “não aguentar mais o isolamento”? "Se você está cansado de ficar em casa, nós (profissionais da saúde) estamos cansados de ver gente morrendo”, disse o médico Demetrius Montenegro, chefe do Departamento de Infectologia do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC), no Recife, em entrevista remota, nesta quinta-feira (25). 

“Quando a gente vê tanta gente morrendo no hospital e outras tantas andando sem máscara na rua, é revoltante. É falta de respeito com as pessoas que estão morrendo e com as que vão morrer”, desabafou ele. "Precisamos começar a constranger quem anda sem máscara”, reforçou o secretário estadual de Saúde, André Longo. 

 

Sem a obediência aos protocolos sanitários, as perspectivas de controle da pandemia se perdem no tempo. Em contrapartida, os problemas chegam em sequência. 

Demetrius Montenegro chamou atenção, por exemplo, para as crises já instaladas e as que batem à porta por conta da aceleração exponencial da pandemia. 

"Aumentando o número de casos, pode haver um colapso de mão de obra, principalmente nas UTIs, que exigem mão de obra mais especializada não só de médicos, mas de fisioterapeutas, enfermeiros”, disse. 

"E uma UTI não se faz só com equipamentos e pessoal, mas com insumos também. Outra crise chegando é das medicações utilizadas para manter uma pessoa em ventilação mecânica. Uma pessoa respirando por aparelhos precisa estar sedada. E essas medicações estão começando a faltar. Todos os hospitais estão numa corrida com os fornecedores para a compra dessas medicações. Estão sendo abertos vários leitos de UTI e tem uma concorrência grande entre as unidades, os municípios e estados. Se não, essas pessoas terão que estar intubadas sem estarem sedadas e sem bloqueio muscular. E fica quase impossível a sobrevivência”, alertou o infectologista. 

Esses alertas se fazem ainda mais importantes agora, quando Pernambuco tem 98% de ocupação nas unidades de terapia intensiva para pacientes com a Covid-19 na rede pública e 91% na rede privada e, em breve, reabrirá setores da economia que estão fechados pelo decreto da quarentena. 

Embora o horário de funcionamento vá ter limitações, a circulação de pessoas, que não chegou a diminuir drasticamente com o decreto elaborado para a quarentena, voltará aos níveis da primeira quinzena do mês. Isso em um momento em que o Estado quebra recordes diários de novos casos de infecção pelo novo coronavírus. 

A promessa da gestão, que vem abrindo leitos em uma velocidade considerável, é ampliar o número de vagas nos hospitais, apesar de a proposta de medir forças contra o vírus já ter se mostrado ineficaz. Por isso, mais do que nunca, será preciso contar com o compromisso da sociedade.