Perícia confirma que material encontrado com suposta enfermeira em BH é soro fisiológico
A principal linha de investigação é de que o material era usado na vacinação clandestina, ocorrida na garagem de uma empresa de transportes
Parte do material encontrado na casa da mulher apontada como a responsável por aplicar injeções em um grupo de pessoas, incluindo empresários, em Belo Horizonte, é soro fisiológico, segundo o laudo da perícia da Polícia Federal.
A informação foi divulgada pelo portal G1, que teve acesso ao laudo, e confirmada pela Folha com fontes ligadas à investigação, nesta quinta-feira (1º).
O material foi apreendido em mandado de busca e apreensão cumprido na última terça-feira, na casa da suposta enfermeira. A polícia também esteve em uma clínica, mas nada foi apreendido no local.
A confirmação da perícia reforça a principal linha de investigação de que o material usado na vacinação clandestina, ocorrida na garagem de uma empresa de transportes e revelada em uma reportagem da revista piauí, na semana passada, seria falso.
Ainda na terça, a coluna Painel da Folha antecipou que a PF havia encontrado soro e ampolas com a mulher e que suspeitava que a vacina usada fosse falsa. A PF também trabalha com as hipóteses de que as vacinas tenham sido importadas ilegalmente e que os produtos tenham sido desviados do Ministério da Saúde.
Nas imagens divulgadas pela polícia do material apreendido na casa da suposta enfermeira, aparecem embalagens de uma vacina contra gripe. As caixas, porém, segundo a PF, estavam vazias.
Foi encontrado também um cartão de vacinação escrito "Vacina Covid Pfizer", com rasuras. A Pfizer, por meio de nota, nega que comercialize seu imunizante contra a Covid-19 em território brasileiro e fora do âmbito do Programa Nacional de Imunização.
A mulher, identificada como Cláudia Mônica Pinheiro Torres de Freitas, foi presa em flagrante na terça-feira. Segundo a Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública), ela continua na Penitenciária de Belo Horizonte I (Estevão Pinto).
O Coren-MG (Conselho Regional de Enfermagem) diz que o nome dela não consta nos registros de inscritos como profissional de enfermagem em Minas Gerais.
À polícia ela chegou a se identificar como enfermeira, mas depois disse trabalhar como cuidadora de idosos, mesma profissão que teria seu filho, Igor Torres. Ele também foi conduzido pela PF na terça, junto com a mãe e um homem apontado como suposto motorista dela, no dia da vacinação na garagem, mas passou mal e foi dispensado. Como ele não compareceu para prestar depoimento na quarta-feira, será intimado pela polícia.
Bruno Agostini Ribeiro, advogado que representa Cláudia e os outros dois investigados, disse que só vai se manifestar dentro do processo.
Na segunda-feira, os dois irmãos empresários, ligados ao setor de transporte, Rômulo e Robson Lessa, apontados pela reportagem da revista piauí como responsáveis por organizar a vacinação irregular, confirmaram para a PF o envolvimento no caso e que adquiriram os supostos medicamentos via pagamento por Pix, no valor de R$ 600 por pessoa. A Folha não conseguiu contato com os dois ou com seus representantes legais.
O Grupo Saritur diz que houve uma cisão administrativa em 2019 e que os dois irmãos já não fazem mais parte da direção do mesmo.
A Companhia Coordenadas, que tem caminhões no endereço onde ocorreu a vacinação e onde pessoas trabalham usando uniforme da Saritur, segundo a nota do grupo, funciona de forma independente. A Coordenadas, diz a assessoria da Saritur, é de Rômulo e Robson.
A Saritur diz ainda que nenhum de seus diretores foi citado na reportagem da piauí e que sua diretoria desconhece o assunto.
A Folha também apurou que, segundo depoimento dos empresários, entre a segunda (22) e terça-feira (23), mais de 80 pessoas teriam sido vacinadas. No evento na terça, registrado em vídeo por vizinhos da garagem que acionaram a Polícia Militar, o grupo seria de cerca de 50 pessoas, segundo a reportagem da piauí.
Nas buscas realizadas na última sexta-feira, a PF encontrou uma lista com 57 nomes de pessoas que teriam sido vacinadas. Entre eles, estariam familiares do ex-senador Clésio Andrade.
O nome dele, que é citado na reportagem da piauí como um dos vacinados, não consta na lista. À Folha, na semana passada, o ex-senador negou ter recebido a vacina e disse estar em quarentena no sul de Minas.