Diplomacia

FMI diz que mudança climática é risco para economia global e pede união de China e EUA

A avaliação é da diretora-geral do FMI (Fundo Monetário Internacional), Kristalina Georgieva

Diretora-geral do FMI (Fundo Monetário Internacional), Kristalina Georgieva - Nicholas Kamm/AFP

A mudança climática é um risco para a estabilidade econômica e fiscal e é preciso unir esforços de potências antagônicas, como EUA e China, para acelerar a transição à economia sustentável e evitar novas crises.

A avaliação é da diretora-geral do FMI (Fundo Monetário Internacional), Kristalina Georgieva, durante debate nesta quarta-feira (7) com John Kerry, enviado especial para o clima do governo Joe Biden.

"Mudança climática é um risco crescente para a estabilidade macroeconômica e para a estabilidade fiscal mas, ao mesmo tempo, ações como investimento em tecnologia limpa e resiliência para setores do clima geram crescimento e empregos sustentáveis", afirmou a economista, que focou na urgência das medidas.



"Essa pandemia nos colocou um aviso de 'não brinque com a natureza' e também nos mostrou que estamos juntos nessa e que temos que trabalhar juntos para conseguirmos um mundo mais resiliente."

Kerry, por sua vez, admitiu que os EUA precisam fazer um trabalho melhor para reduzir as emissões de carbono -o país é o segundo maior poluente do mundo, atrás apenas da China- e disse que a Casa Branca quer trabalhar em conjunto com Pequim, sem relutar contra o crescimento chinês.

Na avaliação do americano, é preciso garantir que erros do passado não sejam repetidos e que o investimento seja em energia limpa e renovável.

"Claro que a China tem que continuar a crescer, não somos relutantes a isso, mas queremos trabalhar com a China e com outros países para garantir que o desenvolvimento seja diferente, que não seja com os erros que cometemos [no passado]", completou Kerry, dando destaque ao investimento em energia limpa.

Segundo o americano, 30% das emissões de carbono vêm da China e, se o país não diminuir esse nível até 2030, o mundo
vai perder a capacidade de segurar o aquecimento global em 1,5 graus Celsius e zerar as emissões de gases do efeito estufa até 2050.

"Estamos muito para trás [...] Os EUA são o número 2 em emissão e precisamos fazer um trabalho melhor para reduzir mais", disse.

Kristalina destacou os riscos de negligenciar as mudanças climáticas e disse que é preciso redirecionar os investimentos do sistema financeiro global para apoio às nações mais pobres, que são muito atingidas pelo impacto do aquecimento global.

"Isso é o FMI: estabilidade, emprego e crescimento, e é por isso que agora o clima está no DNA da nossa instituição e no coração do nosso trabalho quando fazemos discussões políticas e debatemos como podemos ter mais sucesso com estratégias para mitigação [dos efeitos do aquecimento global] e adaptação da economia."

Na opinião de Kristalina, quando os riscos do aquecimento global são escancarados com transparência, investidores são mais estimulados a colocar dinheiro em ações que vão acelerar a transição econômica.

"Quando criamos transparência em torno dos riscos do clima, os investidores ficam em boa posição para julgar [onde colocar dinheiro]."

O secretário de Biden disse ainda que essa é a década para fazer mudanças e apresentar resultados, um discurso que tem repetido em suas aparições públicas, classificando o atual processo como a maior transformação econômica desde a revolução industrial.

"Está acontecendo agora, o mercado está se mexendo agora, com pessoas comprando mais produtos sustentáveis", declarou.

Horas antes, em entrevista coletiva, Kristalina foi ainda mais assertiva e disse que este era o ano da mudança.

"2021 tem potencial para ser 'o' ano das ações climáticas [...] Temos cientistas falando em alto e bom som que precisamos de ações."

Para ela, o papel do Fundo, que faz suas reuniões de primavera esta semana, é ajudar a reconhecer que é preciso progredir mais rápido do que o ritmo atual, tentar encontrar financiamento para construir a transição para uma economia verde com benefícios de crescimento e emprego, e garantir que as transformações sejam efetivas, em trabalho conjunto entre os países.

"É muito importante reconhecer que lidar com essa crise é andar e mascar chiclete ao mesmo tempo."