Bolsonaro nega politização da Defesa e cita governos do PT
No início da semana, o presidente demitiu o general Fernando Azevedo do cargo de ministro da Defesa pois não via o apoio a ideias intervencionistas
Diante da crise que provocou nesta semana ao trocar toda a cúpula militar do país, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) usou sua live desta quinta-feira (1º) para negar que tenha procurado politizar as Forças Armadas. Para se defender, ele citou governos do PT.
"Houve uma especulação enorme da mídia. 'Está politizando, quer fazer isso, quer fazer aquilo'. Curiosidade: quem era e quem é o atual ministro da Defesa? Ambos são generais do Exército do último posto da carreira, generais de quatro estrelas", afirmou Bolsonaro.
No início da semana, o presidente demitiu o general Fernando Azevedo do cargo de ministro da Defesa pois não via o apoio a ideias intervencionistas que gostaria entre os fardados da ativa.
Em seu lugar, colocou seu então ministro da Casa Civil, general Walter Braga Netto. A saída de Azevedo foi seguida imediatamente pela renúncia coletiva dos comandantes do Exército, Edson Leal Pujol, da Marinha, Ilques Barbosa, e da Aeronáutica, Antônio Carlos Bermudez, que acabaram demitidos por Braga Netto.
Eles foram substituídos pelo general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira (Exército), pelo almirante Almir Garnier (Marinha) e pelo brigadeiro Carlos Almeida Baptista Jr. (Aeronáutica). Enquanto o novo chefe do Exército era um nome criticado no Palácio do Planalto, o novo comandante da Aeronáutica é próximo ao bolsonarismo.
"Obviamente, vocês sabem que o militar da ativa não pode sequer estar filiado a qualquer partido político. Agora, eu estou politizando colocando generais do último posto dentro da Defesa?", indagou Bolsonaro.
O presidente, então, citou os ministros da Defesa do governo Dilma Rousseff (PT) com filiação política: o hoje senador Jaques Wagner (PT-BA) e Aldo Rebelo, que à época era filiado ao PC do B e hoje está no Solidariedade.
"Isso é politizar ou eu que estou politizando?", indagou Bolsonaro aos seguidores.
O presidente também queixou-se de generais da reserva que, nos últimos dias, criticaram a forma como as mudanças ocorreram.
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, que foi demitido por Bolsonaro da Secretaria de Governo em 2019, disse que a decisão de fazer as trocas se deve a "capricho, birra, comportamento sem nexo" de Bolsonaro.
"Os comandantes de Forças Armadas não são políticos. Eles são pessoas de dentro da própria instituição que chegaram a comandante. Passaram 45 anos lá dentro sendo selecionados, avaliados", disse Santos Cruz na terça-feira (30). "E quando chega na hora de ir para casa, de ir embora, deixar o serviço ativo, não é dessa forma. Isso é desrespeito, falta de consideração com a instituição, com as pessoas e com as funções que elas ocupam", afirmou.
O general Otávio do Rêgo Barros, demitido do cargo de porta-voz por Bolsonaro, afirmou à reportagem, também na terça-feira, que a política não deve se aproximar das Forças Armadas.
"Que a política permaneça ao largo dos quartéis", disse o antigo auxiliar do presidente.
"Quem está politizando as Forças Armadas? Não sou eu", insistiu Jair Bolsonaro.
O presidente disse que apenas ele e Braga Netto sabem o motivo da troca no comando da Defesa, mas não entrou em detalhes.
"Morreu aqui essa história, não tem que discutir nada", encerrou.
Diante do temor de que as mudanças objetivassem um rompimento institucional como um golpe militar, Bolsonaro reiterou que atua nos limites da Constituição.
"Sempre falei para todos os meus ministros: onde é nosso jogo? Nosso jogo é dentro das quatro linhas da Constituição. Não vamos sair deste retângulo ou deste quadrado. E também devemos nos preocupar com quem está jogando fora deste quadrado, que está agindo de forma errada", disse Bolsonaro.
"Alguma providência legal tem que ser tomada contra quem está agindo fora destas linhas. Estou errado? Onde vocês viram ou ouviram uma só ação minha, um ato que visasse aí termos aqui algo fora da Constituição, um arroubo de autoritarismo? 'Ah, vamos fechar isso, vamos censurar aquilo'. Nada. Nunca tiveram nada a meu respeito", afirmou Bolsonaro, que criticou a adoção do relatório da Comissão da Verdade nos currículos militares.
O presidente, porém voltou a falar em "meu Exército" para se posicionar contra medidas restritivas adotadas em alguns estados e municípios para conter a pandemia com detenção para quem descumpre as regras.
"Isso é um crime que está acontecendo. Agora, isso vai ter um limite um dia. Não pode continuar acontecendo essas coisas e nós assistindo passivamente isso daí", afirmou. "O meu Exército brasileiro não vai às ruas para agir contra o povo ou para fazer cumprir decretos de governadores ou prefeitos. Não vai. O meu Exército, enquanto eu for presidente, não vai. O que estão esperando acontecer?", indagou.
Bolsonaro usou a live também para insistir em tratamento precoce, colocar em dúvida quando irá tomar a vacina contra Covid-19 -no Distrito Federal, a imunização de pessoas com 66 anos, idade do presidente, começa neste sábado (3)- e para atacar governadores que adotam medidas restritivas, em especial o do Piauí, o petista Wellington Dias, que divulgou vídeo em que cobra a volta do pagamento do auxílio emergencial, que já foi de R$ 600, e agora vai variar de R$ 150 a R$ 375.
"Quem está acabando com emprego é ele, governador Wellington Dias, não somos nós aqui", disse o presidente.
"Então, Wellington Dias, como tem material da imprensa aqui dizendo que o teu estado está superavitário, que todos os estados estão superavitários, você poderia criar um complemento ao auxílio emergencial. Nós estamos dando R$ 250, você dá mais R$ 350 e chega nos R$ 600", afirmou.
"A nossa proposta é [pagar o auxílio] por quatro meses. Você acha que tem que ficar até o final da pandemia, a partir, então, de agosto, setembro, você paga os R$ 600 para o pessoal do teu estado, que você está tirando emprego dessas pessoas. Você tem que se responsabilizar, não fazer um vídeo voltado para a demagogia culpando o governo federal. Nós demos bilhões para o seu estado", disse Bolsonaro.
Imediatamente após as críticas, o presidente afirmou que "o que eu mais quero aqui é paz e harmonia com todos os governadores, sem exceção".