Crítica

Em 'Meu pai', Anthony Hopkins entrega atuação primorosa

Com seis indicações ao Oscar, filme chega às plataformas digitais no Brasil neste sexta-feira (9)

Anthony Hopkins interpreta idoso afetado pela confusão mental - Divulgação

É difícil imaginar um personagem que Anthony Hopkins não interprete com maestria. Aos 83 anos, ele é o tipo de ator cujo trabalho se destaca até mesmo em produções não tão brilhantes. Com “Meu pai”, no entanto, o artista britânico parece ter encontrado seu melhor papel desde “O silêncio dos inocentes”, filme com o qual conquistou seu único Oscar até o momento, em 1992.

Pode ser que a estatueta dourada volte a reluzir nas mãos de Hopkins no final de abril, já que ele vem sendo apontado como um dos favoritos ao prêmio de melhor ator. “Meu pai” concorre ainda em outras cinco categorias: melhor filme, roteiro adaptado, design de produção, montagem e atriz coadjuvante. A partir desta sexta-feira (9), o longa-metragem está disponível para compra nas plataformas digitais Now, Apple TV e Google Play.

O filme é baseado em uma peça de teatro homônima escrita pelo francês Florian Zeller. A versão para o cinema é dirigida pelo próprio dramaturgo, que sempre sonhou ter o ator veterano como seu protagonista. Não por acaso, o personagem também se chama Anthony e é britânico. A trama gira em torno de um idoso e as complicações que a velhice acaba causando em sua cabeça. 

Ao longo da produção, o espectador acompanha a confusão mental que se estabelece no personagem. Morando sozinho em seu apartamento em Londres, o senhor se recusa a receber a ajuda de cuidadores, até que sua filha resolve se mudar para Paris. A partir de então, há uma série de acontecimentos estranhos na vida do idoso. De repente, sua herdeira não tem o mesmo rosto. Um homem desconhecido aparece na sala, diz ser seu genro e assegura que o imóvel pertence a ele.  

A princípio, nada parece fazer muito sentido. Anthony desconfia que a filha está tramando algo para ele sair de casa e o espectador, guiado pela competente direção de Zeller, chega a acreditar que o ancião pode mesmo estar sofrendo um golpe. A intenção é fazer com que o público experimente o sentimento de desordem provocado pela demência. Até mesmo o cenário contribui para embaralhar esse quebra-cabeça, uma vez que o apartamento parece mudar um pouco a cada cena. 

À medida que as memórias do protagonista vão se desfazendo, as relações familiares ganham novas nuances. A filha se vê dividida entre os transtornos causados pela situação do pai e a responsabilidade de cuidar dele. A atriz Olivia Colman apresenta uma inegável sintonia em cena com seu ilustre parceiro.

“Meu pai” transborda reflexões sobre empatia, afeto e cuidado com o outro. Nos minutos finais do filme, Anthony Hopkins consegue expressar toda a fragilidade de seu protagonista com poucas palavras e um olhar perdido. É melhor preparar o lencinho antes de assistir.