Documentário sobre Britney Spears expõe feridas com mulheres na música pop
Documentário 'Free Britney' estreou no Globoplay exibindo o drama judicial da cantora pop
Britney Spears começou a carreira na música de forma grandiosa, em 1998, com apenas 16 anos, ao superar a marca de 30 milhões de cópias vendidas com o disco “… Baby One More Time”. Com a virada do milênio, tornou-se a grande popstar mundial, chegando a um nível de influência apenas de Michael Jackson, Madonna e The Beatles, no início dos anos 2000. Em mais de 20 anos de carreira, a artista acumula mais de 100 milhões de vendas de discos e 100 milhões de singles, um número alcançado apenas pelos maiores fenômenos da indústria fonográfica.
Entretanto, a diva pop pagou um preço quase inestimável pela fama: perseguições de paparazzi, críticas, trabalhos excessivos e machismo da mídia após o término do relacionamento com Justin Timberlake. E depois de todo esse processo, Britney não possui autonomia de nada. Nem do seu trabalho, nem da sua vida pessoal e sequer o direito de voto sem a permissão de um tutor. É nesse sentido que o documentário “Framing Britney Spears: A vida de uma estrela”, produzido pelo New York Times, busca investigar como a vida da estrela foi tão afetada pela fama e a sua briga judicial com o pai, James Spears.
O longa-metragem chegou recentemente ao streaming brasileiro, via Globoplay, em que mostra o desenvolvimento da carreira da artista e as desdobramentos dos protestos “#FreeBritney”, que têm mobilizado fãs do mundo todo para a libertação da tutela do seu pai e da Associação Bancária Tessemer Trust. Desde 2008, a cantora não possui a liberdade para desbloquear um cartão ou simplesmente colocar seu voto na urna sem a permissão de alguém.
Nesse sentido, o documentário acompanha a trajetória de Britney com entrevistas preciosas, tanto de pessoas próximas quanto de especialistas e jornalistas que acompanharam o seu fenômeno de perto. A produção detalha como a menina que nasceu numa pequena cidade do estado da Louisiana se tornou um sucesso comercial tão grande e ainda tão nova.
Em um dos trechos, a antiga diretora de marketing da Jive, gravadora da artista, explica como ela mudou o cenário da música pop, em uma época em que cantoras adolescentes não faziam tanto sucesso quanto as boybands. Britney, com 17 anos, passou a ser referência mundial para milhões de garotas. Ao mesmo tempo que passava a figura de inocente, ela ocupava as discussões sexuais em programas de TV e capas de revistas, como na época do escândalo no gabinete de Bill Clinton.
Queda
Após o sucesso, a cantora passou a acumular milhares de problemas. A perseguição constante de paparazzis, as manchetes de cunho machista quando houve o rompimento com Justin Timberlake, a separação no casamento e a perda da guarda dos filhos viraram uma bola de neve para Spears, que chegou a ter o famoso “surto” em 2007.
De lá para cá, sua saúde mental sempre foi pautada em meio a lançamento de discos, turnês e residências artísticas. Tudo isto sob a tutela do pai, James Spears, que tem total controle da sua filha. Um dos pontos positivos do documentário é a forma como a narrativa vai se construindo em defesa de “Brit”, por meio de depoimentos de pessoas que sempre estiveram presentes na sua vida. Como uma artista que vendeu milhões, fez centenas de apresentações e se manteve nos holofotes durante tanto tempo não pode ter controle da sua vida?
O questionamento fica no imaginário de quem assiste, que acompanha a vida sem a mínima participação do pai, mas ao mesmo tempo ele é a figura central para a discussão. Em declaração nas redes sociais, Britney se posicionou de forma negativa à produção, em um vídeo que aparece dançando. Embora tenha estreado há um mês nos Estados Unidos, o filme continua repercutindo, principalmente porque o caso ainda está em aberto. Assim como há 23 anos, a estrela pop continua moldando as discussões midiáticas.