Coronavírus

Estudo da UnB investiga cepas do coronavírus Sars-CoV-2 encontradas no DF

Variantes P.1, P.2 e N9 se mostram cada vez mais presentes no Brasil

Sequenciamento genético é de extrema importância para entender a dinâmica da pandemia - Divulgação/Fundação Oswaldo Cruz

Uma pesquisa da Universidade de Brasília (UnB) está tentando entender melhor as variantes do coronavírus Sars-CoV-2 presentes no Distrito Federal (DF). Para isso, estão sendo feitos sequenciamentos dos genomas de cepas encontradas na capital federal. 

Nas amostras do Distrito Federal, foram identificadas cinco cepas do vírus causador da Covid-19. Entre as já sequenciadas, três chamam atenção de pesquisadores e cientistas pela alta capacidade de replicação, pelo alto poder de transmissão e ainda pela possibilidade de causar quadros mais graves da doença. 

São elas a P.1, oriunda de Manaus e predominante no Distrito Federal atualmente; a P.2, encontrada inicialmente no estado do Rio de Janeiro; e a N9, identificada em São Paulo durante o mês de março. As cepas também já foram identificadas em outros estados do País, com predominância da P1. 

A professora do Departamento de Biologia Celular do Instituto de Ciências Biológicas (CEL/IB) e integrante da equipe que tem sequenciado o vírus na UnB, Anamélia Lorenzetti, explica que a avaliação da diversidade genômica é importante para conhecer quais variantes virais estão circulando no Distrito Federal e poder correlacionar com a epidemiologia da doença.

Segundo o coordenador do Laboratório de Microscopia Eletrônica e Virologia do Instituto de Ciências Biológicas da UnB, Bergmann Ribeiro, a partir do sequenciamento do genoma é possível desenvolver terapias e vacinas específicas para essas novas mutações, ainda podendo prever o nível de transmissão de cada cepa. “O sequenciamento é importante para conhecer o vírus e saber como ele está se adaptando e mudando”, disse Ribeiro. 

Conhecendo o genoma do vírus, também é possível chegar a uma vacina direcionada às variantes. "As plataformas de vacina podem ser modificadas rapidamente e eu consigo fazer vacinas para essas variantes, mesmo que elas mudem, se tornem mais patogênicas”, explicou o pesquisador.

O cientista comparou com a vacina contra o vírus da gripe.  “[Com o sequenciamento do genoma] Eu consigo fazer vacinas específicas para cada variante, e essas vacinas vão ser provavelmente modificadas a cada ano para se adaptar ao vírus. Como o vírus está mudando, você vai produzir novas vacinas, como acontece hoje em dia com o vírus da gripe, no caso H1N1 e outros vírus que surgem todo ano.”

Segundo o pesquisador, todos os anos são feitos sequenciamentos dos genomas desses vírus para saber quais estão circulando e produzir a vacina para combatê-los.

Para este estudo das variantes do coronavírus Sars-CoV-2, outro grupo fundamental é o da informática. Eles desenvolvem programas que ajudam na análise do sequenciamento e na comparação dessas sequências virais com as que já foram foram identificadas e catalogadas no banco de dados que reúne informações de todo o mundo. 

Crise
Ainda em março de 2020, um grupo de professores do Instituto de Ciências Biológicas (IB-UnB), realizou o primeiro sequenciamento do genoma do novo coronavírus no Distrito Federal. A UnB foi a terceira universidade brasileira a realizar o procedimento no País. 

Mas, com a alta no consumo de insumos e a pequena oferta no mercado global, hospitais, laboratórios e centros de pesquisa do mundo inteiro tiveram de refazer seus cálculos para que a produção e os atendimentos aos sistemas de saúde não fossem totalmente paralisados. 

Levando em consideração o aumento do valor de insumos necessários para dar continuidade ao sequenciamento do Sars-Cov-2, os procedimentos foram pausados por um período e retomados somente em janeiro de 2021. 

“Os recursos são essenciais para a realização desta iniciativa, pois os insumos são importados. Para se ter uma ideia, o custo por amostra sequenciada sai entre R$ 600 e R$ 1 mil. Não é barato. Além disso, é necessário ter pessoas especializadas na preparação das amostras e para a realização das análises dos dados gerados no sequenciamento”, ponderou Bergmann Ribeiro. 

Ele apontou ainda a demora na chegada dos insumos no Brasil. “Nossa equipe realizou a compra de materiais ainda no começo de 2020, mas acabou sendo feita a entrega pelos fornecedores apenas no fim do ano, em novembro.”

Pesquisa
De acordo com Bergmann Ribeiro, o Brasil ainda faz poucos sequenciamentos de amostras coletadas em pacientes infectados com o coronavírus. “O Brasil fez, no máximo, cinco mil sequências. No mundo, mais de um milhão de coronavírus já foram sequenciados.”

O pesquisador salientou a importância de o País investir em pesquisa. “O País deveria pensar mais na ciência e investir mais na formação de recursos humanos capazes de responder rapidamente a esses problemas”, ressaltou.

“Nós conhecemos vários vírus novos nas últimas décadas, nós não sabíamos o que era zika vírus em 2015, não sabíamos o que era o chikungunya, surgiu o H1N1, o coronavírus. Esses vírus vão aparecendo ao longo do tempo e precisamos estar preparados. Para isso, tem que ter gente boa, gente formada pelas universidade, e tem que ter pesquisa científica, tem que ter dinheiro pra financiar essas pesquisas”, pontuou.