Por apoios em 2022, Bolsonaro quer manter Salles e Ribeiro
A permanência de Salles e de Ribeiro faz parte de uma estratégia eleitoral de Bolsonaro para 2022
As trocas ministeriais anunciadas pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na última segunda-feira (29) não envolveram dois nomes que também são motivo de queixas do bloco do centrão.
Os atuais titulares do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e da Educação, Milton Ribeiro, foram mantidos pelo presidente, mesmo contrariando dirigentes da base aliada.
Nesta terça-feira (30), líderes do centrão ainda questionaram ministros palacianos se haveria mais mudanças além das que foram anunciadas.
A resposta foi a de que o presidente informou que, pelo menos a médio prazo, não haverá novas alterações na Esplanada dos Ministérios.
A permanência de Salles e de Ribeiro faz parte de uma estratégia eleitoral de Bolsonaro para 2022. O presidente tenta garantir novamente o apoio de dois grupos que ajudaram a elegê-lo ao cargo em 2018: o setor agrário e o segmento evangélico.
Além de contar com a simpatia da família Bolsonaro, o ministro do Meio Ambiente tem o respaldo de agricultores e pecuaristas, uma base considerada estratégica pelo presidente para a sua reeleição.
No ano passado, empresários dos setores de frigoríficos e tradings tentaram derrubar o ministro. O movimento também teve o apoio de representantes da indústria paulista.
O argumento, compartilhado por deputados do centrão, é de que a imagem de Salles tem atrapalhado acordos comerciais, sobretudo com nações europeias.
Em conversa recente, relatada à reportagem, Bolsonaro disse a deputados aliados que o ministro moderou seu discurso recentemente e que tem atuado para melhorar a interlocução entre o Brasil e Estados Unidos sob Joe Biden.
Ele lembrou que Salles teve uma conversa virtual, no mês passado, com o assessor americano John Kerry, enviado especial de Biden para o clima, que convidou Bolsonaro para participar da Cúpula de Líderes sobre o Clima, em abril.
No caso de Ribeiro, o bloco do centrão vinha defendendo que o presidente colocasse um nome mais moderado à frente da pasta.
O ministro, que é pastor presbiteriano, afirmou em uma entrevista no ano passado que a homossexualidade não é normal e a atribuiu a "famílias desajustadas".
Em reação, a PGR (Procuradoria-Geral da República) solicitou ao STF (Supremo Tribunal Federal) a abertura de um inquérito para apurar se o ministro cometeu o crime de homofobia.
Sem conseguir emplacar um nome na Saúde, integrantes do centrão tinham a esperança de comandar a Educação, que detém um dos maiores orçamentos da Esplanada dos Ministérios.
Bolsonaro, contudo, disse a assessores presidenciais na semana passada que não pretende fazer uma nova mudança na pasta, que já foi comandada por três ministros no seu governo (antes de Ribeiro, Ricardo Vélez Rodrigues e Abraham Weintraub).
De acordo com deputados governistas, o presidente quer evitar, a pouco mais de um ano da eleição, se indispor com o segmento evangélico, que tem apoiado o governo desde o início do mandato.
Para preservar o respaldo dos dois grupos e aumentar o espaço do centrão, o presidente acabou sacrificando o núcleo ideológico, que não ocupa mais nenhum cargo de primeiro escalão.
O último representante do chamado olavismo foi o diplomata Ernesto Araújo, que deixou o cargo no Itamaraty na última segunda-feira após se indispor com o Senado.
"No Palácio do Planalto, auxiliares criticam o presidente por ter, na avaliação deles, cedido cedo demais ao centrão.
Desde o ano passado, assessores presidenciais temiam que a eleição de Arthur Lira (PP-AL) para o comando da Câmara dos Deputados tornasse o governo refém do bloco partidário.
Além do Meio Ambiente e da Educação, integrantes do centrão têm demonstrado interesse nos controles das pastas da Infraestrutura e do Desenvolvimento Regional –hoje sob Tarcísio Freitas e Rogério Marinho, respectivamente.
Apesar de o núcleo ideológico não ocupar mais o primeiro escalão, ele ainda atua no Planalto por meio do chamado gabinete do ódio e do assessor especial Filipe Martins.
Este último, cuja demissão também foi solicitada pelo Senado, ganhou sobrevida após a queda de Ernesto. Sua permanência no posto foi costurada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente.
Ao todo, Bolsonaro fez trocas em seis pastas ministeriais. O bloco do centrão, que já tinha o controle de Comunicações e Cidadania, agora também chefiará a Secretaria de Governo, responsável pela articulação política.
De acordo com assessores presidenciais, a deputada federal Flávia Arruda (PL-DF) foi uma indicação do presidente da Câmara.
O esforço do presidente foi o de tanto acalmar os ânimos de Lira, que na semana passada fez um discurso crítico ao Executivo, como o de tentar amarrar o PL em sua candidatura à reeleição em 2022.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sinalizou recentemente a integrantes do centrão o interesse em ter como seu candidato a vice-presidente o empresário Josué Alencar, do PL. A entrega de um cargo ministerial à legenda, no entanto, não é considerada por dirigentes da sigla como uma garantia de um apoio em 2022. "
Na dança das cadeiras, o presidente demitiu ainda dois ministros que vinham questionando, em caráter reservado, decisões dele. Um deles foi José Levi do Amaral, que, há meses, já vinha sinalizando a intenção de deixar a o comando da AGU (Advocacia-Geral da União).
Bolsonaro se irritou com o fato de Levi não ter aceitado assinar ação ingressada no STF que pedia a suspensão de decretos publicados pelos governos do Distrito Federal, da Bahia e do Rio Grande do Sul com medidas de restrição para o combate à disseminação do coronavírus.
A demissão do general Fernando Azevedo do comando da Defesa também se deveu, segundo integrantes da cúpula militar, a desavenças com Bolsonaro. O presidente vinha pressionando o ministro para que as forças militares atuassem contra medidas de lockdown, o que Azevedo era contra.
Além disso, o presidente vinha defendendo uma troca do general Edson Pujol do comando do Exército, alteração à qual Azevedo vinha resistindo. De acordo com militares do governo, Pujol sempre defendeu a independência das Forças Armadas em relação à atual gestão.