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Mianmar pode ser a próxima Síria, adverte ONU

Segundo balanço realizado pela AAPP, a repressão em Mianmar provocou ao menos 710 mortes, entre elas 50 crianças

Manifestantes protestando durante o tradicional Festival das Águas, em Mianmar - HANDOUT / FACEBOOK / AFP

A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, disse nesta terça-feira (13) temer que Mianmar afunde em um conflito generalizado como na Síria e alertou sobre possíveis crimes contra a humanidade cometidos pela junta militar contra a população. 
 
Mianmar está imersa no caos desde o golpe militar de 1º de feveiro, no qual a junta derrubou a ex-líder civil Aung San Suu Kyi do poder.
 
Segundo um balanço realizado pela Associação de Assistência aos Presos Políticos (AAPP), a repressão provocou ao menos 710 mortes, entre elas 50 crianças. Cerca de 3.000 pessoas foram presas.
 
"Temo que a situação em Mianmar se dirija para um conflito generalizado. Os Estados não devem permitir que os erros fatais cometidos na Síria e em outros lugares se repitam", acrescentou Michelle Bachelet, pedindo aos Estados para "tomarem medidas imediatas, decisivas e eficazes" para obrigar a junta a interromper sua repressão.
 
"Há ecos claros de 2011 na Síria. Lá também vimos manifestações pacíficas reprimidas com força desnecessária e completamente desproporcional. A repressão brutal e persistente do Estado contra seu próprio povo levou algumas pessoas a pegarem em armas, o que foi seguido de uma espiral de violência em todo país", afirmou Bachelet em um comunicado. 
 
Dez anos depois, o conflito na Síria deixou cerca de 400.000 mortos. 
 
O golpe de Estado gerou inúmeras reações de condenação nas capitais ocidentais, às vezes acompanhadas de sanções contra a junta e seus interesses financeiros. 
 
Mensagens pró-democracia
Muitos opositores ao golpe defenderam boicotar nesta terça-feira o Festival das Águas, ponto de partida do festival de Thingyan, o Ano Novo budista, que é celebrado até sexta-feira.
 
Os moradores de Yangon, Monywa e Bafo colocaram nos vasos de flores - tradicionalmente usados nesse festival - mensagens a favor da democracia, antes de espalhá-los pelas ruas.
 
"Lutem pela democracia", "Nunca desistam" diziam algumas das mensagens nesses vasos que são, segundo um opositor em Yangon, um símbolo para receber o novo ano e ao mesmo tempo para "honrar os heróis mortos".
 
Habitantes de Mandalay, a segunda cidade do país, colocaram recipientes em uma estupa - um monumento budista - com a imagem de um cumprimento com três dedos da mão, símbolo da resistência. 


Em uma mensagem no Twitter, a enviada da ONU para Mianmar, Christine Schraner Burgener, disse que "Thingyan deveria ser uma celebração feliz, mas infelizmente não há nada para celebrar em Mianmar".
 
A enviada da ONU começou pela Tailândia uma viagem diplomática na Ásia, mas Mianmar se recusa a recebê-la.
 
Facções étnicas
Facções étnicas armadas, muitas das quais apoiam abertamente o movimento de protestos, multiplicaram os ataques contra o Exército e a polícia nas últimas semanas.
 
O Exército respondeu com ataques aéreos que, segundo a Free Burma Rangers, uma organização humanitária cristã, deslocou mais de 24.000 civis no Estado de Karen (sudeste), até sábado passado.
 
A Free Burma Rangers, que administra um centro de saúde neste Estado, afirmou que os bombardeios deixaram ao menos 20 mortes e mais de 40 feridos. A AFP não conseguiu verificar este balanço com uma fonte independente.
 
Esses bombardeios causaram a fuga de milhares de habitantes para a vizinha Tailândia nas últimas semanas, mas a maioria deles voltou para o lado birmanês da fronteira. 
 
Nesta terça-feira, o governo tailandês publicou no Twitter fotos de funcionários limpando as áreas onde os deslocados estiveram, como parte das medidas contra o coronavírus.