Assessor de Bolsonaro presta depoimento e pode ser indiciado por gesto racista
Polícia legislativa apura sinais feitos por Filipe Martins às costas do senador Rodrigo Pacheco
O assessor internacional da Presidência, Filipe Martins, prestou depoimento nesta quarta-feira (7) à Polícia do Senado Federal, numa investigação que apura gestos feitos às costas do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), em 24 de março.
A apuração investiga se os gestos feitos por Martins tinham conotação racista e, ao final do procedimento, a polícia do Senado decidirá se ele será indiciado ao Ministério Público.
O procedimento corre em sigilo no Senado.
Interlocutores afirmam que Martins pouco acrescentou em relação à sua versão da situação –ele diz que estava ajustando a lapela do terno e não fazendo gestos.
Expoente da ala ideológica do governo Jair Bolsonaro, Martins acompanhava o ex-chanceler Ernesto Araújo numa sessão com parlamentares quando foi flagrado por câmeras do Senado fazendo um sinal às costas de Pacheco.
Juntando o polegar ao indicador, o assessor manteve os demais dedos esticados e fez movimentos repetitivos com a mão ao lado do paletó. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da oposição, chamou a atenção dos presentes e disse que a gesticulação era obscena.
As críticas contra Martins se intensificaram porque o gesto é também ligado a movimentos de supremacia branca –ele tem histórico de uso de símbolos associados à extrema direita.
Pacheco, por exemplo, considerou o símbolo feito por Martins "completamente inapropriado".
Na sessão no Senado, diversos parlamentares cobraram publicamente a demissão de Ernesto, que acabou confirmada dias
depois. O ex-ministro foi substituído pelo diplomata Carlos França.
Senadores também cobraram a saída de Martins do Palácio do Planalto, mas, pelo menos por ora, Bolsonaro preservou seu auxiliar no cargo.
No entanto, conselheiros do presidente dizem que ele deve ser afastado. De acordo com interlocutores, Bolsonaro está avaliando qual a melhor posição na Esplanada para alocar o assessor. O mais provável é que ele vá para a assessoria em algum ministério.
Para diminuir a pressão, Bolsonaro determinou que Martins submerja e evite novas aparições que possam renovar os apelos por sua demissão.
Na segunda-feira (5), por exemplo, ele ficou de fora de uma cerimônia de entrega de credenciais de embaixadores estrangeiros.
O assessor normalmente acompanhava esse tipo de solenidade, que marca o início da missão do diplomata estrangeiro no Brasil.
Na segunda, além de Bolsonaro, as principais autoridades brasileiras que participaram do ato no Planalto foram o novo chanceler e o chefe da SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos), almirante Flávio Rocha, que também comanda a Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social).
Procurado pela reportagem nesta quarta, Martins não respondeu.