Judô

Às vezes minto para mim que estou bem, diz Mayra Aguiar após lesão na pandemia

Em meio à pandemia de Covid-19, uma das esperanças de medalha para o Brasil nos Jogos teve que passar por cirurgia no joelho esquerdo

Mayra Aguiar é um dos principais nomes do judô brasileiro - Toshifumi Kitamura/AFP

Enquanto o mundo do esporte tenta se fechar em "bolhas sanitárias" para conseguir competir e treinar a cem dias da Olimpíada, a judoca Mayra Aguiar criou sua própria bolha para superar um dos momentos mais difíceis da carreira.

Em meio à pandemia de Covid-19, a atleta de 29 anos, uma das esperanças de medalha para o Brasil nos Jogos, sofreu uma lesão e teve que passar por cirurgia no joelho esquerdo, em novembro de 2020. Mesmo após diversas operações na carreira, ela conta que essa foi diferente e que precisou fortalecer a parte mental da sua luta como nunca.

"A positividade sempre funcionou comigo", disse nesta quarta (14), em entrevista coletiva. "Eu tento entrar numa bolha do que é positivo, do que é bom. Claro, sabendo o que está acontecendo [ao redor], mas podendo, quando preciso me focar, me focar. Eu entro na minha cabeça e me equilibro."

Às vezes, porém, isso é mais difícil. "Não é sempre que eu estou bem, mas eu engano minha cabeça dizendo que estou. Isso me ajuda às vezes, num treino que não estou aguentando, dou um sorriso e minto para mim, falo que não estou cansada. E aquele pouquinho de confiança que isso me dá, me ajuda."

Já na fase final de sua recuperação, Mayra encontrou mais um obstáculo, que foi a ascensão violenta do coronavírus em todo o país. Por isso, decidiu deixar o Rio Grande do Sul, onde treinava, e ir para o Rio de Janeiro se preparar no Centro de Treinamento Time Brasil, operado pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB).

Ela explica que a decisão se deu após diversas idas e vindas nas restrições da pandemia atrapalharem sua preparação.

"Uma vez na Sogipa [onde treina no Sul], já tinha arrumado meu suplemento, estava pronta para treinar, cheguei e não, estava tudo fechado. Aí você volta para casa, 'e agora?' Foram isso algumas vezes: muda, fecha competição que estavamos embarcando para ir, volta para casa, muda tudo, fica oscilando... E isso desestabiliza, você estava com tudo programado, se prepara, e daqui a pouco muda de uma hora para outra", afirmou.

No Rio de Janeiro, ela teve a vantagem de ficar hospedada bem próxima ao local de treino, o que possibilitou que passasse o dia inteiro se dedicando ao esporte. Também pôde fazer um "check up" do seu corpo, com diversos exames e testes, para saber o que precisava melhorar até a Olimpíada.

Na última semana, ela voltou a Porto Alegre, onde deve passar as próximas etapas da sua preparação focada com sua equipe particular.
Mayra já foi campeã mundial voltando de lesões graves, mas diz que aprendeu muito ao viver um dos momentos mais difíceis da carreira ao mesmo tempo que o mundo enfrenta o momento mais difícil de uma geração.

"Tive momentos que eu tive que não me cobrar tanto em determinada situação, aceitar estar num momento diferente, e essa sensação foi o que me ajudou: aceitar o que estava acontecendo. Eu estava na melhor fase da minha carreira, e veio tudo aquilo [a pandemia], aquela agonia e logo em seguida eu machuquei o joelho, então pareceu que o mundo desabou. Quando aceitei, consegui o melhor possível", disse.

Ansiosa para os Jogos Olímpicos de Tóquio, programados para começar no dia 23 de julho deste ano, ela espera que o evento seja um alento para os brasileiros neste momento de dificuldade. A lista dos classificados para o evento será definida no fim de junho com base no ranking da categoria (no seu caso, até 78 kg). Atualmente 10ª colocada, ela estaria garantida.

Antes, precisa voltar a competir, algo que ainda não tem data definida para acontecer. Pensa no Grand Slam de Kazan, na Rússia, em maio, mas ainda espera para bater o martelo. Também projeta o Mundial, em junho, marcado para Budapeste.

Enquanto não pode lutar, segue em sua própria bolha, lendo e conversando com outros atletas, mas evita até ver vídeos das adversárias se for possível -assistir a uma competição, nem pensar. Já que o corpo volta de lesão, a mente precisa estar mais forte.

"Estou muito bem psicologicamente, e sei que esse vai ser meu diferencial [na hora de competir], porque elas [adversárias] vão estar melhor física e tecnicamente. Mas vou ter que ter mais cabeça, mais vontade", completou.