Coronavirus

Mortalidade de pacientes intubados chega a 83,5% no Brasil durante segunda onda da pandemia

Segundo o chefe do estudo, Fernando Bozza, da Fiocruz, esse índice evidencia a fragilidade do sistema de saúde

Lotação de UTIs - Miguel SCHINCARIOL / AFP

A mortalidade de pacientes com Covid-19 intubados no Brasil durante a segunda onda da pandemia chega a 83,5%, segundo dados coletados por pesquisadores em hospitais do país, o segundo com mais óbitos no mundo. 

Esse índice evidencia a "fragilidade do sistema de saúde, que já vinha sofrendo com falta de investimento nos últimos anos, e ficou sobrecarregado pela grande quantidade de casos" do novo coronavírus, afirma o chefe do estudo, Fernando Bozza, da Fiocruz. 

A equipe de Bozza, associada à Universidade de São Paulo (USP), compila dados de hospitais públicos e privados desde 15 de fevereiro do ano passado. 

Um relatório sobre os primeiros 250.000 pacientes hospitalizados, publicado pela revista especializada The Lancet, mostrou que 78,7% dos pacientes com Covid-19 intubados entre 15 de fevereiro e 15 de agosto de 2020 não sobreviveram à doença. 

Essa taxa de mortalidade já era superior à de países como Reino Unido (69%), Alemanha (52,8%), Itália (51,7%) e México (73,7%).

Mas a situação piorou com a segunda onda, com mortalidade que chegou a 83,5% entre 15 de novembro e 14 de março. 

Essa segunda onda também é caracterizada por uma "sincronização da epidemia, com todas as regiões afetadas ao mesmo tempo", ressalta Bozza.

Mesmo assim, persistem disparidades regionais, com maior mortalidade de pacientes intubados nas regiões Norte (90,8%) e Nordeste (89,9%) em relação aos estados do Sudeste (79,8%). 

A taxa cai para 25% em um hospital particular de primeira classe, como o hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, ou para 36%, no hospital público de referência Emilio Ribas, também localizado na megalópole paulista.

"Alguns hospitais estão tão sobrecarregados que há pacientes que precisam ser intubados fora de unidades de terapia intensiva. É o que ocorre com 17% deles na região Norte", afirma o pesquisador da Fiocruz.

Bozza critica que "não houve coordenação a nível do governo federal em estabelecer o controle de pandemia e prover os recursos necessários para o atendimento dessa segunda onda".

Mais de 313 mil pessoas morreram de coronavírus no Brasil, número superado apenas pelos Estados Unidos. A doença ainda está em fase de aceleração, com uma média de mais de 2.600 mortes por dia nos últimos sete dias, quase quatro vezes a total de 703 do início do ano. 

O presidente Jair Bolsonaro, que compareceu a multidões sem usar máscara e se opôs às medidas de distanciamento social alegando seu alto custo econômico, é alvo de críticas generalizadas.