A partir de diferentes depoimentos, especial 'Falas da Terra' valoriza a cultura indígena
A produção conta com 21 depoimentos em primeira pessoa com informações sobre preservação da cultura, língua e costumes dos diversos povos originais
Pluralidade e diversidade são palavras que estão rondando cada vez mais as produções de tevê. Buscando ampliar o leque de projetos com debates sociais atuais na programação, a Globo exibe na próxima segunda, dia 19, o especial “Falas da Terras”, que joga luz na luta dos indígenas pelo direito de existirem e serem ouvidos, fazendo um resgate histórico de valorização de suas culturas. O projeto, que vai ao ar no Dia do Indígena, segue a linha das produções “Falas Negras” e “Falas Femininas”, que integram o Projeto Identidade, que transforma em especiais de tevê importantes temáticas da agenda social que estão vinculadas a datas do calendário, como o Dia Internacional da Mulher.
A primeira temporada teve início em 20 de novembro de 2020, no Dia da Consciência Negra, com o “Falas Negras”. “A palavra ‘índio’ é uma ficção que foi introjetada na mente dos brasileiros pelo sistema oficial de ensino. É uma palavra que não diz quem somos, mas o que as pessoas acham que somos. Costumam nos chamar de preguiçosos, selvagens, atrasados, inúteis. Todos estes adjetivos estão dentro da palavra ‘índio’. Ela nega o que somos porque assim aprendemos. Para que novos significados façam parte de nosso repertório, é necessário criarmos consciência do que os povos indígenas são de verdade”, explica Daniel Munduruku, escritor e vencedor do Prêmio Jabuti e do Prêmio de Literatura pela Unesco, que participa do especial.
A produção conta com 21 depoimentos em primeira pessoa com informações sobre preservação da cultura, língua e costumes dos diversos povos originais; proteção do meio ambiente e da vida; respeito à diversidade; histórias de resistência e ativismo; demarcação de terras; invasão de territórios demarcados; preservação das florestas; e importância da literatura para ajudar na conscientização e entre muitos outros temas. O especial apresenta a trajetória de indígenas que expressam sua luta e ganham seu sustento com a arte, seja através da música, da dramaturgia ou das artes plásticas.
“A música indígena atravessa os mundos para transmitir a voz de um povo originário. A brisa, os ventos, o canto dos pássaros e o universo que nos rodeiam, as coisas que vemos e que só sentimos, isso tem sido ensinado para cada nova geração. A música é o que me dá força na minha luta. Tenho uma carreira de 15 anos divulgando a cultura, levantando comigo outros artistas indígenas que por muito tempo foram apagados”, defende Djuena Tikuna, cantora do Amazonas que foi a primeira indígena a protagonizar um espetáculo musical no Teatro Amazonas.
Além dos depoimentos diante das câmeras, o projeto também teve a participação de profissionais indígenas nos bastidores. Ailton Krenak atuou como consultor, construindo o especial junto com a diretora artística Antonia Prado. Líder do Movimento Socioambiental de Defesa dos Direitos Indígenas, escritor e organizador da Aliança dos Povos da Floresta, ele participou da escolha dos personagens e da criação do projeto. “Nós temos a lei 11.645 que orienta ações educativas de História e Cultura Indígena em nossas escolas, uma abertura recente que deve ser ocupada por novas abordagens da nossa presença na vida brasileira.
O dia 19 de abril foi estabelecido como uma convocatória na década de 1940, no Congresso Indigenista para denunciar o Genocídio Ameríndio. Não celebrando nada, apenas invocando o dever dos Estados nacionais, em convocar a mobilização e respeito aos Direitos dos Povos Indígenas”, aponta Ailton.
Além de Ailton, Ziel Karapató, artista e ativista; Graciela Guarani, cineasta; Olinda Tupinambá, jornalista e documentarista; e Alberto Alvarez, cineasta e realizador, fizeram parte da equipe indígena realizadora da obra. As histórias mostram as várias maneiras de ser indígena, traduzindo a riqueza cultural dos mais de 300 povos existentes no Brasil. “É importante dar visibilidade à nossa cultura, aos nossos direitos, aos nossos saberes ancestrais. Somos protagonistas da nossa história, dos nossos próprios saberes. Precisamos falar que o dia do índio não é aquele da escola, que coloca um papel como forma de cocar, precisamos que as escolas e a sociedade não indígenas escutem nossa voz, conheçam nossa cultura, nossa diversidade”, ressalta a ativista indígena Maial Kayapó.
“Falas da Terra” – Globo – 19 de abril.