Geraldo Maia é Pernambuco com força e sutileza na final do The Voice
Pernambucano mesclou entre o simples e o intenso, com repertório tomado por clássicos da MPB, como nome do Nordeste na disputa de melhor cantor do Brasil
Pelos dedos que alumiam estas linhas, nunca o sentir de moiá os pés no riacho e ouvir que o orvaio beijô as frô emocionou tanto como quando Geraldo Maia, 61, declamou em sua estreia no The Voice + a nossa “Estrada de Canindé”. Foi coisa pra mode ver e só o Rei do Baião tinha essa plenitude na composição assinada com Humberto Teixeira.
“Era latente o medo e quando os quatro viraram, foi avassalador. Foi muito bonito de ver”, descreve o cantor e compositor pernambucano finalista do reality que, aplaudido de pé, fez ali a primeira de outras apresentações que o trouxeram à final ao vivo, neste domingo, 4 de abril. “Foi o momento mais impactante. Deu uma apreensão pela possibilidade de ninguém virar ou apenas um deles, mas aí já seria a glória”, complementa Geraldo que o tanto quanto sua cantoria, esteve com lágrimas na voz ao conversar com a Folha de Pernambuco.
E por falar em voz, a de Geraldo Maia beira a simplicidade, e é neste ponto que ele exala o quão diferente se mostra. Sem firulas nem esforço, com leveza e intensidade. “Você é poderoso quando canta, mas ao mesmo tempo é simples”, diria Cláudia Leitte maravilhada por ele na fase “Audições às Cegas”, o tanto quanto ficaram Daniel, Ludmilla e Mumuzinho - e foi com este que Geraldo optou em seguir. “Ele era com quem eu me identificava, pelo pé no samba que também tenho”, justificou, remetendo-se ao seu “Samba de Mar Quebrado” (2004), disco em que resgatou, inclusive, um samba de Luiz Gonzaga “Tenho Onde Morar”.
No“Tira-Teima” Geraldo exalou um dos pontos fortes que gosta de levar aos palcos, a sua teatralidade, (bem) exposta nos versos “Porém não tive coragem de abrir a mensagem, porque na incerteza eu meditava, dizia: será de alegria, será de tristeza?”
E sua versão de “Mensagem” (Aldo Cabral e Cícero Nunes) ganhava novamente os jurados e o próprio Geraldo Maia, em um auto reconhecimento de que “o elemento de dramaticidade é uma coisa que eu gosto, me sinto melhor, a música que tem isso me favorece”. Esse mesmo “drama” o levou à fase “Top dos Tops” e sob um gibão e calçado com chinelo de couro, Jackson do Pandeiro lhe concedeu a licença para que seu “Lamento Cego” ganhasse novos ares.
“Eu tinha que fazer escolhas acertadas, é um programa curto. Uma das sínteses do meu trabalho é o viés com a música nordestina e com todos os símbolos e manifestações dessa regionalidade. Ao mesmo tempo em que isso pulsa forte dentro de mim, busco associar esse elemento ao da modernidade, um Nordeste para jogar um facho de luz para o futuro”, explica ele sobre a versão dada à canção.
Semifinal e tome novamente o chinelo de couro para entoar “Procissão”, de Gilberto Gil, cantada (e contada) com “As mulheres cantando tiram versos, os homens escutando tiram chapéu”, literalmente ele tirou. “Do fundo do meu coração, vejo você em um palco iluminado e Deus joga holofotes de luz”, descreveu Mumuzinho depois da apresentação que o levou à disputa do título de melhor cantor do Brasil junto a outros sete candidatos - a grande maioria do eixo Rio-São Paulo, apenas ele como representante do Nordeste.
“Eu não esperava que um dia estivesse no The Voice, não passava na cabeça. É uma janela volumosa, luminosa, e eu não teria essa oportunidade de ficar conhecido no Brasil. Antes eu era um cantor conhecido, mas localmente, isso já mudou e não sei em que âmbito vai seguir”, reflete ele, tranquilo, às vésperas da final. “Medito todos os dias e isso é uma atenuante. Tem o nervosismo da hora, o coração bate mais forte, mas estou tranquilo e no que depender de mim darei o melhor”.
Para o pernambucano – que carrega mais de quatro décadas de história na música - “o mais importante foi estar no programa, ter chegado à reta final e poder ‘abraçar’ cada brasileiro”. Ser campeão seria o plus, que pode chegar com “duas músicas preparadas com carinho, arranjos bonitos e uma delas com tom lusitano”, adianta.
Ele carrega dentro de si Portugal, país que já esteve como visitante e como morador. E foi de lá que veio seu companheiro John Holtappel, 63 anos, protagonista do fim da entrevista. “John está no sítio (em Taguaritinga do Norte, onde ambos moram). Ele é meu bálsamo, meu sustento e força. Tudo vem dele também, há 29 anos”, discorre, até emocionar-se para soltar um “Nem sei como falar disso”. Mas deu tempo de com aquelas mesmas lágrimas na voz, bradar: “Somos da eternidade um do outro”.